Terça-feira, 16 de dezembro de 2014 - 16h08
A corrupção é uma irracionalidade construída por inúmeros (des)caminhos e atos racionais. Corruptos e corruptores – equiparados na mesma altura do crime mais hediondo contra o povo – agem ou tendem a agir de forma meticulosa. Hoje não mais se acredita na impunidade, como até recentemente, uma vez que, ainda que não seja preso, o indivíduo estará marcado no livro do rol dos culpados e no imaginário popular.
A vergonha (ou falta de) pode não se abalar, porque o cinismo é retumbante; agora, ser destacado e apontado nas ruas - como “vagabundo que se deu bem” - não é a melhor das sensações. De certo modo, em razão disso, os “esquemas” tendem a ser altamente sofisticados e alguns envolvem equipes especializadas: advogados, contadores, especialistas em lavagem de dinheiro, doleiros, especuladores. Tudo isso enreda uma trama institucional, de falsa aparência jurídica, de caminhos longos e tortuosos – todavia, tudo é bem traçado, com objetividade, clareza de propósitos e que, ao final da engrenagem, o resultado seja o desvio da coisa pública.
Os grandes feitos contra a República chamam muito mais a atenção, contudo, os pequenos resultados obtidos sem lisura ou não-defensáveis moralmente padecem do mesmo destino. A irracionalidade está em roubar da República, da coisa pública, para – aparentemente – engrossar o patrimônio pessoal. Pensa-se que furtar o que não é de ninguém, haja vista que o Estado não tem dono – de acordo com o senso comum – é a coisa mais lógica a ser feita. Porém, como o Estado é público – o resultado administrativo da própria República –, ao tirar do patrimônio público, o sujeito furta a si e aos demais. Quando se apropria indevidamente o erário, acaba-se por retirar possibilidades que seriam compartilhadas, inclusive, pelo agente corrupto/corruptor. Seja rico ou pobre, quando se suborna o policial, o resultado é especialmente ruim, maléfico para todos; pois isso alimenta a insegurança real e geral.
Aquele que foi corrompido, pela lógica correta, só estará atento às futuras possibilidades de corrupção e, certamente, agirá com desprezo diante do “estrito cumprimento do dever legal”. As falcatruas envolvendo o fiscal do meio ambiente, ou as secretarias e órgãos relacionados, mitigam a qualidade de vida de todos. O desvio de dinheiro da saúde pública é nefasto para todos: abastados e miseráveis. O corrupto/corruptor, por exemplo, nunca sabe quando precisará de um pronto-socorro público, esteja ele envolvido em acidente de carro ou alvejado por bala perdida. Especialmente neste caso seria vítima fatal de sua própria irracionalidade.
Como é mais ou menos irracional que se queira o próprio Mal (a não ser em casos doentios de masoquismo), é de se convir que esta lógica movida por atos racionais, mas que conduzem à total irracionalidade no feito final, não pode ser coroada como eixo da cultura nacional. Não pode ser tida como “normalidade”, a ação que corrompe a própria lógica.
O lógico, é evidente, é que: “o que é de todos”, deve ser de proveito comum. Se estamos incluídos no que é de todos, se todos fazemos parte do que é comum, tirar muito ou pouco da República equivale a subtrair de cada um e de si mesmo. Se a corrupção faz mal a todos, também é lógico concluir que, hoje ou amanhã, corruptos e corruptores serão prejudicados por suas próprias ações. Isto é, esse não é o melhor exemplo de inteligência ou de racionalidade. Se não há receio na corrupção, dado que não cessa, ao menos deveria haver vergonha (e muita!) em padecer de ignorância crônica.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de