Segunda-feira, 6 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Fogo amigo? - Por Vinício Carrilho



Pode-se dizer que o Cesarismo de Estado ainda conta com a sabotagem oriunda do chamado “fogo amigo”. Como forma-Estado articulada institucionalmente, em que se manifestam os Grupos Hegemônicos de Poder, no Cesarismo de Estado os três poderes parecem ser um só.

É o caso, por exemplo, da recusa do senador Renan Calheiros em receber oficial de justiça do STF, com a intimação para que se despusesse da Presidência do Senado: a orientação partiu de dentro do próprio Supremo Tribunal Federal[1].

Ao largo disso, há dois corpos na gestão pública e a serviço de uma junta comercial e financista[2]. O STF faria o jogo da bancada BBB e do capital internacional mantendo Renan e a pauta da expansão da miséria humana no país[3].

Pelo lado inverso, em meio a tantas delações premiadas – e na mira da eleição indireta em 2017 (art. 81 da CF/88) –, ganha fôlego a hipótese de que o STF tenha mantido o senador Renan Calheiros na presidência do Senado, exatamente, para evitar a entronização do ex-presidente FHC no Planalto.

É uma especulação, mas faz sentido, porque apartado de Renan o presidente Temer estaria enfraquecido na condução do Congresso e a queda viria mais rapidamente. Com Renan no Senado Federal – e que se manifesta sobre FHC à frente da eleição indireta[4] –, Temer mantém o escudo e toca as propostas do próprio PSDB: privatização e desmantelamento dos direitos fundamentais.

Nesta mesma linha de argumentação, verifica-se que o governador de São Paulo é bombardeado pelo fogo amigo da mídia oficial e da justiça. O governador apareceria na Lava Jato com o apelido de o Santo. Não por acaso, o Ministro do Exterior José Serra, também do PSDB, declarou seu apoio ao senador Aécio Neves (PSDB/MG) – inimigo político de Geraldo Alkmin.

A seguir esses fatos ou suposições que ganham ventos fortes em Brasília, FHC voltaria ao poder em 2017 e o PSDB de Minas Gerais lançaria candidato presidencial em 2018. O cenário favorável, por sua vez, seria da extrema direita, pois o PSDB dividiria o segundo turno contra Bolsonaro. Terceira via no caminho do golpe seria o cancelamento das eleições para presidente, em 2018, para que FHC tivesse mais tempo. Se, até lá, não estivesse bem chamuscado pela Lava Jato[5].

Do outro lado – ainda que não seja certo falar de “outro lado” –, pressionada por um milagre, e ainda que não ocorram milagres em política, a Rede de Marina Silva apoiaria o cearense Ciro Gomes (PDT). O que poderia sinalizar à esquerda para se unificar em torno de um único voto. Neste caso, o segundo turno poderia ter surpresas.

A pensar que o ex-presidente Lula deve ser sentenciado inelegível para 2018, a partir de Curitiba, PT e PSOL – já com um nome em delações de caixa dois – não serão forças reais para 2018. Sobretudo se pensarmos nas derrotas sofridas em 2016: Crivela, que derrotou o PSOL de Freixo no Rio de Janeiro, é evangélico como o é Bolsonaro.

Este é o cenário que se apresenta no momento, mas, como a Caixa de Pandora ainda está produzindo encantos e fantasmas, pode-se/deve-se esperar por mais desencantos. O fato é que o momento é de assombro: Cesarismo em tempos de cólera fascista e de anarquia institucional[6].

 Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 6 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Segunda-feira, 6 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)