Sexta-feira, 13 de dezembro de 2019 - 16h59
Pra início de conversa, não existe pecado do lado, debaixo, do Equador!
Mas, por via da dúvida, fui ao Cine Veneza assistir à película O Oitavo Pecado, sucessor numérico dos sete instituídos pelo papa Gregório Magno, nos idos do século 7. O filme foi rodado durante o clima da oficina de atuação e realização cinematográfica, promovida pelo cineasta Anselmo Vasconcellos e pelo diretor de cinema Neto Cavalcante. A produção é da Rondônia Cinematográfica, do jornalista Paulo Andreoli, que assina o roteiro e atua.
Perguntava-me durante o caminho até o cinema: qual será mesmo o pecado de número oito, que está além das atitudes pecaminosas da gula, da avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça? O salão do Zé Beer funcionou como cenário: a câmera inicia seu passeio, revelando os rostos e corpos dos frequentadores de uma festinha no Zé. De repente, quebrando a monotonia das tomadas iniciais, um take inusitado mostra um frequentador lendo Karl Marx no meio daquele piseiro! Óbvio, super inverossimil a cena da figura lendo Karl Marx numa mesa do ambiente Zé Beer. Com tanta merda na MPB, como disse Milton Nascimento, nossos índices educacionais desabando em queda livre e um mar de mediocridade assolando o país, a galera em geral não lê nem gibi quanto mais um filósofo denso como o conceptor do materialismo-dialético. É um sarro, uma burla ou um blefe? Trata-se de vanguardismo, pseudovanguardismo ou besterol cênico mesmo!?
Mas vamos ao conjunto da obra. Enxugando o roteiro, foi mais ou menos assim: câmera passeando, pessoas numa noitada, take nos peitos de uma matrona, depois take no leitor de Karl Marx, câmera passeando, músicos no palco tocando, uma tomada numa figura que estava no mezanino, take no leitor de Karl Marx de novo, um jovem trabalhador xinga o patrão de filho da puta, câmera passeando, o cara do mezanino se joga no chão, o frequentador marxista presta socorro e é cercado pela multidão, que parece escorraçá-lo, e ele ganha a rua, caminhando rumo ao Ipase Novo. Plaquinha de Closed na porta do boteco, e The End.
Claro, o cinema tem linguagem e linguagens, sutilidades e sutilezas, desde que a câmera na mão tenha vindo acompanhada de uma ideia na cabeça - como diria Glauber Rocha. Em O Oitavo Pecado a busca pela identificação dessa ideia é uma tarefa muito nebulosa e sofrível diante de uma narrativa cinematográfica que se quer talvez muito inteligente, mas que no fundo consegue ser apenas hermética e pulverizada em pedaços de sílabas de um pretenso texto cinematográfico inacessível aos simples mortais. Ás vezes genialidade demais atrapalha! Sílabas soltas não formam palavras cinematográficas; sem palavras, ou unidade significativas, não há ideias, sem ideias não há pensamento, e sem estes não há conteúdo acessível a ser debatido.
Esse filme quis dizer o que, afinal? Colocou Marx na fita como uma metáfora de quê? Do vazio de utopias em que o mundo se encontra? Do modelo ideológico bolsonariano que quixotescamente, declarou guerra aos comunistas brasileiros, como se eles estivem em todos os escaninhos da sociedade civil e as nações contemporâneas vivessem numa Nova Guerra Fria? Uma guerra entre os moinhos de ventos e as caraminholas de um Impostor travestido de presidente que vê apenas uma Pirralha onde o Times vê a personalidade do ano! Não há contradição ideológica objetiva no momento. Não há comunismo nem comunistas! Nem em Cuba, nem na China. O que existe de fato é um grande clamor por justiça social! O Capitalismo e o Liberalismo Econômico são as ideologias top do momento, vertente hegemônica em quase todo os quadrantes da terra. O marxismo, no entanto, continua influenciando os mais diversos campos do conhecimento humano, sem dúvida.
Uma câmera azeitada e eloquente, apetrechada dos recursos comunicacionais típicos da arte de Charles Chaplin e Francis Ford Coppola, é capaz de falar mais alto e convincentemente que as catilinárias do tribuno Cícero em ataque frontal às conspirações de Lúcio Sérgio Catilina, na Roma antiga. Mesmo na sofreguidão da síntese apertada dos curtas. Todavia, em que pese a coragem e a positiva decisão de fazer cinema neste solo beradeiro, o que já é por si mesma uma atitude nobre e vitoriosa, digna de aplausos, o discurso artístico da peça O Oitavo Pecado se embrenhou numa mata densa e cheia de igapós e visagens, planos sem água e sem sal, deixando os karipunas e guaporés boquiabertos e com a cabeça abarrotada de interrogações! Infelizmente, não foi um gran finale, do ponto de vista do entendimento! Incorremos, talvez, no Pecado da Falta de Sensibilidade para apreender a quintessência dessa produção!
Sendo assim, chamando Gilberto Gil em socorro à falta de compreensão do filme, diríamos: Os meninos são todos sãos. Deus sabe a minha confissão. Não há o que perdoar! Os pecados são todos meus!
No infortúnio da solidão atroz, o jeito é quedar-se nu com a mão no bolso, olhando para as impassíveis paredes que miram, espiam a gente até de rabo
Um dia da caça, outro dos “povos novos”, de Darcy Ribeiro
Num primeiro voo de radiofusão para além das plagas amazônidas, a Música Popular de Rondônia começou a ser mostrada na Rádio BBmusic, da cidade Búzi
As lágrimas internacionais que choraram a morte do poeta
A democracia voltou a ser ameaçada no país cujo nome é uma homenagem a Símon Bolívar, o Libertador das Américas. Com essa última quartelada, já são
Os homens do poder sempre passarão; o bom humor, passarim!
Apesar do vazio cultural, da perda irreparável para o humanismo e para a criatividade brasileira e do profundo incômodo emocional provocado pela par