Domingo, 20 de janeiro de 2013 - 10h55
Ainda bem que apenas uma vez por ano vou ao dentista e ao ortopedista, quando fico uma hora em cada um. Num desses dias pensava como a vida comum é marcada por burocracias e como isto se reflete nas escolhas profissionais. Toda semana, às vezes, muitas vezes, quase todo dia, temos compromissos com bancos, pagamentos, escritórios. O dia a dia é feito de balcões de tipos variados, no atacado e no varejo. Nesses encontros maçantes nos deparamos com advogados, contadores, carimbadores, escriturários. Agora, tente lembrar quando foi a última vez que se encontrou e pode conversar com um poeta, um músico, um escritor, um romancista, um filósofo dos bons, um artista de verdade. Na ausência desses, gente boa em extinção, temos de freqüentar reuniões chatas e que na maioria das vezes só servem para marcar a próxima batelada de muito falar e nada fazer. Ao invés de um papo legal com os amigos, temos de ir a aulas também burocráticas, para preencher o calendário de 200 dias letivos. E o pior, quando tentamos alguma criatividade, os próprios alunos reclamam porque é preciso completar o conteúdo. Desde quando a educação é precisa? A educação deveria ser lúdica, mas ninguém aprendeu a dar aulas assim. O que é infalível é que de manhã, nem bem você acorda e já vê aquele monte de lembretes amarelos, azuis, vermelhos, todos berrantes para não desviar o olhar, gritando que você tem encontros e ligações e e-mails para responder. Alguns ainda têm páginas nas redes sociais para alimentar todo santo dia, mas ainda bem que dessa eu escapei – tenho página, mas não entro nunca. Aliás, notável exemplo do desperdício, da coisa inócua, inútil, mais sem sentido, são essas minhas páginas virtuais. A modernidade tem mesmo muitas modernices infanto-juvenis; o que também é estranho, porque as tecnologias, a Internet na ponta, foram essenciais ao surgimento da Multidão combativa do Império, nos anos 1990. Em todo caso, hoje em dia, esta é a velha/nova rotina do trabalho, da escola, da própria família (pergunta-se e se responde as mesmas questões sobre novelas requentadas, filmes repetecos e jogos mornos de futebol há décadas, um século). A falibilidade da vida moderna é a coisa mais chata que já inventaram, depois do taylorismo (a mania de regular as ações e a vida das pessoas), mas nem por isso o domingo precisa ser assim. Quem pode, procure um passeio bacana, uma leitura alegre, uma conversa amiga. Quem não pode, paciência, pense que amanhã a rotina pode ser menor. Digo menor, porque rotina melhor não existe.
Vinício Carrilho Martinez – Doutor pela USP
Professor Adjunto II do Departamento de Ciências Jurídicas
Universidade Federal de Rondônia - UFRO
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