Terça-feira, 2 de maio de 2017 - 21h03
Não faz muito tempo ainda se tinha alguma vergonha em admitir certas ideologias de barbárie social. Porém, na esteira do nazi-fascismo que ressurgiu no século XXI (talvez nunca tenha ido embora), os seguidores de Trump e de todos os racistas europeus no Brasil também aderiram ao mote.
Assim é que o presidente da CIESP é capaz de defender, com naturalidade, que trabalhadores tenham apenas 15 minutos de almoço. Essa, no entanto, não é nova. Mas, alinha-se às proposições do partido da direita mais ideológica desse país: o PSDB. Diz-se ideológico, neste caso, porque se esconde um leão devorador de ossos em pele de cordeiro. Faz-se discurso modernizante, para agir age com estrema frieza ao aniquilar direitos essenciais à vida de qualquer um.
Desse modo é que o PSDB pode sustentar projeto de lei em que a remuneração deixe de ser paga em dinheiro. Sim, como se via nas fazendas de antanho – e que pareciam resistentes apenas nas narrativas de Oliveira Vianna ou Gilberto Freyre –, o PSDB propõe que se pague com alimentação e residência no campo: Nilson Leitão – PSDB/MT[1]. Na verdade, fala em remuneração de “qualquer espécie” (o que inclui nenhum tipo) e jornada de 12 horas por 18 dias consecutivos.
Quando se lê notícias desse tipo, custa-se a crer que seja real. É dose cavalar que, em pleno século XXI, alguém possa defender a volta do tripalium ao ramo do trabalho. O instrumento de tortura da Idade Média ainda não foi legalizado, mas falta pouco. Se alguns alegam que não é ideologia do partido, tampouco se vê movimento de expulsão do nobiliárquico legislador. Aliás, não há nem mesmo nota pública desaprovando o eito legislativo escravocrata.
Se há alguém que veja modernismo nisso – 15 minutos de almoço em jornada de 12 horas, sem remuneração em espécie (dinheiro) e que seja capaz de acolher o trabalho de mulheres grávidas ou lactantes em minas de carvão (reforma trabalhista) –, sinto muito, mas não serve ao meu convívio. Prefiro, de longe, a inteligência do homem médio em sua vida comum: o(a) trabalhador(a).
Não convivo com racistas, inclusive porque são nazistas. Por definição da lógica histórica. Tanto quanto não convivo com quem prega a escravidão, de brancos ou de negros. Pouco importa. São racistas porque consideram pobres e trabalhadores uma “raça inferior”, raça (sic) que não precisa de dinheiro, não precisa ser livre, que pode ter seus filhos nascidos com sequelas ou mortos no trabalho imundo e insalubre.
Hitler, na alucinação do Holocausto, extirpou judeus (brancos), “mestiços”, ciganos, comunistas, liberais, democratas, alemães lúcidos. O racismo “moderno”, desde então, não se limita a cores. No país todos são vítimas, se não têm a cor da supremacia branca e se não são ricos. Nosso racismo, desde o estupro legalizado e generalizado na origem da miscigenação, não faz nenhuma distinção.
Esta supremacia branca (tipo Ku Klux Klan) continua matando nas periferias de todas as cidades. Suas vítimas são negros e mulatos, os mesmos que foram empurrados para as favelas com o “fim” da escravidão. Salvo a exceção do tráfico e dos milicianos (ex-policiais), os brancos de lá são queimados de sol, de quem trabalha muito todo dia.
Por fim, sinto se desaponto, mas não convivo com racistas. Sempre destoei de muitos brancos da família. Como diz Vinícius de Moraes: “sou branco de alma negra”, por adoção, devoção. Quem não tinha certeza sobre isso, incluindo a base deste partido de escravidão pós-moderna (PSDB), agora já sabe o que penso e deploro.
Se assim quiser continuar, o crime de consciência é seu. Na prática, já removi, apaguei do convício e da minha história. Quanto a isto, durmo em paz.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de