Domingo, 29 de dezembro de 2013 - 12h43
O período em que nos encontramos não é equivalente ao que se denomina de pós-modernidade, como se já soubéssemos do fim da modernidade. Afinal, ainda somos filhos da modernidade. Talvez menos abastados, mas ainda assim descendentes diretos da modernidade, com suas impressões, marcados por seu DNA nas ações e na alma de todas as subjetividades. Talvez até sejamos filhos rebeldes, alguns ingratos e outros deserdados, mas ainda assim somos primogênitos.
No caso do Brasil e de outros emergentes a relação é bastante reveladora: estamos no passado quando nos lembramos da extrema desigualdade social e econômica, no atraso do ensino público, na morte do sistema de saúde. No coronelismo político. Entramos pelo presente quando – a despeito de toda a barbárie social, da violência generalizada – vemos que o povo quer trabalhar e prosperar: não desiste nunca. No entanto, nosso futuro está comprometido, porque – como é próprio de nosso tempo – não temos projeto algum, de coisa nenhuma. O Brasil é um caso típico e clínico para quem analisa e avalia a Modernidade Tardia.
Para melhor compreender o que se entende aqui por Modernidade Tardia, entre o passado e o futuro, porque estamos presos ao passado e sem conseguir olhar diretamente para o futuro (simplesmente porque não temos projeto de futuro), usemos a metáfora da Sagrada Família – do arquiteto catalão Antoni Gaudí.
Esta obra faraônica, digna da melhor representação do engenho matemático e do delírio humano, expressa-se entre o passado, o presente e o futuro. É uma ilusão, uma miríade, um cálculo cartesiano, um hino ao infinito, bem como uma saudação ao catolicismo. Iniciada em 1882, a construção foi suspensa no período da Guerra Civil Espanhola (1936) e só deverá ser concluída em 2026, no centenário da morte de Gaudí.O projeto é do século XIX e percorreu todo o século XX sem se ver concluído. O esforço de construção tem sido enorme, uma vez que todas as maquetes foram destruídas na Guerra Civil Espanhola, por esquerdistas que associavam o arquiteto ao clero conservador, absolutista, franquista.
No século XXI, se tudo correr dentro dos planos, conheceremos sua conclusão na terceira década do milênio pós-moderno. Tenhamos claro que este projeto da modernidade deverá ter seu feito anunciado apenas 150 anos depois de desenhado; todavia, o visual do Templo Expiatório da Sagrada Família é tão surreal quanto sua construção. Todas as tradições deveriam pagar sua cota neste verdadeiro templo da expiação. Como se vê, não é um projeto gótico, nem é barroco (não há rococó): é alucinógeno. Mas, então, Gaudí é um místico da matemática ou um projetista da utopia e da alucinação? A Modernidade Tardia é um paradoxo entre passado e futuro, que, como a Catedral de Gaudí, nunca se acaba. A modernidade é um mito encarnado, como o Mito do Estado e da sociedade política organizada.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais
Doutor pela Universidade de São Paulo
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