Quinta-feira, 30 de janeiro de 2014 - 21h08
Fala-se muito contra a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil e estou nessa lista, agora com um argumento simples, mas revelador do que se poderia fazer com o dinheiro público investido, caso fosse efetivamente alocado em setores estratégicos para o país.
Se os 32 bilhões já gastos fossem destinados somente à saúde, quantos brasileiros estariam vivos? Gastando tudo em ferrovias, qual a porcentagem da produção nacional (percentual do PIB) que não mais se perderia? Quantas vidas seriam salvas com a construção de ferrovias, tirando milhares de caminhões de circulação? Outro fundo nacional de segurança pública, com esse dinheiro, poderia combater melhor a violência social?
Fazendo uma conta simples, cheguei à verificação de que é possível realizar uma revolução na educação brasileira e que, revolucionada, a educação construiria o Brasil dos sonhos de infância. A Coreia do Sul fez isso, mas porque se tornaram “fanáticos pela educação”, segundo jornais daquele país de 10 anos atrás.
Longe de qualquer brilhantismo, meu raciocínio foi o seguinte:
1. A primeira providência seria adotar a federalização do ensino fundamental, como propõe o Senador Cristóvão Buarque (os municípios ficariam apenas com o ensino básico: creches e escolinhas).
2. Fixei, simbolicamente, o salário do professor de ensino fundamental federal em cinco mil reais (bem mais do que o dobro do que recebe qualquer professor municipal atualmente).
3. A calculadora do meu celular não comporta 32 bilhões (por baixo, o dinheiro já gasto nas obras da Copa/2014), com tantos zeros, então, reduzi a operação a 32 milhões.
4. Multipliquei cinco mil por doze meses (ao ano).
5. Tornei a multiplicar por dez (pensava em garantir salários por dez anos aos professores do Brasil alfabetizado, civilizado).
6. Depois, dividi 32 milhões pelo resultado preliminar.
7. Por fim, multipliquei por mil (transformando milhões em bilhões).
8. O resultado foi algo em torno de 53.333.
Isso mesmo, os 32 bilhões gastos até agora em estádios como os que temos nos Estados de Manaus e de Cuiabá – que sequer têm times de futebol com a mínima relevância futebolística – garantiriam o pagamento de salários, por dez anos seguidos, a 53.333 mil professores. Porém, se você adverte que teria de recolher a previdência desses trabalhadores, então, pensemos que seriam “apenas” 25 mil professores contratados por dez anos, para ensinar seus filhos e filhas. Se errei em algo na conta me desculpem; em todo caso, com a conta mais ou menos certa, dá para perceber o tamanho da fantasia que construímos em torno do futebol e, muito pior do que isso, dá para medir a distância que nos separa de um país decente.
Ainda precisamos lembrar que os 32 bilhões seriam aplicados ao longo de 10 anos, sem necessariamente se constituir num passivo para o erário. Ao contrário de hoje, não seria uma sangria nos cofres públicos, mas sim um investimento em dignidade. Hodiernamente, ao revés, passada a Copa/2014 e que nem chegará a um mês, não ficará legado algum, porque nem mesmo os aeroportos ficaram prontos. Além de que já foram privatizados (com outro nome fantasia, é claro, mas que na prática quer dizer o mesmo).
Hoje, para a educação e para a saúde, temos a promessa dos lucros do Pré-Sal, e que talvez nem saia do lugar – em parte, na maior das ironias, porque não há tecnologia e nem profissionais qualificados (aqueles que seriam formados pela grana da Copa/2014). Portanto, é apenas mais uma promessa para um futuro incerto e não-sabido. Você bem sabe o porquê de não se investir em educação – porque sem analfabetos (estritos e funcionais) a política ganha cidadãos e perde tarefeiros.
Sem contar a infâmia e a desinteligência que se vê no mascote (Fuleco é muito fuleiro) e naquele instrumentozinho ridículo do Carlinhos Brow (financiados por quem?). Um boneco de pernas tortas, chamado Mané ou Maneco seria muito mais digno de nossa história do futebol. Mas, pior mesmo, já imaginou se perde a final para a Argentina?
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ. Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais e Doutor pela Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências e em Direito, é jornalista.
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