Sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014 - 13h01
Na queda de braço entre o poder público e os brincantes, judicializaram o carnaval Guaporé. Aquele que já foi o Maior Carnaval da Região Norte hoje é um humilde e acuado objeto de análise em autos processuais. Era só o que faltava. Só mesmo uma administração medíocre poderia deixar que, em Porto Velho, a realização da maior festa do povo brasileiro fosse levada à interpretação jurídica pela magistratura. O judiciário rondoniense é sem dúvida um dos mais honrados e produtivos do Brasil, mas não é difícil conjecturar que os magistrados, em regra, sabem tanto de carnaval quanto a Sabrina Sato conhece de sociologia. E se essa magistratura for tecnicista, positivista e kelseniana, aí então a situação tornar-se ainda mais dramática e provavelmente danosa para os brincantes. Não é o Estado que justifica a nação. É a nação que concebe o Estado, para que este atue na segurança jurídica e na garantia legal da difusão dos valores culturais da sociedade nacional. Colocar a festa no escaninho especulativo da legalidade ou ilegalidade é o mesmo que fazer paçoca com sarapatel, mungunzá, bossa-nova e o samba do crioulo doido. O ambiente forense não é o melhor espaço para se discutir se o carnaval deve ou não ser realizado. O fórum mais indicado é mesmo a mesa redonda da sociedade civil organizada, com a óbvia e necessária participação dos representantes do Estado.
A Banda do Vai Quem Quer, os blocos, as escolas de samba e o povo em geral – supõe-se – devem resistir, inclusive com a desobediência civil, se for preciso. O que não dá é pra engolir um sapo cururu dessa magnitude sem espernear. A falta de criatividade da gestão Mauro Nacif e a má administração desse surpreendente imbróglio contextual não é um fenômeno pontual. Faz parte do pacto da mediocridade que se instalou na máquina administrativa desde a sentada de Nacif na cadeira de prefeito da capital.
Ante o desafio de encontrar uma solução melhor concebida, o poder público municipal, a exemplo da fraqueza demonstrada diante de outras clássicas e manjadas demandas urbanas, como o asfaltamento de ruas, término da obra dos viadutos, melhoria na educação, saúde, transporte e segurança pública, preferiu optar pela solução mais desinteligente e cômoda, apelando inclusive para expedientes inconstitucionais como o xucro decreto-lei engessador da folia momesca em Porto Velho.
É sabido de todos unanimemente que a gestão Mauro Nacif, há mais de um ano no comando do executivo municipal, tem se mostrado pífia e inoperante. Com mais essa trapalhada, ele outorga a si mesmo e aos seus assessores o diploma de bobos da corte do Rei Momo da pobreza administrativa. Nem no pior bloco de sujo essa turma seria bem aceita. Estão demonstrando, com as honrosas exceções de sempre, que não são bons administradores do interesse público. No máximo são burocratas sem nenhuma vocação ou qualificação para o exercício das funções institucionais de que estão investidos.
Carnaval é carnaval, enchente é enchente. Guardam correlação os dois fenômenos, mas não são necessariamente excludentes entre si, pelas condições objetivas e infra- estruturais disponíveis. Num contexto histórico em que o nível das águas do rio Madeira atinge o pico de 19 metros e produz 2 mil famílias de desabrigados dá pra fazer, sim, da alegria o elemento estimulador da solidariedade e motivador do entretenimento, bastando para tanto que a administração pública se coloque na posição de vetor e fomentador, catalisador e coordenador de uma ação político-administrativa socialmente participativa e consequente.
Segundo o que os dados de coleta de donativos estão a demonstrar, o povo de Porto Velho adora ser solidário, ao mesmo tempo em que manifesta um impulso natural para a celebração da folia momesca. É da capital de Rondônia a única agremiação carnavalesca do norte brasileiro a ter direito a dois minutos de fama no Jornal Nacional – a Banda do Vai Quem Quer – durante a cobertura nacional do carnaval tupiniquim. Como sugeriu o jornalista Sérgio Ramos, Mauro Nacif está perdendo a oportunidade de ser o grande General da Banda do maior Carnaval da Solidariedade, jamais colocado na passarela do samba em toda história deste Estado.
Proibiram o carnaval porque é mais fácil reprimir os anseios do povo do que reinventar a folia. Judicializar a problemática sai mais conta que buscar o consenso e a mobilização social, assim como ser insensível e burocrático é mais fácil que mostrar-se inventivo e respeitador para com as tradições do povo desta cidade. Estamos precisando de um estadista, não de um chefe de polícia.
Façam dez perguntas ao prefeito sobre a história e características do nosso carnaval. Nove ele não saberá responder e para uma delas tentará construir resposta mal ajambrada. Não basta sermos ufânicos “destemidos pioneiros”. Precisamos ser destemidos fazedores da ópera popular e libertários, destemidos brincantes e solidários, destemidos filantropos e produtores do júbilo carnavalesco, sem sermos hipócritas, trágicos e indiferentes. O povo é o grande juiz do carnaval. A alegria é nosso confete e serpentina. E a solidariedade, nosso melhor samba-enredo. O resto é descompasso de quem até pra falar é semitonado e averso à quizomba de Zé Pereira. O Triângulo Não Morreu! Nosso carnaval também não!
Siça, em honra à memória de seu pai, o Manelão, dê ao povo o que é do povo e ponha o bloco na rua: aos desabrigados da cheia do Madeira ofereça com sobriedade os quase mil quilos de donativos arrecadados pela Banda do Vai Quem Quer e, aos foliões, regale essa liberdade que nos abraça forte, posto que nas plagas do norte todos vão à rua cantando amor!!!
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