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Vinício Carrilho

Liberte-se do passado


Liberte-se do passado - Gente de Opinião

Como você, estou cansado. Somos Sísifo de nós mesmos, carregando pedras monumentais montanha acima. Vejamos o porquê disso, me acompanhe e diga depois se o fardo não é gigante. Leia a frase abaixo e reflita, antes de continuar a ler esse breve texto:

 

“LIBERTE-SE DO FARDO DO PASSADO 

- OU TALVEZ NÃO VEJA O FUTURO”. 

 

Esta é uma frase de um filme qualquer, e que muito provavelmente você não assistirá, mas tem muito a dizer acerca do Brasil de 1888-1988 e de 2018 – como também diz muito sobre 1984, de George Orwell.

O que aprendemos de imediato é que, entre 1888, a Abolição, e 1988, ano da Constituição, em cem anos de história maculada por racismo, negacionismo de direitos fundamentais, elitismo, patrimonialismo, machismo, pouco ou quase nada mudou – salvo alguns lapsos temporais que apenas confirmam a regra. 

Lembremos que em 2018, no aniversário de 30 anos da Constituição de 1988 – a melhor idade segundo Balzac –, o “povo” elegeu e entronizou o pior fardo de nossa cultura e história.

Em 2018, elegeu-se como guia o Fascismo, o racismo, o machismo, o negacionismo, o elitismo. O “povo” elegeu a anti-Constituição, o messias antipopular; elegemos o fim da democracia, a decomposição do Poder Público. 

Em 2018, elegemos o final do espaço público; elegemos o fim da própria Política. Elaboramos nosso pior fardo...

Elegemos o governo fake. Elegemos a Fake News, a pós-verdade: aquela mentira que é contada mil vezes, até se parecer com algo real. Elegemos nossas piores mentiras, escolhemos a desconstrução do pouco que tínhamos edificado. 

Escolhemos destruir a nós mesmos.

No passado de 1984, da distopia, para o partido que reina só, evidentemente, onisciente, onipresente, onipotente, "a verdade é um instrumento". Para nós, nesse ínterim do fardo que trazemos, entre 1888-1988, a verdade instrumental tanto se inscreve no âmbito privado quanto na suposta Verdade Pública. 

Pois bem, o que aprendemos sobejamente em 2018 é que, se a verdade é um instrumento, significa que pode ser usada, manipulada, que é maleável e ajustável a alguma finalidade. 

Logo, quando é instrumentalizada, não há verdade alguma, a não ser o fato de que, ou "a verdade é um princípio e é o fim" ou será o meio para "meias verdades", ou seja, será instrumento de mentiras inteiras.

Nosso fardo é tão insano que no 7 de Setembro de 2021, festejo da Independência, milhares celebraram uma tentativa de autogolpe.

Essa é a “verdade instrumental” que se calcou como emplastro negacionista na testa de todas e de todos que, ainda hoje, desacreditam na intenção, no dolo, mesmo após 600 mil mortes provocadas na pandemia. 

As mais de 600 mil mortes provocadas na pandemia COVID-19 (evitáveis em sua maioria) contabilizam a verdade instrumental de todas e de todos que ainda acreditam no pandemônio.

Esse não é um fardo pesado demais, para se carregar por mais de um século? Quantas gerações se passaram para que, em 2018, o fardo inteiro do pandemônio viesse a ocupar os principais cargos políticos do país? 

Quantas gerações serão necessárias para sentirmos a diminuição do peso desse inominável fardo – pra não dizer demoníaco?

A ironia disso tudo, como se dizia no filme da distopia – nossa própria história, salvo exceções –, é que, para os adoradores do fardo da mentira instrumental, “não se erguerá nenhum memorial, apenas túmulos”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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