Terça-feira, 7 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Doentes por riqueza


 

Li na mídia oficial que Pelé está leiloando cacarecos pessoais, na Internet. Se não há necessidade financeira – salvo engano -, por que faria isso? Pela mesma razão que leva o sujeito mais rico do planeta a querer duplicar sua incomensurável fortuna.

Com a exceção dos que matam um leão (e uma hiena) por dia, “ganhar dinheiro” é um vício; aliás, vício possessivo equiparado à dependência de drogas muito pesadas: alucinógenas, esquizóides.

Pelé, como outros milhões, age pela mesma razão (capitalista) que move os rentistas, acumuladores de dinheiro no colchão ou em bancos. Seu motor diário não é o trabalho e ainda que muitos capitalistas trabalhem até extenuar e se gabem de gerar riqueza por 14, 16 horas diárias.

Aqui vai outro engano, porque só gerem a própria riqueza. Quem gera riqueza social é o trabalhador, com a mais-valia contabilizada no final do dia. Portanto, o que faz todo capitalista é gerir a riqueza, não gerar.

Não fosse assim, haveria uma trava individual, sem necessariamente uma coerção estatal (impostos progressivos, por exemplo), acionada moralmente pelos gestores do capital. Portanto, não se confundam os verbos: gerar x gerir.

Se o curso fosse outro, pragmaticamente falando, 62 pessoas não teriam o equivalente à riqueza de metade da população mundial. Isso mesmo, sessenta e duas pessoas, não famílias, têm o mesmo que a metade da população mais pobre do mundo!!

Diante desse fato/fator capitalista, metade da população perece de fome, doenças, sede, enquanto vigora a doentia ética acumulativa. Vício incontrolável, para a neurociência, que debilita o humano e desaba a natureza.

O homem mais rico do mundo – Bill Gates ou Carlos Sim –, com fortuna avaliada em mais de 80 bilhões de dólares, almeja conquistar o primeiro trilhão de dólares. Há sempre um recorde de acúmulo a ser batido.

Para cada milionário ou bilionário reconhecidos pelo Estado existem outros 10 ou 15 com fontes não idôneas. Mas, a razão que os move é a mesma: explorar, expropriar o trabalho, a força de trabalho.

Vale insistir, se seguissem outra regra ética – humana, de fato, e não a do capital –, não teriam chegado a tanto.  Alguns ainda criam empresas e negócios filantrópicos: ou para aliviar a consciência ou para diminuir a arrogância perante a opinião pública.

Entre nós, além dos negócios oficializados e dos gestores do crime organizado internacional, ainda há os negócios da “pilantropia”. Nesse bolo ainda restam dois tipos: os que usam da filantropia para simplesmente abater impostos e os que “lavam” o dinheiro que já nasceu sujo.

Inúmeras igrejas estão alojadas no segundo tipo, e sem esquecer que as tais igrejas financiam com dinheiro e votos a maior bancada do Congresso Nacional. Que, por sua vez, legisla em causa própria: isentando as igrejas de pagar impostos.

O que todos também têm em comum são os instrumentos de que fazem uso na constante gestão desse capital opressivo. Além do poder que manipulam, o meio mais conhecido é a Contabilidade por Partida Dobrada.

Isto é, o livro caixa registra entrada e saída de dinheiro: o resultado é lucro ou prejuízo. Simples assim. Tão simples quanto o nome oficial do livro de registros: Livro Razão. Pois bem, a razão do capitalista está demarcada na página de lucros.

Pois fim, retornando ao contexto global, é muito difícil acreditar que um por cento da população tenha mais méritos – de acordo com o discurso vazio da meritocracia – do que três bilhões de pessoas. Seria leviano, cínico, muito desumano, supor que três bilhões de pessoas não têm sequer o mérito de sobreviver. Então, a quem deveria recair a responsabilidade, o custo da gestão social e ambiental?

Vinício Carrilho Martinez (Dr.)

Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoTerça-feira, 7 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Terça-feira, 7 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)