Terça-feira, 11 de fevereiro de 2014 - 10h18
Esta é a face do terror no Brasil: jovem negro, já fixado pela polícia (crime de dano ao patrimônio público e associação criminosa), e com ar de desprezo pelo país que o ignora solenemente. Esta é a aparência mediana do movimento anarquista Black Bloc. É a cara do mais novo estigma nacional. Afinal, precisamos de culpados para alimentar o sistema que pune de baixo para dentro e, novamente, para baixo. Sempre para baixo.
O mais novo bode expiatório se chama Fábio Raposo Barbosa. |
Segundo a polícia do Rio de Janeiro, este jovem teria disparado o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, em manifestações na cidade do Rio de Janeiro. Como se vê, o novo estigma social é black e bloc, ou seja, é negro e organizado. Os quilombolas seguindo Zumbi também eram negros e organizados. Porém, para os especialistas em repressão social, tudo não deve passar de coincidência.
O fato é que as ações extremamente violentas dos grupos Black Blocs devem repercutir em ações igualmente repressivas e violentas do Estado. Do uso de armas mais eficazes (quer dizer, letais), à menor tolerância com qualquer tipo de manifestação social – incluindo aí a edição de leis antiterror –, o Estado se prepara para dar exemplos de repressão social.
Os grupos Black Blocs agem como terroristas modernos, parecem até seguir alguma cartilha específica para o setor, mas me pergunto: o que leva um jovem a desacreditar de tudo em seu próprio país?
Não são criminosos comuns, pois se fossem apenas infiltrados pelo PCC ou CV seria mais fácil entender seus propósitos de ação contra toda forma de legalidade. Contudo, um jovem sem esperança de ver um país melhor, sem tanta corrupção em sua alma pública, é ainda mais preocupante. Ele é só o retrato de milhões de outros que não esperam nada, a não ser o mesmo: o tratamento de invisibilidade que sempre receberam.
Os grupos Black Blocs não são a saída, mas ignorar os blacks e blocs é perpetuar o mais longo crime social de nossa história.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ. Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais e Doutor pela Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências e em Direito, é jornalista.
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