Domingo, 23 de fevereiro de 2014 - 12h09
Os Black Blocs têm servido de inspiração para todo tipo de análise política, da esquerda à direita, para o bem e para o mal. Para alguns, são os jovens assustando os velhos. Este movimento anarquista procura provocar o Estado (e seus aparatos de repressão social, como a polícia) e atingir a propriedade privada (agências bancárias e outros estabelecimentos) porque representa o centro nervoso, ideológico, do poderio econômico da sociedade capitalista.
A imaginação política do movimento anarquista procura demonstrar que o Estado não é capaz de prestar segurança aos cidadãos; pois, ao efetuarem os ataques a lojas e departamentos nos movimentos de protesto, causando sempre muita confusão, raramente são contidos pelo Poder Político. Então, se o Estado e suas forças de contenção não são suficientes para administrar os tumultos, fica a sensação de impotência pública em prestar segurança ao cidadão comum. Como dizem os especialistas, esvai-se a sensação de segurança.
Além disso, mostram-se dotados de uma inteligência social inegável, ao convocar milhares de jovens em seus uniformes pretos, como ninjas. Porém, a superação realmente veio com as bombas caseiras que acionaram sobretudo em São Paulo. O efeito é semelhante ao provocado pelos chamados Coquetéis Molotov, provocando um efeito incendiário, pirotécnico. O que muda, radicalmente, é a fórmula dos explosivos – a fórmula é composta de açúcar, paçoca de amendoim, algodão e outras substâncias caseiras que formam uma pasta inflamável.
Sem dúvida alguma, há muita criatividade e conhecimento (técnico) associados; afinal, quem imaginaria que açúcar e paçoca poderiam explodir? Alguém, inegável conhecedor de química, chegou a este resultado. Talvez tenha sido por acaso, procurando uma coisa diferente, chegou-se a isto. Como denominam os cientistas, trata-se de aplicar a serendipidade. Um conhecimento aberto e aplicado, sem ranços, na busca da inventividade, e com a criatividade que se espera para ver o “novo”. Neste caso, a serendipidade encontrou uma bomba doce.
Fiquei com a certeza de que esses jovens deveriam estar na escola e na universidade, sem precisar matar ou se ferir em protestos, e realmente sendo criativos e inventivos de soluções que tornassem o Brasil um país de verdade. Nossa diferença para eles é que estamos em casa e eles vão para a rua. A pergunta correta é: “o que vamos fazer para que os Black Blcs não sejam necessários?”.
Os jovens Black Blocs esbravejam e lutam contra a corrupção pública no país. Até agora, ao longo da República, nada ou quase-nada foi feito. Contudo, o que cada um de nós, no fundo da consciência, tem feito?
A vida comum do homem médio revela que a corrupção é endêmica; diria que há uma pandemia de moral negativa. Assim como é uma genética imoral que nos apossou como cultura do mal comum. Tudo isso está correto, mas será que os Black Blocs não colam nas provas?
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ. Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais e Doutor pela Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências e em Direito. Jornalista.
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