Quarta-feira, 15 de abril de 2020 - 07h46
O que veremos a seguir, pode-se denominar de resgate da Sociologia Clássica do Brasil: ranhuras, gramaturas e espessuras da dominação.
Lembrei, hoje, no 30º dia de isolamento consciente, de duas situações broxantes: um cara que me disse, em sala de aula, tempos atrás, que havia um “método mais metódico” – foi letal para a amizade, porque professor de universidade pública não pode, jamais, dizer uma asneira dessas. E não vou explicar porque é óbvio e broxante demais. A outra não se refere à pergunta que me formularam, propriamente dita, mas às circunstâncias que recobrem a resposta. No caso, liga-se à formação social desse país, que é bizarro em tudo. Vamos lá: por que alguns homens deixam a unha do dedinho crescer, bem grande? Um asco para as mulheres e para nós também. Perfeito. Esse hábito, que logo se converteu em prática social – por isso perdura até hoje –, advém da escravidão. Os trabalhadores, normalmente homens, proletários e famintos livres e pobres, mas desligados do trabalho manual do “eito escravista”, da roça vigiada pelo capitão do mato, deixavam a unha do dedinho crescer. E por que? Exatamente para demonstrar que, apesar de muito pobres, não eram limitados ao trabalho mais embrutecido. Exemplo notável: você já viu um cobrador de ônibus – isso já seria raro – e ainda mais com a unha do dedinho crescida? Pois isto ocorre não para facilitar a contagem do dinheiro. Simplesmente, a unha crescida serve para demonstrar que qualquer trabalho manual, além daquele subordinado em suas tipificações sociais, a partir das classes sociais, o indivíduo se negará a realizar. Ou seja, o cobrador de ônibus jamais trocará um pneu furado do ônibus porque, obviamente, irá quebrar a unha do dedinho. É a Casa Grande fazendo reflexos perversos nas mãos e nas mentes dos dominados, nas Senzalas que viraram favelas. Mais ou menos como os escravos que carregavam o estojo dos médicos, metros à frente, na Grécia antiga – ou o que vemos com as babás que acompanham as passeatas dos “patrões”, mas um metro atrasadas e de avental branco. Esse é o seu país, seja bem vindo(a). Agora, atualizando a questão da unha crescida do dedinho, quantos desses perfilam alegremente nas fileiras do bolsonarismo e do fascismo que lhe segue, ao serem perseguidos, porém, também complacentes, no jogo duro do empobrecimento cultural? Sabe qual a importância de se ensinar sociologia? Olhe bem para as suas unhas, e pense bem antes de responder. Sacou? Coisas simples relevam situações muito complexas. Se ainda tem dúvidas, procure um professor de sociologia.
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de