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Vinício Carrilho

Fogo amigo? - Por Vinício Carrilho



Pode-se dizer que o Cesarismo de Estado ainda conta com a sabotagem oriunda do chamado “fogo amigo”. Como forma-Estado articulada institucionalmente, em que se manifestam os Grupos Hegemônicos de Poder, no Cesarismo de Estado os três poderes parecem ser um só.

É o caso, por exemplo, da recusa do senador Renan Calheiros em receber oficial de justiça do STF, com a intimação para que se despusesse da Presidência do Senado: a orientação partiu de dentro do próprio Supremo Tribunal Federal[1].

Ao largo disso, há dois corpos na gestão pública e a serviço de uma junta comercial e financista[2]. O STF faria o jogo da bancada BBB e do capital internacional mantendo Renan e a pauta da expansão da miséria humana no país[3].

Pelo lado inverso, em meio a tantas delações premiadas – e na mira da eleição indireta em 2017 (art. 81 da CF/88) –, ganha fôlego a hipótese de que o STF tenha mantido o senador Renan Calheiros na presidência do Senado, exatamente, para evitar a entronização do ex-presidente FHC no Planalto.

É uma especulação, mas faz sentido, porque apartado de Renan o presidente Temer estaria enfraquecido na condução do Congresso e a queda viria mais rapidamente. Com Renan no Senado Federal – e que se manifesta sobre FHC à frente da eleição indireta[4] –, Temer mantém o escudo e toca as propostas do próprio PSDB: privatização e desmantelamento dos direitos fundamentais.

Nesta mesma linha de argumentação, verifica-se que o governador de São Paulo é bombardeado pelo fogo amigo da mídia oficial e da justiça. O governador apareceria na Lava Jato com o apelido de o Santo. Não por acaso, o Ministro do Exterior José Serra, também do PSDB, declarou seu apoio ao senador Aécio Neves (PSDB/MG) – inimigo político de Geraldo Alkmin.

A seguir esses fatos ou suposições que ganham ventos fortes em Brasília, FHC voltaria ao poder em 2017 e o PSDB de Minas Gerais lançaria candidato presidencial em 2018. O cenário favorável, por sua vez, seria da extrema direita, pois o PSDB dividiria o segundo turno contra Bolsonaro. Terceira via no caminho do golpe seria o cancelamento das eleições para presidente, em 2018, para que FHC tivesse mais tempo. Se, até lá, não estivesse bem chamuscado pela Lava Jato[5].

Do outro lado – ainda que não seja certo falar de “outro lado” –, pressionada por um milagre, e ainda que não ocorram milagres em política, a Rede de Marina Silva apoiaria o cearense Ciro Gomes (PDT). O que poderia sinalizar à esquerda para se unificar em torno de um único voto. Neste caso, o segundo turno poderia ter surpresas.

A pensar que o ex-presidente Lula deve ser sentenciado inelegível para 2018, a partir de Curitiba, PT e PSOL – já com um nome em delações de caixa dois – não serão forças reais para 2018. Sobretudo se pensarmos nas derrotas sofridas em 2016: Crivela, que derrotou o PSOL de Freixo no Rio de Janeiro, é evangélico como o é Bolsonaro.

Este é o cenário que se apresenta no momento, mas, como a Caixa de Pandora ainda está produzindo encantos e fantasmas, pode-se/deve-se esperar por mais desencantos. O fato é que o momento é de assombro: Cesarismo em tempos de cólera fascista e de anarquia institucional[6].

 Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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