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Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Femismo ou feminismo?



Andando de lado, para a esquerda, falo do feminismo: sem duplo sentido. Descumpro a promessa do silêncio porque tenho lido comentários bem estranhos. Em primeiro lugar, o “femismo” é uma manifestação do feminismo – aprendi com meus alunos do MST. Segundo: o feminismo tem por base que o oprimido de hoje não se torne o opressor de amanhã – o que lembra Paulo Freire. Terceiro: o femismo é um eufemismo de opressão.

Posto isso, digo que não consigo conviver com militantes femistas, inclusive pelo meu gênio espanhol – como diria Ortega Y Gasset. Mas, do mesmo modo, não convivo com mulheres que não sejam feministas; se entendermos que, em sociedade grotescamente machista, a mulher indiferente é a Amélia – com o perdão da palavra.

O femismo quer que os homens sintam na pele e na alma a mesma opressão milenar que vem impingindo às mulheres, desde a corrupção machista das primeiras sociedades matriarcais. Aliás, foi por aí que também inventamos a propriedade e o território – daí termos a família nuclear como extensão das posses e o Estado como reduto dos patriarcas donos de tudo e de todos.  

Pois bem, ao contrário disso, a mulher feminista quer que o “santo graal” do mercado pague um salário igual (isonomia) e não 40% a menos, comparativamente aos homens – via de regra, os donos do negócio lucrativo. As feministas querem o fim dos estupros e da pedofilia – ainda que a pedofilia possa ser praticada por mulheres, é de ocorrência infinitamente menor do que a prática dos machos alfa.

Mesmo que alguns digam que os homens também podem ser estuprados, uma mulher é vítima de estupro a cada quatro minutos neste país de santos. Mesmo que os homens sejam vitimados pela violência, em 10 anos de “Brasil varonil” mais de 50 mil mulheres foram assassinadas.

As famílias chefiadas por mulheres – porque o machista se mandou – passam de 40% no país da hipocrisia e da ignorância. Então, como se relacionar seriamente com uma mulher que é indiferente a tudo isso? Contudo, o pior é conviver com um sujeito que prega essa condição às mulheres.

Fazendo mea culpa, com a Amélia até que consigo sobreviver, com dor na consciência; mas, com o lobo predador, não. Nem em Esparta ou no Código de Hamurabi a mulher foi tão desprezada; basta ver que, no ritmo atual, a desigualdade de gênero no Brasil levará outros 200 anos para refluir.

Enfim, como é que um “ser” dotado de inteligência mediana pode negar o machismo ao ponto de criticar o feminismo? Não conseguiria me relacionar muito tempo com femistas, já disse, mas entendo perfeitamente seu modus operandi; assim como entendo os neoluditas que destroem as máquinas capitalistas por mutilarem os corpos de trabalhadores, as ações vingativas do Mossad contra os nazistas fugidos da Alemanha e a Intifada que se seguiu.

Tanto quanto aprovaria a volta dos Panteras Negras, o sequestro e assassinato de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas (o mundo não ficou melhor?), a insurgência dos zapatistas no México, as guerrilhas armadas na América Latina e tantos outros. A política não é feita de anjos. Por isso, entendo e apoio todos eles.

Já ouviu a explicação científica para o fato de que as mulheres têm a metade dos neurônios, em relação aos homens? Pois é, exatamente, para pensar o mesmo tanto que nós – com a economia de 50% de recursos e de esforço mental. Esta não é uma piada femista, é o resultado da ontologia da opressão. As mulheres tornaram-se mais inteligentes e perspicazes para se defenderem da truculência e da falta de habilidade para pensar dos seus “companheiros”.

Vinício Carrilho Martinez

Professor da Universidade Federal de São Carlos

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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