Domingo, 27 de março de 2016 - 10h39
Bem ligado
Bem treinado
Para o bem e para o mal, e apesar de tudo, penso que fui bem treinado: gosto de ser bem recebido, bem tratado, bem alimentado, bem educado, bem informado, bem politizado, bem socialista, bem republicano. E tenho muita solidariedade por quem não é bem alimentado ou é bem destratado.
É claro: não gosto de quem é bem tosco, bem grosseiro, bem alienado, bem racista, bem golpista, bem egoísta. Também por isso detesto quem é bem sovina, bem mala, bem indiferente a todos os que são bem desprezados.
Por exclusão ou afinidade, sendo amigo ou inimigo do povo, terá minha atenção e amizade (ou não). A ação/reação de querer aproximar-se ou se se sentir repelido não será minha.
Na verdade, tudo depende de como se sentir “gente de bem com a verdade”, sem preconceito de cor, sexo, idade, condição física, poder aquisitivo, cultura formalizada pelo status quo e tantos outros.
Nesse jogo e que, em essência, também é o fluxo da luta política e da luta de classes, não nos resta meio posicionamento, tipo bem em cima do muro. Ou se é fascista ou se é bem democrata. Não se conhece na história da Humanidade um terceiro caminho. Ou se está de um lado, com o povo, ou do outro: contra o povo.
Como é que se poderia pensar no equilíbrio entre fazer o bem e o mal aos outros, à República? Como alguém pode ser democrata de dia e ditador de noite, ou vice-versa? Sou popular de manhã (ou será populista?) e, mais à tarde, um elitista que só reconhece sua própria carteirinha nesse clube de total exclusão social?
Sou bem legal com meu dinheiro e, extremamente, bem asqueroso com o erário? Sim. Por isso, não é possível ser bem ativo para mim de noite, às escuras, especialmente longe dos holofotes da coisa pública, e um pouco atento para os outros no amanhecer.
Há que se ver, nesse caso, falta de ética, lógica ou, bem ao gosto dos oportunistas, um senso bem particular de definir o mundo para si. Ou se é bem ético no clarear do dia e no apagar das luzes, de noite, ou não se é bem uma coisa, nem outra.
Ou se é bem amigo do povo ou se é seu inimigo, declaradamente ou não. Não importa muito o que se diz, mas o que se faz. Quando se faz bem feito, em cuidados com a coisa pública, não sobra muito espaço para os que são bem maus.
Para o bem da verdade, as mentiras públicas, as chicanas, as falcatruas, a crueldade dos “homens da política” devem ser bem enterradas: na cadeia, no esquecimento político, nas contas bem acertadas com a justiça e com o povo.
Também é preciso que essas coisas sejam bem esclarecidas, para o bem de todos, e, para tanto, é preciso que sejam bem desenterradas da alma, do corpo, das mentes, da cultura.
As pessoas de bem não são, necessariamente, aquelas que rezam pelos que estão (de) mal. As pessoas de bem são aquelas que lutam para desenterrar, bem no fundo, a cultura da torpeza que vive nelas mesmas.
As pessoas de bem são as que lutam contra todas as formas de cinismo. Não há meio termo entre o bem e o mal que se faz à República. Ou, para ser bem claro, não se faz o mal ao povo, querendo seu bem. Não dá para ficar bem no meio da hipocrisia.
Independentemente dos que estão de bem com você (ou não), para o bem da República, é preciso ser bem radical, bem maniqueísta – e hoje –, bem revolucionário contra todas as situações bem escusas.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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