Quarta-feira, 24 de julho de 2013 - 19h11
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
É isso mesmo: o governo Confúcio Moura está sendo chamado de vira-lata. É o que diz, com muita picardia, uma faixa exposta, nesta quarta-feira, dia 24, pelo chamado Movimento Reforma Cultural defronte ao prédio da Secretaria de Planejamento do Estado, onde ocorreu a terceira jornada de protesto e ocupação de prédio público pelos artistas.
Antes de receber os representantes do movimento, o secretário George Alessandro Gonçalves Bragaexigiu a retirada da faixa, por entender ser ofensiva ao seu chefe, o governador. Os artistas retiraram os dizeres e o secretário da Seplan sentou pra conversar e receber a reivindicação da categoria: a criação de uma secretaria própria para o setor, posto que a Secel é hoje um órgão que abrange cultura, esporte e lazer. O movimento reivindica mais: quer transparência orçamentária, elaboração de políticas públicas para a cultura e projetos de parceria entre educação e cultura, reclamando ainda condições dignas de trabalho para os artistas e produtores culturais no Estado de Rondônia.
Vinícius de Moraes já dizia que o melhor amigo do homem é o uísque, o cachorro engarrafado. O melhor amigo do pobre é o vira-lata, o cachorro bem dotado, possuidor de qualidades invejadas pelo Pastor-alemão, Hottweiler e Pooodle de madame; ele é o herói sem caráter dos descamisados, favelados e desesperançados, a verdadeira raça canina tupiniquim – brasilis caninus. Vivendo na rua e tendo de matar um leão por dia, o vira-lata é um herói nacional, símbolo da tenacidade da gente brasileira, metáfora explicita de um povo que teima sobreviver no Haiti tropical. Nos seringais da Amazônia ninguém caça melhor que um vira-lata, que intimida a onça e a sucuri, denuncia o buraco de tatu, encurrala a paca e pega cutia no dente. Sem falar do macaco gogó de sola, a quem, com um simples latido, bota pra correr. Tudo isso sem treinamento e sem apelo à teoria behaviorista radical do estímulo-resposta, apenas por alegria e voluntarismo do pândego animal. Pense num cão apetrechado de predicativos!
Portanto, por esse ângulo, chamar a administração Confúcio Moura de Vira-lata é emprestar dignidade a quem, do ponto de vista cultural, não tem e atribuir qualidades a quem, do ponto de vista político, não merece. Fosse mesmo vira-lata, esse governo não padeceria de tanta falta de criatividade, de determinação e pragmatismo. Fosse mesmo vira a administração Confúcio Moura, ela se identificaria plenamente com os anseios da comunidade artística, respeitaria a cultura dos rondonienses e rondonianos, dotando suas agências de gente mais competente que a secretária Eluane Martins, colocando em prática políticas públicas em favor daqueles que produzem, nas suas várias vertentes, a arte - oxigênio mantenedor da espiritualidade criadora e da identidade de um povo.
Cachorrada mesmo é não prestigiar o nosso emergente carnaval, a Flor do Maracujá, as artes plásticas e visuais, o teatro, a música, a dança, a literatura, o cinema e tantas outras manifestações culturais que vivem à míngua como cachorro pirento, à pachorra de um governo que nem vira-lata é. Vira-lata tem tutano e talento, cara e coragem, garra e criatividade para ir à luta. Se muito for, o governo Confúcio é uma barata tonta, pegajosa e lenta, acéfala, sem brilho e sem cor, descendo de bubuia em piroga maltrapilha no rio da história.
Enquanto os cães domesticados da burocracia ladram empertigados de pudores para com seu chefe, os verdadeiros vira-latas de nobre estirpe, os produtores culturais de Porto Velho, peregrinam de porta em porta clamando por subsídios para a cultura, pedindo transparência e projetos de fomentação para o setor. Os artistas se equivocaram. O governo Confúcio não é vira-lata, é a própria lata - de lixo.
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