Segunda-feira, 13 de junho de 2016 - 14h25
Cumprimentar as pessoas com a mão direita não é um juízo, hábito ou convenção. É um costume. Mas, por quê? Juízos são declarações de sabedoria e, hoje, conhecimento científico: “Deve-se lavar as mãos com álccol gel”.
Seria uma espécie de dever de cidadania: “não contaminar ninguém com seus germes”. E um direito de cidadania: vacinação pública e gratuita. E, se contaminado, contar com um bom sistema público de saúde.
Também há juízos filosóficos: "Há dois dias sobre os quais nada se pode fazer - ontem e amanhã" (Dalai Lama); "o rio corre sem parar, mesmo que tenha a opressão de suas margens" (Brecht).
Contudo, aí cabem reparos: o presente massificado não permite liberdade; os rios morrem assoreados ou contidos em barragens de lama, como em Mariana/MG, ou sob o superfaturamento como em Belo Monte/PA.
Não é hábito: porque se fosse cada um faria com a mão que bem entendesse, como segurar garfo e faca com a mão de preferência. Não é convenção: como segurar a faca com a mão direita ou tirar o chapéu em respeito a alguém.
Basicamente, porque a maioria das etiquetas e quetais são bobeiras elitistas; depois, porque hoje só se usa boné e não há educação suficiente. Pois bem, o cumprimento é um costume e vem do Oriente.
Tanto quanto a proibição do incesto é um costume de sabedoria e não mera imposição moralista, como se pensa no senso comum. Não há povo que aprove o incesto, ao menos conhecido pela Antropologia.
A proibição do incesto, todavia, deve-se à degeneração da espécie; com o tempo, associou-se empiricamente o surgimento de más formações congênitas aos casos incestuosos. Como não se conheciam as implacáveis leis da genética, criou-se o purgatório terreno para essas famílias.
Cumprimentar com a mão direita é um costume porque se usava a mão esquerda para a higiene pessoal e assim só se tocaria nos outros com a direita: livre de impurezas. É óbvio que não havia sabão e nem água abundante.
No presente, em que pese ainda se morrer de câncer de pênis - por falta absoluta de higiene -, há muito mais recursos. Em todo caso, é um costume que mantenho mesmo com a consciência de sua datação. Assim como o da higiene toda vez que vou ao banheiro.
Outra relação que parece – só parece – ser um costume é o “fazer política”. Parece aos olhos do senso comum que a política é necessária porque as sociedades são complexas e os problemas muito complicados.
Mas, só parece que a política seja um instituto para fins tão específicos. Na verdade, a política corresponde à necessidade mais premente da Humanidade. Tem a mesma importância, para se tornar humano, que a necessidade de se respirar.
Ou seja, o Político é um instituto de humanização (natural ou forçada) que se sobrepõe a todo e qualquer direito, inclusive o direito à vida: este sim, um direito natural trazido pelo florescimento do capitalismo. Viver é mais lucrativo.
O Político suplanta o direito básico, fundamental, pela simples razão de que sem política não há direito algum, nem vida inteligente. Afinal, se é a inteligência superior que nos diferencia das outras espécies de animais, logo, sem política, não há o humano em sua essência.
Para o grego antigo, o contrário do Político (politikós) era o idiotes (egocentrismo). Na modernidade – sociedade de massas –, tornaram-se “cidadãos do sofá” e indiferentes. Os poucos ativistas digladiam-se com todo tipo de idiotia.
O preconceito ideológico – de corte fascista –, como quem atemoriza a criança dizendo que “o homem do saco vai te levar”, ainda nos diz que quem acorda de mau humor, é porque acordou com o pé esquerdo: como se pudesse tirar um pé, antes de acordar. Ou, para dar sorte, recomenda-se entrar com o pé direito. E assim as políticas de esquerda são diabolizadas pelo capital.
Por fim, se ainda queremos outra relação possível está no fato de que o direito está para a justiça, assim como a política para o Político. Ora favorecem, ora enfraquecem e distanciam. Hoje, estamos em pleno retrocesso – de tudo.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de