Sexta-feira, 13 de março de 2015 - 19h58
Descobri hoje que tem uma coisa muito, mas muito pior do que as saúvas criadas pelo poder verde-amarelo. E não é a febre amarela. Também não é a ignorância, porque todos nós ignoramos milhões de coisas e de sentidos. E nem a burrice, porque ao crivo do gênio poucos de nós passaria em seu teste preliminar. Refiro-me ao senso comum. Mas é aquele senso comum com orgulho de ser! Aquele que não se imagina sem ser, que não pode ser de outro modo. Como se diz: brasileiríssimo, puro, da gema. Nunca pensei que veria algo assim em minha vida. Com orgulho de ser, mas ser o quê? Mas, vi. E foi hoje. Com todas as letras e propriedades que o ar da burrice solene pode proclamar. Se fosse para soletrar já não conseguiria. Disse-me a pessoa que o mosquito da dengue é caseiro, ou seja, não passa de uma casa pra outra; ainda falou que o mosquito só pica do joelho pra baixo – só faz vôos rasantes; que basta passar repelente dia sim, dia não. Com intervalos bem combinados, o mosquito só voltaria nos dias pares. Tem dias pares? Se combinar com o mosquito, creio que sim. A essa altura, pergunto-me: o que é mais rasante, a teimosia em não querer aprender nada de útil na vida inteira ou é o Poder Público que permite uma epidemia que leva a óbito um por dia. Por aqui – e não é senso comum – diz-se que, entrou no hospital com dengue, não sai com vida. E o pior, sai com registro de óbito sem anotação da causa da morte (o poder de exceção proibiu). Já vi gente com orgulho de ser muita coisa: orgulho de ser professor (é inconsciência); orgulho gay; orgulho de ser do contra; orgulho de ser orgulhoso; orgulho de ser brasileiro. E tantos outras. Contudo, orgulho de ser senso comum é a primeira vez. Ainda que tenha muito que ver com o orgulho nacional, o senso comum nunca me pareceu tão incomum. Digo incomum porque não é comum ouvir por aí que qualquer mosquito possa ser bem comportado. Fiquei com inveja do dono dessa casa. Mosquitos que vem três vezes por semana, na hora combinada, para que você economize metade do frasco de repelente. No dia em que o mosquito for, você passa. Na folga dele, você não usa. Afinal, os mosquitos precisam descansar de tantos vôos com horas marcadas. Não é demais? Um mosquito assim tem muito mais neurônios do que a pulga amestrada do circo de horrores. Horror mesmo é ouvir esse papo sem poder dizer nada. Porque, além de tudo, se falar, você é chato. Tudo bem, com mosquitos tão legais, devo ser bem chato mesmo. Justo eu? Só queria ser comediante. Quem sabe tenho chance de ser palhaço.
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de