Sábado, 23 de fevereiro de 2013 - 00h19
O senador Aécio Neves do PSDB de Minas Gerais, em clima de campanha presidencial tardia, para 2014, acusa o PT – partido da presidente Dilma – de só ter um projeto de poder. Este projeto de poder, em sua versão peessedebista, desconsidera fatos e feitos próprios de um governo que governasse para o Brasil. Acusa, por fim, o PT de só olhar o PT, especialmente quando tem de escolher entre o PT e o Brasil. De certo modo está certo no que diz. Pois, nenhum partido pode aprisionar o governo de um país. O exemplo mais abusivo vem do Partido Revolucionário Institucional, no México, que ficou no poder por 70 anos ininterruptos. Na verdade, no entra e sai, o PRI acabou de voltar ao poder. Exatamente, no momento em que o México enfrenta uma de suas piores crises de legitimidade política, com o avanço inquestionável do crime organizado por todos os tecidos das instituições públicas. Nenhum partido tem o direito de “tomar o poder pelo poder”, como se o único objetivo da política fosse o próprio poder.
Porém, no caso brasileiro, o PT teria aprendido com o próprio PSDB e com a lógica natural da política partidária no Brasil. Primeiro, foi o PSDB, na voz de Sérgio Mota, ex-tesoureiro e braço direito de Mário Covas, governador tucano de São Paulo, quem declarou ter o projeto de governar o Brasil por vinte anos: quando FHC foi eleito presidente, o projeto de poder do PSDB era de estender seu governo por 20 anos. Como se sabe, com a reeleição, conseguiram apenas mais quatro anos de poder. O projeto de poder do PSDB encolheu de 20 para oito anos.
Aécio está errado, portanto, em se julgar arauto da democracia, uma vez que o PSDB não é um partido diferente dos demais. O PSDB anseia o poder como todos e aí vale a regra de Maquiavel: “os fins justificam os meios”. Se bem que, neste quesito, o PT é quem inventa dossiês de aloprados em ano eleitoral. Em todo caso, Aécio está ainda mais errado ao se esconder atrás da incapacidade do seu partido em ser oposição. Alguns de seus ideólogos dizem que o partido faz uma oposição sem ganhar as ruas, sem mobilizar as massas, o que revelaria que se trata de uma “oposição de nível, qualificada, educada, refinada”.
Concordo e discordo, pois não há dúvida de que se trata de um partido com quadros de intelectuais da melhor estirpe. Discordo porque se seus discursos tecnicistas não podem ser traduzidos em voto político de oposição é porque o próprio discurso está com problemas. Onde estará a realidade política? Por que sublime razão o discurso político de oposição deveria estar longe da consciência e da convicção do eleitor médio? É claro que Aécio não irá dizer que o Brasil não evoca substância oposicionista, como fizera o próprio PT contra FHC, mas esta é a realidade. Esse negócio de oposição qualificada, refinada é balela. O PSDB tinha medo de falar mal de Lula, como ainda tem medo de bater de frente com Dilma, porque há imensos níveis de aprovação popular ao governo petista.
Não está totalmente correto, mas pode-se dizer, para facilitar a didática política, que o PT é um partido de massas (ainda que tenha muitos quadros) e o PSDB é um partido de quadros. Neste binômio da Teoria Política clássica, entre partido de massas e partido de quadros, há muitos exemplos: o Partido da Ação italiano, em reação ao fascismo. Também o Partido Comunista Brasileiro, com a direção de Luís Carlos Prestes e o PCdoB, sob a direção de João Amazonas. Mas, aqui cabem alguns breves reparos: apesar das fortes lideranças político-ideológicas, os partidos comunistas no Brasil não foram partidos de massas. É claro que todo partido precisa de apego popular, mas um partido de massas movimenta milhões de eleitores e de seguidores, o que não ocorreu no caso comunista. Também me lembrei do Partido da Ação italiano porque Norberto Bobbio, talvez o maior cientista político liberal do século XX, foi um de seus militantes. De inclinação fascista em boa parte da juventude acadêmica, Bobbio faleceu como liberal jusnaturalista, adepto do Iluminismo e de suas aplicações no direito.
O PSDB é profundo conhecedor da Teoria Política clássica, a começar de FHC (Titular de Ciência Política pela USP), mas demorou muito, depois agiu com letargia política, para encarar o desafio de afrontar um partido que se firmou na opinião pública como aquele que governa para os pobres. Independentemente dos escândalos éticos, com o Mensalão à frente, as massas estão com o PT porque sabem, na “sabedoria política popular”, que as elites não olham para o povo. Com esta análise e este discurso de magoados, o PSDB não irá ao poder. Aliás, em breve, os tucanos deverão perder a coroa de oposição principal do PT (o DEM, na base do PSDB, já desapareceu). Este fato ainda implica no encolhimento dos tucanos para terceira, quarta força política; descontados o próprio PT e o PMDB, o maior partido, mas da base de apoio ao governo petista, o PSDB deverá ceder espaço para o PSB e para o novíssimo Rede Sustentável (de Marina Silva). Bem por fora, ainda há o Partido Verde, de Fernando Gabeira. Tanto o PSB quanto Marina Silva deverão disputar a eleição de 2014 e um desses chegará ao segundo turno, com o PT de Dilma e de Lula. Até lá, qual será e onde andará a crítica política?
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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