Sábado, 5 de dezembro de 2015 - 10h40
Garotas e garotos que fecham a Avenida Paulista, centro nervoso do PIB brasileiro, não fazem mimimi: frescura de bobo(a). Lutam pela escola pública de qualidade e, pasmem, que esteja aberta e não seja fechada pelo inconseqüente neoliberalismo. Também por isso foram presos, espancados e ameaçados com armas letais pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo.
Quem apanha? Jovens negros e pobres. Quem bate? Policiais pobres e negros. Nos tempos menos fascistas, a polícia corria atrás de bandido e não de adolescentes que lutam pela escola pública.
Portanto, não é mimimi! É o Estado a serviço das elites econômicas e de oligarquias políticas empoeiradas pela cultura de exceção que se abastece no ranço fascista. As que sempre se sagram na injustiça do campeonato da concentração de capitais. Enquanto outros vão sangrando na sua dignidade.
A questão em debate é o fascismo. Aluno não foi surrado em sala de aula, mas professor sim. Sabe por quê? Porque não temos decência no ensino público. Se não há segurança nas ruas, é óbvio, não haverá na sala de aula. Um é fruto do outro.
De todo modo, os alunos surrados e enjaulados na rua são, exatamente, aqueles que querem a escola pública como um lugar decente, honesto e seguro pra estudar. O que fazem quando fecham a Paulista, do grande capital (inter)nacional? Chamam a atenção do povo embrutecido ou esbulhado, do governante pasmaceira que privatiza os sonhos, das autoridades – Defensoria e Ministério Público – para o descalabro de se fechar escolas num país de analfabetos.
É muito fácil trazer galhofa nazi-fascista para julgar e condenar jovens negros e pobres que lutam por direitos essenciais. É fácil quando nunca se deu aula na vida. Mais fácil ainda é quando há décadas não se entra mais numa sala de aula, nem se abre um livro que enriqueça os neurônios. Esse é o governo do Estado de São Paulo.
Este senhor que declarou guerra contra os jovens, quando foi que visitou uma escola pública de periferia? Quando foi que recebeu o título de educador? Quando foi que descobriu o significado da palavra educação? Quando se posicionou contra o fascismo? Quando soube o que é fascismo?
Mimimi faz quem nunca enfrentou o Terrorismo Institucional de perto, dando a cara pra bater. Pois é isso que os jovens “arruaceiros” da Paulista – em gesto de virilidade política – ensinam a todos. Por falar nisso, viril está aqui no sentido dado por Maquiavel: esses jovens sabem do que escrevo.
Por que as peladonas podem desfilar em "marcha cívica" pela Paulista, pedindo a ditadura militar, e as garotas e garotos que querem a escola aberta são chamados de "comunistas arruaceiros"? Porque vivemos imersos na cultura da exceção.
Na verdade, jovens imberbes ensinam raposas da política como é que se faz barricada. Na lição que aprenderam da "virilidade política", os jovens que ocuparam a Paulista devem dirigir-se à condução da política nacional. Quem prega a violência, "guerra contra a juventude", recomenda-se estudar o que é o fascismo nosso de cada dia.
Por fim, num ato de falência política, o governo do Estado de São Paulo suspendeu – por meio de decreto – o fechamento das escolas. Antes disso, o Secretário de Educação pediu demissão. Dá para imaginar o que aconteceria se um desses jovens fosse morto pelo Estado de Exceção?
O governo não agiu; reagiu por medo. Como diz o título de um livro do gênero escabroso da exceção, temos por aqui uma “Escola de Ditadores”.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de