Quarta-feira, 4 de julho de 2007 - 15h13
Meu caro Editor, a construção das Hidrelétricas é o grande tema do momento. Vimos participar também desse debate. De repente, não mais que de repente, como diria o poeta Vinícius de Morais, o Brasil descobriu o rincão desbravado por Rondon: a Rondônia do mitológico El Dorado da década de 70. Se filho de peixe é peixinho, rebento de El Dorado é Panacéia, filha de Esculápio, deus da Medicina, benzedeira capaz de curar todos os males da humanidade.
A construção das Hidrelétricas do Madeira chama atenção dos setores produtivos brasileiros, do capital internacional, e se coloca diante do PAC do presidente Lula como uma pedra no meio do caminho. Esse empreendimento é rico em possibilidades prós e contras, fundamentalmente, por causa do espantoso desconhecimento sobre a região Norte. Estão querendo brincar de pira com macaco gogó-de-sola. Aproveito para colocar outro problema que é mais importante para Rondônia do que as próprias hidrelétricas, porque tem a ver com a economia local. É a hidrovia que querem construir para atalhar o Pacífico descendo por rios da Bolívia até ao Peru. O projeto transforma as cachoeiras em lago, alternativa que duplica a solução implementada com a ferrovia Madeira-Mamoré há um século, projeto boliviano de saída para o Atlântico contemplado pelo Tratado de Petrópolis, hoje ineficaz. Essa hidrovia diminuirá o caminho para a China em mais de 5.000 km, reduzindo custos de produção. Isto vai estimular o avanço da soja sobre a floresta amazônica, promovendo gigantescos desmatamentos, queimadas e mais aquecimento global. Solução mais rápida e econômica não seria restabelecer a ferrovia Madeira-Mamoré, com menor custo de reconstrução e menos dano ambiental, já que o caminho ainda está aberto, tratando apenas de recuperá-lo sob novo paradigma tecnológico, com maior capacidade de transporte e rapidez? Os outros países vizinhos fariam a pavimentação da saída para o Pacífico e assim estaria solucionado o problema do escoamento das riquezas dirigidas ao abastecimento dos mercados internacionais. Para tanto, o governo federal deve desaquecer sua ânsia em obter a toque de caixa o licenciamento ambiental e fomentar junto ao seu corpo técnico pesquisas capazes de produzir subsídios viabilizadores dessa via alternativa. A propósito do estudo de impacto ambiental, fala-se que o problema dos bagres está na Dourada (na linguagem da mídia do sudeste). Ignorância ou má-fé: são dezenas de bagres gigantes (pirara, jaú, caparari, piraíba, surubim, pintado, filhote), largamente consumidos e comercializados. É precário o estudo-levantamento de Furnas-Hodebrecth que somente estudou dois dos bagres, dentre quase 500 espécies de peixes que freqüentam a cachoeira de Santo Antônio do Madeira. A piracema (fenômeno da desova cíclica dos peixes nas cabeceiras do rio que desce madeira) tem lugar ímpar na macro-cadeia ecológica do universo amazônida. Destruí-la unilateralmente pode ser o começo do maior desastre ambiental brasileiro, em efeito dominó. Institutos de pesquisa estimam que 70 mil famílias serão lançadas à miserabilidade no Estado do Amazonas por conta do sumiço desses bagres por lá. O que é bom para o sudeste não é bom para a Amazônia: poluíram o Tietê e agora o governo anuncia que sua revitalização custará 2 bilhões de reais.
A reativação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré pode ser a terceira via. Falta transparência e cientificismo na venda falaciosa da campanha em prol da construção das usinas. Elas, como se fossem candidatos em plena campanha eleitoral, estão sendo vendidas para o público com requintes de mídia articulada, argumentação tendenciosa, imagem retocada para parecer impecável e uma boa dose de emocionalismo envolvendo os diversos segmentos sociais. O porre da massificação de convicções pró-usinas é de tal monta que, na comunidade rondoniense, as pessoas se sentem constrangidas em se posicionar e argumentar contra o projeto. À maioria parece tão óbvio que as usinas são um negócio da China que chegam a apontá-las como a grande salvação da nação Guaporé. Não fossem instituições sérias como o Ministério Público Federal, Ibama e Justiça Federal, que têm atuado rigidamente na fiscalização das dimensões técnicas e legais do empreendimento, a obra já teria sido iniciada há muito tempo. Darcy Ribeiro, ao fazer uma conferência na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, surpreendeu quando apresentou como tema o óbvio. E à medida que ia discorrendo sobre o óbvio, foi descortinando os engodos e falácias entranhadas nas concepções que tomam ares de verdade, mas, quando despidas de suas contradições, mostram-se perfeitos embustes construídos para ludibriar os incautos, basbaques e estreitos. Mas nem todos estão anestesiados. Há vida inteligente às margens do Madeira. Os Amigos da Madeira-Mamoré poderiam ingressar na arena do debate e, com muito mais propriedade, poderiam dizer se a Ferrovia do Diabo pode, ou não, vir a ser a Terceira Via na resolução desse imbróglio.
Antonio Serpa do Amaral Filho - (escritor rondoniense)
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