Segunda-feira, 12 de agosto de 2013 - 21h13
Esta semana me encomendaram um artigo, deveria descrever apenas o que de bom ocorresse no mundo ou no Brasil (ou na cidade). Como se vê, demorei um pouco para pegar o jeitão da coisa, até porque a relação entre o Bem e o Mal obedece sempre ao gosto do freguês.
Em todo caso, penso que poder escrever, sem ser censurado, com liberdade para expressar meus pensamentos e sentimentos, é o que de melhor posso encontrar.
Sem esta liberdade, certamente estaria morto. Estaria morto como professor, mas muito mais grave que isso, estaria morto como pessoa. A sabedoria popular diz que “quem não chora, não mama”. Chacrinha alertava que “quem não se comunica, se trumbica”.
Ainda pode-se dizer que aqui posso me expressar porque tive a oportunidade de estudar, porque me foram ofertadas condições especiais, especialíssimas, para ser quem sou. Concordo com isso, é claro, mas é fato que a educação sem a liberdade é mero adestramento.
A educação de verdade é aquela que nos permite ir de encontro ao conteúdo ofertado. Não se trata de questionar a ciência e o conhecimento, mas sim de compreender racionalmente os próprios cânones da atividade científica. Diante disso, por exemplo, pode-se investigar até mesmo outro ramo ou espécie (ou caminho para a ciência).
A dúvida metódica lançada no Renascimento de Descartes afirma que sem o pensar racional a ciência não caminha. Hoje, sabemos que sem pensar com criticidade e criatividade não há ciência. Sem massa crítica, repete-se o passado e, assim, não avança o conhecimento. É preciso superar o empiriocriticismo; hoje, na roupagem do pragmatismo, é a busca do resultado a todo custo. A ciência avança com investigação, dúvida e crítica, inclusive a crítica dirigida aos cientistas que não se prestam à verdade, mas sim aos interesses não-confessáveis.
O que há em comum entre pensamentos tão diversos como entre Cristo, Sócrates, Galileu, Giordano Bruno, Karl Marx e tantos outros, é o fato de terem se voltado contra a chamada Ciência Régia. O pensamento só avança quando se questiona duramente a ciência autorizada pelo Estado e pelo status da época, como nos diz o filósofo Giles Deleuze. Enfim, a mesma regra que vale para as ciências exatas vale para as Humanidades e é por isso que sem liberdade eu não estaria aqui, escrevendo sobre isso ou sobre qualquer outro assunto.
Sem a liberdade mínima de “livre pensamento”, em outro exemplo, não falaria contra a servidão voluntária – esta acomodação à vida não-liberta de que falava La Boétie; estaria resignado à 1ª servidão. A servidão voluntária é imposta pela falta de ânimo, a falta de vontade de ser livre para questionar os que não são ou que querem restringir a liberdade dos demais. Para combater a desnutrição da vida pública, a tirania, não é preciso combater, bastaria não ceder: “Não é necessário tirar-lhe nada, basta que ninguém lhe dê coisa alguma”. Este é o hino à liberdade de La Boétie (1533-1592). Como escrevi outro dia, sem liberdade não há esperança.
Ao contrário do que pensa o senso comum, a esperança não é a última que morre, mas sim a liberdade. Quando sucumbe a liberdade não há o porquê, o que querer, o desejar. Apesar de todas as ameaças que nos abatem todos os dias, no mundo todo, celebro a liberdade de poder me expressar sem constrangimento. Ainda que sob a violação da privacidade, gravíssima, o direito à liberdade garantiu que você leitor chegasse até aqui. A ironia nefasta, contudo, é a impossibilidade de o homem comum ler o que escrevi e, talvez ainda pior, não reunir condições de entender quase nada. Por isso, a liberdade conclama à dignidade.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais
Doutor pela Universidade de São Paulo
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