Domingo, 31 de julho de 2016 - 10h12
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
Claudenice Frocel
Técnica em Segurança do Trabalho e acadêmica do Curso de Ciências Sociais
Universidade de Rondônia – UNIR
Por que exigir dos jovens que sejam melhores, se os mais velhos são piores? Até que se responda a este enigma, de forma eficaz, ficaremos no escuro de qualquer interpretação racional e razoável.
Os jovens foram tidos – na luta ideológica, sobretudo, no pós-64 – como a salvação da pátria, como redenção da miséria humana cultural, como revigorantes da cultura de exclusão. Foram trazidos e datados pelo industrialismo nacionalista do século passado como expressão do próprio futuro.
A juventude foi tragada sem saber do que se tratava, do seu próprio tempo de gestação, maturação, e assim foram projetados para uma teleologia sem concretude. As portas do futuro lhes foram abertas – retoricamente, ideologicamente –, mas na prática o mesmo futuro lhes foi negado, retirado de alcance.
Em troca, receberam uma teologia política e economicista que os abate com poder opressivo e os arrebata em cultos satanistas da diversidade humana e cultural. São contabilidades de votos e de dízimos consumistas da Terra e do Céu.
O crescimento econômico dos anos 1970-80, no embalo do sobejo “milagre econômico”, revelou-se sem poder de absorção das camadas jovens totalmente desfavorecidas; especialmente negros pobres.
Cinquenta anos depois, exigiu-se, como se viu na segunda década do século XXI, mão de obra qualificada, com refinamento intelectual e capacidade de inclusão tecnológica em grandes proporções e massificadas; porém, igualmente, não se efetivou, a não ser pela massificação do desejo de consumo desprovido de meios.
Isto assim se deu e dará quantas vezes o tempo passar, porque – e esse é rastro ideológico ufanista –, incluindo-se a crise da década de 1990, o esperado e necessário (óbvio) desenvolvimento social e humano foi reverberado como custo-país.
Melhor dizendo, investir na configuração humana de pobres e de negros, mesmo que para atender às necessidades da educação para o mundo do trabalho (politecnia), era custo e não investimento no humanismo do povo.
A politecnia anotada, adotada para poucos – ainda mais pelos arautos do capitalismo predatório nacionalista –, não saiu do papel. A juventude sempre fora status social, do poder de compra da mão de obra barata; todavia, sempre se limitou a um papel social coadjuvante e igualmente barato. Aqui, papel social e status encontram-se e se reverberam no que há de pior.
Alguns exemplos claros desse projeto são a exclusão do jovem do mundo do trabalho e a ausência de políticas públicas inclusivas – se não há politecnia, imagine-se aplicar parte do capital acumulado, pelo setor produtivo ou pelo Estado, na formação do cidadão livre, inclusivo e participativo (crítico).
Portanto, neste sentido de ausência de presente – de inclusão cultural popular –, estamos em patamares regressivos ou até mais gravosos do que nos anos 1960/70. A diferença, no entanto, é que se perdeu não só a ideologia salvacionista, mas ainda mais a teleologia programada pelo mundo do trabalho.
Hoje, o jovem nacional não é mais sinônimo de futuro, mas sim de percalço social que alimenta as estatísticas de morte programada e anunciada, quer seja pelos aparatos repressivos de Estado quer seja pela criminalidade compulsiva e voraz das jovens vítimas.
Então, por que exigir dos jovens que sejam melhores, se os mais velhos são piores? Essa questão talvez remonte à filosofia clássica grega, mas expressa a cultura nacional, tanto nos anos de 1960 quanto no século XXI.
A ideologia não é condizente com a realidade. Esta porção ideológica – como mentira nacional –, certamente, é uma máxima do ufanismo regressivo, mas quando observamos a realidade de jovens pobres e de negros é claro que não subsiste nem mesmo como ideologia: conjunto razoável de ideias.
Do passado herdamos estruturas e culturas de exclusão da juventude, com retóricas políticas que não se sustentam em políticas públicas, e que resultam em milhões de jovens que certamente não chegarão à idade adulta.
Trata-se de ideologia/ufanista empobrecida em significado e prática social, porque, pela lógica, ainda seguimos lhes cobrando uma ação/superação que não é cabível em nenhuma hipótese realista.
Enfim, exigir que os jovens renunciem – novamente – ao presente, renunciando a todos os direitos sociais e culturais significativos, a fim de que se apresentem voluntariamente como fatores humanos superiores às gerações que lhe precederam, envolve mais um aspecto: projeta-se, agora – com ares de definitivo –, a esses jovens, a culpa e a pena da renúncia do presente, como justificativa para o dolo dos predecessores e a inexistência de um passado real. Este sim, não meramente ideológico e ufanista, porque lhes fez carne e osso.
Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a
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