Domingo, 29 de março de 2020 - 15h36
Tenho lido, você também, que após a pandemia do coronavírus o mundo será diferente. E temos lido tanto prognósticos científicos quanto poesias ou falas humanizadas por alguma religiosidade, e outros pensamentos desse tipo, que estimulam o futuro da Humanidade. De fato, nada será como no passado e isso por duas razões simples: o passado já era, é “uma roupa velha” e não servirá amanhã, agora se nesse futuro-presente estaremos mais crescidos, humanizados, isso é outra história; porque, deixando o passado, procurando pelo presente – ainda que não tenhamos como analisar adequadamente o presente –, vale lembrar que “o futuro aos homens pertence, em seu fazer-política e história”. Ou seja, não temos a menor condição, com alguma seriedade científica, de prognosticar como será daqui a 15 dias, chegando no auge da pandemia (além do colapso do SUS), quanto mais ao final de seis meses – ou mais. Aliás, nem posso dizer quem será o presidente do Executivo, porque também não sei (sem dúvidas) quem exerce o poder de fato, hoje. O outro exemplo, acerca desse mundo diferente que haveremos de ter, obrigatoriamente, e por certo, ao findar a crise respiratória mais letal que a Humanidade já viu, cabe numa pergunta conceitual, mas não retórica: O Estado de Exceção, na fase atual, opera-se com o fechamento de fronteiras, isolamento domiciliar ou com as Leis Marciais, o Estado de Emergência (onde há) ou a possível decretação de Estado de Sítio, no Brasil? Em qualquer dos casos, me parece até este momento, a pior pandemia é a que nos afastou da Política, da Polis, do exercício da cidadania como fabricação política da sociabilidade. E, para cessar esse estoque de maldades, os remédios públicos não parecem assim tão à disposição do povo. Arrisco-me a dizer que a vacina contra o COVID-19 virá antes de sabermos o que é a mínima democracia capaz de fazer retroagir o fascismo nacional. (Há que se lembrar que em 1918 não havia vacinas, então, a morbidade passou de 100 milhões de pessoas, ou seja, o fato de “não ter vacina”, em 1918, afasta as tentativas de comparação em termos de taxa de letalidade com os dias atuais – e ainda que por essa época já se gestasse o fascismo europeu).
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de