Quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013 - 18h08
Por Antônio Serpa do Amaral Filho
O jornalista e carnavalesco Sílvio Santos, o Zekatraca, disse em sua coluna que não entendeu a reportagem em crônica “Primeira Batalha de Confetes do Mercado Cultural: só não brincou quem já morreu”. Acusou-nos de ficar em cima do muro.
Explico: o Primeiro Baile de Confetes do Mercado Cultural, Zekatraca, foi um improviso administrativo da Fundação Cultural Iaripuna, movido à garra e aos ideais de Sandro Barcelar & Gioconda, entusiastas da idéia de se fazer ali uma grande folia de momo.
Se você não entendeu a matéria ou foi por que não quis, ou por miopia analítica, posto que a inicio dizendo que “apesar de todas as imperfeições e improvisos, a Primeira Batalha de Confetes do Mercado Cultural, localizado no centro histórico de nossa urbe, temperou risonha e coloridamente o sabor do carnaval de Porto Velho”. E as imperfeições foram várias: a banda foi montada na última hora, o andamento do único surdo de marcação caía de vez em quando, o Bainha cantou super rouco, os banheiros estavam imundos (pois já vinham imundos desde a administração do Tatá), não tinha papel higiênico, o tema principal, Centenário da Igreja de Santo Antônio, foi muito mal anunciado e explorado junto ao público; não tinha papel toalha nos banheiros, a decoração foi a meia boca, não havia intérprete bastante para render os que estavam no palco se matando para manter a fuzarca a bom termo, a ventilação era uma droga, o calor, descomunal e a aparelhagem de som mostrou-se pequena para o tamanho que ficou a batalha de confetes. Em fim: foram várias as pisadas na bola da Fundação Cultural Iaripuna, nesse início de administração Mauro Nacif. Mas entre mortos e feridos, o baile salvou a todos e encheu a cidade de alegria, num carnaval pífio e abaixo do medíocre, no que diz respeito ao falecimento do desfile das escolas de samba de Porto Velho.
Agora, para fazer justiça aos organizadores e executores do projeto, também é preciso dizer que a dupla Pirarublues mandou bem para caramba, a banda nas suas limitações também mandou bem, o repertório descortinado era de primeira qualidade (com destaque para as tradicionais e autênticas marchinhas), a animação mostrou-se impecável, a presença maciça do público carimbou a rubrica de sucesso da festa, a tranqüilidade imperou do início ao fim da festa, os portovelhenses, saudosistas ou não, compareceram em massa, us dy phora também; enfim, a festa exibiu também uma série de qualidades que não podem ser ignoradas por um cronista cultural atento.
O que não dá é só pra meter o pau ou só elogiar uma produção que, na sua essência, foi indiscutivelmente experimental. Se Maniqueu, filósofo fundador da concepção maniqueísta, dualística análise de mundo fundada na visão dicotômica de Bem e Mal, fosse um cronista do nosso tempo, de certo faria uma apologia à Primeira Batalha de Confetes do Mercado Cultural, ou achincalharia sem dó nem piedade o baile promovido naquele estabelecimento cultural. Mas qualquer macaco velho que não mete a cumbuca sabe que há muito mais coisa entre o certo e o errado do que possa sonhar a vã filosofia de boteco do senso-comum. É preciso ter responsabilidade jornalística de explorar esse grande vazio entre um pólo e outro e relatar para o público os bens e o valor das descobertas feitas – duela a quiem duela, como diria Fernando impeachment Collor. Quem fica em cima do muro é gato medroso com medo de cachorro bravo. Cronista de verdade não tem medo nem dos que ladram nem da caravana que passa ao largo invocando os faraós embalsamados! Maniqueísmo barato não condiz com jornalismo de verdade, meu caro Zekatraca!
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