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Gente de Opinião

Serpa do Amaral

Recado a Antônio Cândido,


 

Por Antônio Serpa do Amaral Filho

 

O poeta padece de inutilidade, principalmente na moderna sociedade de consumo.

Em calendas de antanho, o poeta era o louco a mirar o mar, o lobo em desvairio tentando devorar a lua, a figura mórbida que ainda conseguia causar espécie ao morrer embriagada de byronismo suicida.

O poeta sempre foi a consciência transbordante no circo real.

Hoje não serve pra nada. Com ele ou sem ele, o mundo continua tal e qual.

No mercado de consumo, nenhum dos produtos ali expostos têm a participação do trabalho do poeta.

Inútil é o ser do poeta para mister da produção dos bens da vida.

Todavia, a voz do poeta - essa sim - é essencial.

Têm nuances aveludadas, às vezes, mas possui lâminas ferinas e pontiagudas também, venenos e zarabatanas que podem ser dirigidas à insensibilidade e  à  prepotência, ao descaso e à insensatez dos que vivem na urbe.

Cantando o Bar do Zizi, a voz do poeta é canto primaz de torneadas figuras lingüísticas, mas encarna principalmente a voz do vento atormentando os omissos, os cínicos e os vilões da história de sua própria gente.

A Voz do Poeta é matinta-pereira saltitando insana pelas ruas, perturbando, com seus murmúrios ilógicos, o sono das consciências que se querem justas e normais, politizadas e progressistas, esquerdistas e humanistas.

Quando todos já tiverem mortos e só restar o hiato triunfal do silêncio, ainda assim caberá ao poeta se pronunciar, para que as ondas sonoras de sua fala sejam almas penadas trotando em desatino pelos corredores da eternidade.

Parabéns, Professor.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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