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Vinício Carrilho

Diário Oficial da Caverna


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O bolsonarismo é o patógeno do fascismo nacional em 2020, assim como reverbera o passado de nosso híbrido capitalismo-escravocrata. O bolsonarismo é portador e porta-voz do “maquiavelismo”, e que, no pior sentido da palavra, corresponde à deturpação da política, como sua mais inerente e irredutível forma de corrupção: a própria corrupção do conceito de Política (Polis). Numa frase, o bolsonarismo dá forma estrutural (institucional) ao senso comum: “os fins justificam os meios”. Porém, ainda que tudo isto esteja correto, a citar apenas a forma como o Executivo trata publicamente a pandemia do novo coronavírus, é imperioso reafirmar que o bolsonarismo corresponde ao oposto preconizado por Maquiavel e sua virtù – ou como “virtus”, que corresponde à verdadeira natureza da política e do poder: a potência política que dá origem à verdade do poder expresso. Isto é, das duas uma: ou se edificam grandes organizações políticas (Nações ou Estados, por exemplo) ou Nero não se aguenta em sua própria loucura. Hamlet, de Shakespeare, nos indicou esta metáfora do poder. Em outras palavras, não se governa com mentiras, deturpações e depravações, porque o realismo político, a verdade dos fatos presentes na correlação de forças, cobra uma dívida muito alta: não se tapa o sol com a peneira. Na política, que é a expressão de toda a vida, a virtude irá tomar o lugar da força, o vigor há de prevalecer sobre o furor: “vertú contra furore”. Esta é a máxima de Maquiavel, n’O Príncipe. Pode haver espaço para o engodo e a sevícia, mas não há durabilidade, simplesmente porque não há credibilidade alguma. É isto que se apreende com o “choro” de Bolsonaro, afinal, todo “messias” se encontra com sua (má)sorte, simplesmente porque os dados também foram rolados ao seu encontro. E o que mais se encontra na política? Diria Maquiavel, encontra-se a realidade dos fatos que fazem o governante sem virtudes ir às lágrimas. Não há, definitivamente, nada mais distante do “homem de virtù”, o senhor da política, o timoneiro, do que um messias que chora o desastre que praticou na arte de governar. Mais uma vez, aprendamos com Maquiavel, a política não perdoa os pífios com sua ínfima e traiçoeira depravação política. Como em Hamlet, o louco só é esperto o bastante para deter o poder quando, efetivamente, não é louco. Do contrário, o louco vagueia sozinho.

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