Sexta-feira, 19 de dezembro de 2014 - 21h31
Alguém em juízo mediano acredita que faremos frente ao crime organizado, com uma arma em casa? Ou que, armando o povo, faremos revolta social? Então, vamos misturar luta de classes com guerra civil - tendo o lumpen do PCC pela proa? Estão de brincadeira. Nesse tiroteio, o mais certo é um tiro no pé. Falta conceito ao Brasil: conceito como conhecimento e, depois, como elevação desse conceito na cultura. Fora disso, é bala de festim.
Só se entende a defesa da derrubada do Estatuto do Desarmamento como (d)efeito do patrocínio direto da indústria da morte. Aliás, esta é bem representada no Congresso Nacional pela bancada da bala, seguindo os Bolsonaros da vida. A resposta nao está na cópia acéfala, boçal do que não presta nos EUA: “um voto, uma arma”.
Outros desavisados alegam que na Suíça, após o cumprimento do serviço militar obrigatório, os(as) jovens guardam o armamento, pistola e fuzil, em casa. Mas, será que na terra de Piaget eles se matam aos 50 mil por ano? Nossa educação é a mesma que recebem os filhos de Piaget? Nossa história social não é a de Piaget; por aqui, só conhecemos Pinochet.
A resposta está em elevar o padrão civilizatório e não em rebaixá-lo. Para formar opinião não basta informação, é preciso pensar. Precisamos nos armar sim, mas é de educação bem feita. Tem muito militante, para todos os gostos, repartindo-se e copiando os lobbies de grande interesse. Contudo, o que mais precisamos é nos desarmar da ignorância. Precisamos de Piaget e não de Pinochet.
O general chileno armou um Estado fratricida, mutilou e matou milhares, sem contar o estrago na sobrevivente cultura. Não é desse tipo de raciocínio que necessitamos. Não precisamos de mais mortes; precisamos reinventar meios de vida. Se bem que, no nosso caso, trata-se de inventar os tais meios, porque basta uma olhadela pela história da colonização, da escravidão – e o legado da depreciação da vida pública, de desprezo desumano e/ou de violência institucional – para verificar que o povo sempre foi violentado.
Como bem disse Cícero, o romano Cícero, “não preciso ser do povo; preciso ser para o povo”. Neste caso, o povo precisa de segurança, trabalho, educação, saúde e lazer. Inclusive, para que não se alimente ainda mais a engrenagem de espoliação social e que gera o lumpen: os soldados do crime organizado civil. O povo necessita das armas da educação, para que a munição não seja a venda do seu voto.
Sem dignidade, o Estado de Direito continuará a ser o armamento dos mais fortes. Sem educação de qualidade, elegemos patrulheiros ou assassinos, porque é um tiro no escuro. Argumento de qualidade é sempre de bom senso. O legislador que escolhemos não tem que ser raivoso, ameaçando outra parlamentar de estupro. O bom direito não é aquele produzido por/para pistoleiros de aluguel do voto.
O bom direito – aquele que se prolonga na história e tem eficácia jurídica e eficiência social – só é possível com racionalidade e não raivosidade. Do contrário, o tiro pode/deve sair pela culatra. Por essas e por outras, o alemão instruído não entende como possa haver uma bala perdida. Perdida? Como assim? Quem perdeu, quem achou?
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de