Terça-feira, 7 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

A necessidade do Político



Cumprimentar as pessoas com a mão direita não é um juízo, hábito ou convenção. É um costume. Mas, por quê? Juízos são declarações de sabedoria e, hoje, conhecimento científico: “Deve-se lavar as mãos com álccol gel”.

Seria uma espécie de dever de cidadania: “não contaminar ninguém com seus germes”. E um direito de cidadania: vacinação pública e gratuita. E, se contaminado, contar com um bom sistema público de saúde.

Também há juízos filosóficos: "Há dois dias sobre os quais nada se pode fazer - ontem e amanhã" (Dalai Lama); "o rio corre sem parar, mesmo que tenha a opressão de suas margens" (Brecht).

Contudo, aí cabem reparos: o presente massificado não permite liberdade; os rios morrem assoreados ou contidos em barragens de lama, como em Mariana/MG, ou sob o superfaturamento como em Belo Monte/PA.

Não é hábito: porque se fosse cada um faria com a mão que bem entendesse, como segurar garfo e faca com a mão de preferência. Não é convenção: como segurar a faca com a mão direita ou tirar o chapéu em respeito a alguém.

Basicamente, porque a maioria das etiquetas e quetais são bobeiras elitistas; depois, porque hoje só se usa boné e não há educação suficiente. Pois bem, o cumprimento é um costume e vem do Oriente.

Tanto quanto a proibição do incesto é um costume de sabedoria e não mera imposição moralista, como se pensa no senso comum. Não há povo que aprove o incesto, ao menos conhecido pela Antropologia.

A proibição do incesto, todavia, deve-se à degeneração da espécie; com o tempo, associou-se empiricamente o surgimento de más formações congênitas aos casos incestuosos. Como não se conheciam as implacáveis leis da genética, criou-se o purgatório terreno para essas famílias.

Cumprimentar com a mão direita é um costume porque se usava a mão esquerda para a higiene pessoal e assim só se tocaria nos outros com a direita: livre de impurezas. É óbvio que não havia sabão e nem água abundante.

No presente, em que pese ainda se morrer de câncer de pênis - por falta absoluta de higiene -, há muito mais recursos. Em todo caso, é um costume que mantenho mesmo com a consciência de sua datação. Assim como o da higiene toda vez que vou ao banheiro.

Outra relação que parece – só parece – ser um costume é o “fazer política”. Parece aos olhos do senso comum que a política é necessária porque as sociedades são complexas e os problemas muito complicados.

Mas, só parece que a política seja um instituto para fins tão específicos. Na verdade, a política corresponde à necessidade mais premente da Humanidade. Tem a mesma importância, para se tornar humano, que a necessidade de se respirar.

Ou seja, o Político é um instituto de humanização (natural ou forçada) que se sobrepõe a todo e qualquer direito, inclusive o direito à vida: este sim, um direito natural trazido pelo florescimento do capitalismo. Viver é mais lucrativo.

O Político suplanta o direito básico, fundamental, pela simples razão de que sem política não há direito algum, nem vida inteligente. Afinal, se é a inteligência superior que nos diferencia das outras espécies de animais, logo, sem política, não há o humano em sua essência.

Para o grego antigo, o contrário do Político (politikós) era o idiotes (egocentrismo). Na modernidade – sociedade de massas –, tornaram-se “cidadãos do sofá” e indiferentes. Os poucos ativistas digladiam-se com todo tipo de idiotia.

O preconceito ideológico – de corte fascista –, como quem atemoriza a criança dizendo que “o homem do saco vai te levar”, ainda nos diz que quem acorda de mau humor, é porque acordou com o pé esquerdo: como se pudesse tirar um pé, antes de acordar. Ou, para dar sorte, recomenda-se entrar com o pé direito. E assim as políticas de esquerda são diabolizadas pelo capital.

Por fim, se ainda queremos outra relação possível está no fato de que o direito está para a justiça, assim como a política para o Político. Ora favorecem, ora enfraquecem e distanciam. Hoje, estamos em pleno retrocesso – de tudo.

Vinício Carrilho Martinez (Dr.)

Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoTerça-feira, 7 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Terça-feira, 7 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)