Segunda-feira, 18 de abril de 2011 - 13h07
Nós vivemos uma atmosfera análoga a um verso do poeta Augusto dos Anjos: “Acostuma-te à lama que te espera!”. E isso não se trata de uma impressão de alguma mente hipocondríaca que vive a espreitar o mal em todas as coisas. É, infelizmente, um cenário que fazemos de conta que não nos diz respeito. Em não suma: vivemos diuturnamente numa frialdade ímpar em relação ao desrespeito com Porto Velho.
Em outubro de 2008, o aguardado Shopping Center foi inaugurado em Porto Velho. Saímos do beco e do escuro para a glória das luzes. Estávamos definitivamente imbricados no mundo globalizado. E nesse tornado do Progresso nos prometeram “n” compensações sócio-ambientais. Mas tudo ficou no “n” de nada. Até porque muitíssimo pouco também é nada...
Do lado de lá, o néon e o Castelo; do lado de cá, a lama e o descaso. Como num filme hollywoodiano, temos o nosso Duas Caras. Uma face bela e formosa. É a Iracema num colóquio com Adam Smith. Felizes e encantados, aplaudimos o espetáculo que nos cercou. Do outro lado, a menos de um quilômetro da praça central do Teatro da Felicidade, um ser bizarro e monstruoso: a Górgona Medusa. A beleza, nesse caso, transfigurou tudo em pedra. Surge, assim, um ser sem lastro genético: ruas esburacadas e sem esgoto, onde a lama, volumosa e serena, desfila com seus tecidos fétidos e afrontosos à dignidade humana. E parece que nada será feito àquela comunidade. Já estamos em 2011, ou seja, quase 3 anos após a inauguração do shopping. Será que eles fazem parte daquilo que a indiferença transcria com facilidade: a não existência? Porto Velho devemos respeitar todos os nossos habitantes. Os do shopping e os do lado de cá.
Não defendemos que Porto Velho não possa ter seu shopping. Ao contrário, esse é um empreendimento importantíssimo para o crescimento e para a auto-estima desta Cidade. Nós também vamos lá. A senda é outra. Defendemos também, porque é importantíssimo, que as pessoas que moram nas proximidades também sejam beneficiadas pelo Castelo. É um truísmo dizer, mas elas merecem, na verdade, o mesmo tratamento que nós demos aos empreendedores do shopping: respeito.
Já que estamos a falar de respeito. Queremos falar ainda sobre um fato pretérito que passou sem algumas indagações: a queda da passarela. Naquela ocasião, aprendemos duas coisas: é preciso valorizar a Ciência e a Vida.
Nós inventamos de fazer uma passarela na forma mais alheia à Física Clássica. Certa regra diz que qualquer corpo acima do solo, quando não respeita os limites da força gravitacional, tende a abraçar a queda. Infelizmente, olvidamos disso. E assim bradamos contra as leis da macrofísica: “nós não cairemos”. Contudo, caímos. Assim, uma mescla de concreto e metal, como um pacote flácido, despencou sobre um homem. “Atrapalhou o trânsito e a vida”: assim pensaram os incautos. Mas nós não podemos pensar assim. Um existente morreu debaixo daquilo que todos viram e sabiam: não se faz uma passarela daquele jeito (e isso não é olvidar da Física!?). O vão não existia em vão. A obra exigia um cálculo estrutural adequado. Talvez não seja um acidente... Duvidamos, logo existimos.
Acabamos com um ser como se fosse apenas um arquivo sem valor. Acharam tantos não responsáveis que chegou ao cúmulo de o único culpado ser a pessoa que morreu na queda daquela massa. “Ora, por que você estava debaixo da passarela na hora da queda?”: foi o refrão interrogativo que ecoou. Ninguém pediu desculpas. Ninguém disse: “erramos”. Apesar de todo o esforço que fazem para nos convencer do contrário, não nos demoveremos da concepção segundo a qual nada pode valer mais que a vida humana. Pedimos desculpas...
Quanto à famosa Av. 7 de Setembro, verificamos que essa obra se tornou um Paradoxo de Zenão. Há tantas metades para sua conclusão que o Cometa Halley voltará e aquele trajeto não será concluído. Afirmamos, aliás, que a feitura de um percurso de rua para uma cidade não significa entregar uma pista com asfalto e esgoto. É preciso muito mais do que a repetição do mesmo. É necessário calçadas e faixas, placas de sinalização e sinais de trânsito, e, principalmente, levar para algum lugar. Será que querem que voltemos para o beco? Assim, comemoramos com fogos e festa a inauguração de um semáforo e esquecemos que merecemos muito mais. Todas as nossas ruas merecem urbanização de verdade.
Não podemos jamais nos conformar com “o mesmo” que sempre rondou Porto Velho. Há horas que exigem o retorno do diferente. E este é o momento histórico. Porto Velho não merecemos ter duas faces. Precisamos de um rosto. Devemos transitar de cabeça erguida: somos portovelhenses! E não mais pactuar com as nossas mazelas. Porque, nesse caso, estaremos a glorificar o mal, o desrespeito, a improbidade, o descaso. Vivemos em um tempo em que é preciso transigir com os vetores da saúde existencial: amor, respeito, cordialidade, honestidade. Essas palavras podem até quebrar muitos dentes e ferir alguns tímpanos, mas farão forte a nossa empresa.
Um contra(o)tempo: Paul Joseph Goebbels, o segundo na lista hierárquica do nazismo, acreditava, na sua vã e maldita filosofia, que os negros, prostitutas, judeus, ciganos e homossexuais (e etc.) precisavam ser dizimados para que o mundo se purificasse e, assim, se tornasse a sua República macabra. Essa pretensa forma de expressão não pode, com toda a repulsa maniqueísta para esse caso, ser aceita como forma de expressão. Por isso, não concordamos com alguns leitores, rasos de Iluminismo (resumo de contracapa será leitura?), que defendem a anuência incondicional ao que o outro diz. Ou alguém considera que o pseudocomediante Ladainha sem Busto não ressuscitou Goebbels ao manifestar-se de forma grotesca e racista contra o Povo de Rondônia? Será que dizer que os rondonienses somos filhos do Maligno não é um sintoma do racismo: a humilhação? Será que dizer que somos desprezíveis e esquisitos não é a voz da intolerância? E o mais grave: alguns aplaudem o grotesco. A liberdade de opinião não pode permitir a ofensa. O direito de expressão não permite o abuso. Não há outra senda que não seja a intolerância contra toda forma de intolerância. Lévi-Strauss destruiu a ignóbil visão de que há culturas superiores ou mais bonitas. Vivemos o mundo da diferença. Somos todos iguais e a diferença é a prova disso. Então, qualquer um pode pensar o que quiser, mas o dizer está limitado ao respeito ao outro. Não pactuamos com o desrespeito. Acreditamos, isso sim, que o desrespeito é de uma feiúra sem precedentes. E não nos calaremos diante da propaganda nazista: Respeitem Porto Velho e nosso Estado! Resta-nos apenas citar um mote famoso de Delfos: meden agan (nada em demasia)...
Ação Popular: Respeitem Porto Velho! (respeitemportovelho@hotmail.com)
Fonte: Antonio Serpa do Amaral Filho / antonio.serpa@trf1.gov.br
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