Domingo, 29 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

As pequenas letras


As pequenas letras  - Gente de Opinião

Ontem debatemos um pouco sobre os efeitos da pandemia na escola pública, especialmente no ensino fundamental. 

Basicamente, e quase que de forma generalizada pelo país, Estados e municípios não fizeram nada. 

As pequenas exceções apenas confirmam essa regra. 

Em 2020, jovens e crianças não tiveram nem acesso à merenda.

Em 2021 entraram em sala de aula, mas só recentemente - e sem vacinação das crianças. 

São praticamente dois anos perdidos na escolaridade de crianças carentes ou pobres. Algumas, muitas, vale lembrar, passando muita fome; pois, tinham na escola um refúgio para sua alimentação. 

Muitas vezes, na escola recebiam a única refeição do dia. Isso até 2019. Em 2020, como vimos, não houve assistência alimentar. 

O Brasil de 2020-2021, sobretudo, para crianças e jovens pobres e necessitados, é igual a Vidas Secas.

Graciliano Ramos, na verdade, permanece nos ensinando que o país sempre foi Casa Grande & Senzala.

Qual é o impacto disso?

É gigantesco. Crianças famélicas e famintas, com pouca ou nenhuma assistência, ainda receberam a pena de dois anos de desprovimento em suas vidas. 

Onde isso se reflete?

Imediatamente, no dia seguinte à fome. Em todos os dias. 

Como é que se estuda e aprende com fome?

E como é que se alfabetiza sem escola ou suporte familiar?

Onde veremos o maior impacto, pensando no país?

No dia seguinte à fome, em todos os dias. E mais ainda, daqui 5, 10 anos, quando esses jovens e crianças chegarem ao mercado de trabalho ou à universidade. 

Por enquanto a universidade não é só para alguns (ricos), como quer o Ministério da Educação. 

Digo quando chegarem ao mercado de trabalho tendo em conta os que "ainda" não estão submetidos às jornadas de trabalho, absolutamente, incompatíveis com sua condição e idade. 

Na prática, nosso Fascismo Resiliente é marcado pelas permanentes investidas contra a mínima noção de civilização. 

Assim, "revogar" o Estatuto da Criança e do Adolescente, para quem já subtraiu a Constituição Federal de 1988, não é nada. 

Aliás, na mentalidade fascista, essa revogação múltipla de direitos, liberdades e garantias é uma obrigação.

A pandemia, portanto, agudizou enormemente esse "dever de ser fascista". 

O conjunto de pandemia e de pandemônio fascista destruiu a vida e os sonhos de nossos jovens e crianças. 

E como são as crianças e os jovens sem Utopia?

Hoje, sinceramente, não consigo mais pensar nisso, não consigo descrever como é uma criança sem sonhos. 

Certamente, uma criança sem sonhos está arruinada, muito pior do que um adulto sem esperanças.

Quando poderemos pensar em mitigar esses efeitos?

Com muita sorte (Cornucópia) e empenho virtuoso, talvez, daqui uns 20 anos. 

É triste. 

É a realidade. 

É nossa Distopia. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 29 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Domingo, 29 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)