Sábado, 10 de junho de 2017 - 14h13
Até os índios não contatados da Amazônia sabiam do resultado. Porém, no final, aos vencedores deste pleito restarão somente as batatas queimadas no fogo ardente da imoralidade política.
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de absolver o presidente Temer traz ao debate a mais velha dessincronia do direito: legalidade x legitimidade. Nos embargos do voto de minerva do grão-mestre ministro Gilmar Mendes (Monteiro Lobato não pôs o jabuti na árvore[1]), podemos dizer que o TSE legalizou o Caixa 2 (concorrência política desleal), o Caixa 3 (corrupção) e o Caixa 4: “todo o poder emana e é dirigido aos homens brancos de ‘bons amigos”.
O Tribunal rejeitou qualquer natureza jurídica (portanto, válida) da legitimidade do direito nacional, pois é inadmissível que o poder instituído seja julgado pelos amigos: Temer e Mendes são amigos de longa data[2]. No mínimo, caberia suspeição e impedimento. Contudo, Temer ainda teve tempo de nomear mais dois advogados ao TSE para que votassem em seu favor.
Ao colocarem as abóboras na jabuticabeira (do personagem Américo Pisca-Pisca, de Monteiro Lobato), proferindo seus votos, Gilmar Mendes e os outros três ministros apensadores do poder apenas deram credulidade à sabedoria popular: “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Na prática mais sinistra da “república de bananas”, o crime sempre revela a compensação que presta ao colarinho branco.
Bastaria pensar se o julgamento fosse de Dilma e não de Temer, para se ter uma ideia do teor dos votos – e ainda que a ação já tivesse sido embrulhada, antes do impedimento de 2016. Que tipo de jabutis ou abóboras seriam colocadss na árvore do direito envenenado?
Se anteriormente cabia-nos discutir se o fruto da árvore envenenada também estaria envenenado, hoje, ao revés de qualquer natureza jurídica, revela-se o cinismo do poder do homem branco. É a cara mais pálida e lavada do poder regressivo em direitos.
A ilegalidade que sempre fora discutida, a partir das próprias ações invasivas e de exceção da Lava Jato, foi totalmente, na decisão do TSE, entronizada no paraíso do poder branco. Os quatro cavaleiros do Poder Judiciário coroaram o poder aristocrático envelhecido, carcomido pelo mau uso antirrepublicano.
Tal qual a árvore de frutos apodrecidos, o recado que se deu ao povo é que não há a mínima condição material de se discutir com profundidade institucional o que seja legitimidade político-jurídica. De quebra, coroou-se a ideologia de que “direito é poder” – e ponto. Ideologia que, de tamanha pressão e peso mastodôntico, verte-se em realidade nua e crua. Ou seja, muito difícil de engolir.
Em outras palavras, o palavrório do poder de antanho não abre espaço para se sonhar com um país melhor. A literatura que caberia aqui discutir, certamente, não é esta citada por Mendes. Até poderia ser Monteiro Lobato, mas teria de ser o Jeca Tatu.
Particularmente, pela prosa popular, prefiro João Grilo: o incessante arremedo de humanização. É isso que somos, um eterno projeto, descontentes sistemáticos das instituições apodrecidas: uma república que não foi. Somos bestializados, senhor ministro, meros factoides de cidadãos.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Associado I da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de