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Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Direita X Esquerda



O debate direita/esquerda – e vice-versa – é relativamente infrutífero. Com certeza é bem desgastado. Contudo, ainda vale uns toques no meu Vaio. Primeiro, vamos definir minimamente cada um deles: na versão ligth, direita implica na conservação do status quo e, para tanto, sugere medidas antipopulares para regular o país. Esquerda na versão constitucional, quer dizer, branda, tem em mente assegurar os direitos fundamentais sociais: distribuição de renda, efetivação da República.

Algumas partes da direita propõem, entre outras, medidas de endurecimento do Código Penal, a exemplo do rebaixamento da maioridade penal e da privatização do sistema prisional. Ao invés da ressocialização, consentida no atual Direito Penal, sonha-se com o dinheiro penal. Essa direita leve, se é que se pode dizer assim, defende o liberalismo econômico; menos na política (a não ser o presidencialismo de ocasião) e na cultura (querem “moralizar a TV”, por exemplo). Via de regra, são aqueles pautados pela grande mídia, repercutindo os escândalos de corrupção do poder central. Em comum, são contra o controle social da mídia. Tomemos o caso da mídia interiorana: sempre foi pautada e custeada pelo dinheiro público das prefeituras – quando não atuam como laranjas. Primeiro, fala-se contra, para plantar o medo; depois, acertam-se os valores para silenciar as críticas. Praticam o que se conhece como imprensa marrom, e que é pautada pelo departamento financeiro. É uma imprensa falangista, de mais difícil controle social do que a grande mídia.

Ao passo que alguns setores da esquerda propõem o socialismo, bem como recusam a chamada “criminalização das relações sociais”; pois, sabem que o Direito (dinheiro) Penal só mudará a realidade do preso – para pior. A esquerda socialista quer reformar o sistema econômico e político, mas teme as massas e não se fala mais em “socialização dos meios de produção”. Vários desses setores acabam engajados no poder central, com bolsas e financiamentos para os movimentos sociais que representam. Muitos estão calados. Porém, ainda defendem medidas mais progressistas. Podem ter uma imprensa alternativa, mais investigativa – se bem que encolhem o facho de luz quando se aproxima dos “seus” casos.

Em nome da moralidade, aquela direita prefere abstrair o debate sobre suas práticas quando está no poder. Em nome do realismo que enfrenta no poder, a esquerda situacionista flerta com o capital. Em comum, buscam soluções dentro do sistema. Não há grande mídia de esquerda, mas há setores e veículos democráticos e abertos (como o site Gente de Opinião que aceita publicar o artigo).

Na outra extremidade está a extrema-direita que quer a pena de morte para todo preso pobre que ela julgue irrecuperável. Portanto, defende a pena de morte (como se ela não estivesse em vigor) e mais liberdade para seus negócios: se for preciso, invoca o retorno da Ditadura Militar. A extrema-esquerda quer quebrar o sistema, como em 1917 na Rússia. Na incapacidade disso, abandona a luta pelo direito. Dentro do sistema não se luta pra valer. Em comum, há promessas de grandes mudanças: uma reacionária, com volta ao passado (status quo ante); a outra, revolucionária, com uma saída para o futuro – e ainda que se invoque o passado. Outro aspecto compartilhado é o fato de que nenhuma das duas perspectivas seja considerável na atualidade.

No meio, como sempre, está o povo: camponeses, trabalhadores, donas-de-casa, caboclos, sem-terra, sem-teto, desempregados ou com subemprego, estudantes pobres, trabalhadores com poucos direitos, professores e servidores públicos sem expectativa, jornalistas de virtudes, pequenos comerciantes e micro-empresários. E muitos outros. Para esses, como explicar que o jornalismo consentido – especialmente no interior do Estado mais rico do país – mentiu o tempo todo? Como explicar que a bravata denuncista era apenas para achacar ainda mais o Poder Público?

Logo, a conclusão é de que não dá para discutir com seriedade a imprensa (salvo as exceções apontadas), seja nas mídias sociais, seja nos sites sem opinião. Porque, como ensinava o Jornalismo, o artigo do dono não é opinatório pessoal, é “Editorial” – e representa judicialmente o veículo de comunicação. Outra verificação possível diz que as mídias sociais podem/devem repercutir temas importantes, além de fotos, propaganda e bobagens consumistas e personalistas. Por que não impor controle social sobre a imprensa falangista, seja a grande mídia ou os pequenos rebotalhos que praticam a recuperação do capital espúrio ou do erário?

                                 

Vinício Carrilho Martinez

Professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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