Quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013 - 20h58
Para mim, escrever é uma compulsão diária. Conheço pessoas que têm compulsão para contar dinheiro ou pelo sexo. Para eles, se não contam, literalmente, as notas que ganharam naquele dia, naquela semana, dão um jeito de falar para quem está por perto quanto se tornaram mais ricos. Poderiam participar de um reality meia boca desses que nós vemos na TV. Aliás, poderia bem ser no estilo de Mulheres Ricas (e tolas) que passa na Band.
Enfim, minha compulsão é para escrever. Todo dia, ou quase, acabo escrevendo uma crônica para o blog ou um relatório ou peça técnica do trabalho. O fato é que todo dia faço comunicação com o mundo por meio da escrita. Há pessoas que precisam conversar muito, ver muita gente, agitar, estar em todo lugar, para se satisfazer, para se comunicar. Minha comunicação é pela escrita. Aliás, esta crônica começou como um e-mail enviado por mim e, quando já o finalizava, senti que falava como se estivesse contando uma história – e estava mesmo contando a história de quando e como foi meu começo nas crônicas. Comecei o e-mail dizendo a alguns alunos que a redação deles havia melhorado, desde que iniciaram as leituras (o que nos prova que a melhor forma de aprender a escrever é ler muito).
Lembro-me que para escrever a primeira crônica, quando consegui um espaço fixo no jornal, há 20 anos (a idade de muitos deles), foi um terror. Fiquei uma semana para escrever 45 linhas, porque era uma crônica, o que nunca tinha escrito, e não resenha, artigo de livro etc. Foi uma fixação fazer aquele texto - depois, comprei vários livros de crônicas de autores consagrados no jornalismo: um que passei a eles, do antropólogo Roberto Damatta, é um exemplo. A coisa foi melhorando com o tempo. Chegou um momento em que conseguia escrever uma crônica em uma hora. Guardo todas em casa. Uma vez, com um pouco de confiança, escrevi sobre a falta de assunto. Literalmente, produzi a crônica lamentando não ter tido uma ideia melhor para levar ao leitor. O editor era meu amigo, publicou e não falou nada. Mas as reações não me encorajaram a repetir a experiência. É claro que não foi uma criancice, foi algo pensado; é óbvio que não tinha falta de assunto, queria mostrar que escrever é um ato de liberdade.
O e-mail que enviei aos alunos também me lembrou que, quando guardamos o texto para ler depois, sempre fazemos uma revisão muito grande. Porque a distância que damos no tempo leva-nos a ver os erros. Para fazer a crítica (seja de nós mesmo ou a outras pessoas) é preciso abstrair, sair do foco do problema ou da relação analisada. Com o seu texto é a mesma coisa, ele precisa descansar, “dormir”, como se dizia antigamente. É o procedimento que também se conhece como o Método da Gaveta:
Com o tempo, você passa a gostar de escrever, porque o pensamento começa a fluir com mais naturalidade. Veja bem, não é uma relação de velocidade, escrever em uma, duas horas, mas sim produzir com naturalidade. Como se estivesse conversando com alguém. Quando escrever, imagine que está conversando com um amigo que não conhece aquele tema, pense que seu interlocutor é seu pai e mãe. Provavelmente, nunca serão especialistas nos temas da sua pesquisa, mas são pessoas inteligentes e querem se informar. Com sua ajuda, em termos de uma escrita mais leve, logo verá que já ganhou um seguidor, um leitor. Mesmo que seja em casa. O que importa é que você vai atiçar a curiosidade de outra pessoa e, em algum momento, vai te perguntar o que de novo você andou escrevendo. Quem sabe você estimula um novo escritor.
Vejamos bem a diferença de outra escolha, a de guardar tudo para si, como segredo, seja por medo, seja por egoísmo. É como se você aplicasse o Método do Maracujá: “O conhecimento estocado, apesar de ter sido necessária a reclusão em algum momento da construção do conhecimento, perde frescor e se resseca rapidamente, restando sem utilidade prática, em curto espaço de tempo". Lembro-me que tive aulas com professores que levavam fichas de leitura amarelas - é verdade, amarelecidas pelo tempo; não era a cor natural das folhas.
Em todo caso, no começo, entregava meus escritos para minha mãe e minha ex-mulher: a crítica mais dura que já tive, porque ela era jornalista e me dizia o que estou dizendo a vocês. Também me dizia para não esquecer do lide: quem, como, quando, onde, o que? Enfim, com naturalidade, você começa escrevendo um e-mail despretensioso e acaba produzindo uma crônica - foi esse exatamente o caso. Falei a eles que iria arrumar o texto e publicar.
(ps: Sempre que posso tento ter uma aula grátis de português).
DAMATTA, Roberto. Crônicas da vida e da morte. Rio de Janeiro : Rocco, 2009.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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