Domingo, 22 de novembro de 2015 - 16h56
Muita água e sabão já passaram pela caserna, para limpar o sangue tirado na porrada da tortura ou o sêmen do estupro. Porém, ainda há acadêmicos na caverna, sem o farol de Platão, para sair do breu ideológico. Pois foi assim que, recentemente, um Cientista Político disse em público: “se a guerrilha não existisse, a ditadura militar teria inventado algo parecido”.
O non sense replica o discurso dos golpistas de sempre e que se aninhou no senso comum da política. Quando se é analista do sistema político, mas sem jogar o jogo, como papagaio de pirata, aí é fácil julgar por cima do ombro do vencedor.
Se tivesse o “cientista” jogado, efetivamente, mesmo que saindo do banco de reservas e nem que fosse por 10 minutos, saberia o que é “suar a camisa”. Para provar que a ditadura inventou a si mesma, com sua tacanhice e burrice crônicas – do tipo que chega ao discurso “científico” – darei três exemplos bem próximos.
1. À época jovem professor universitário, Maurício Tragtenberg teve a casa invadida por agentes do DOPS. Limparam seus livros todos, mas deixaram um após muita súplica: A Sagrada Família, de Karl Marx. Os soldados foram convencidos de que se tratava de livro evangélico, do catecismo primário.
2. Osório Alves de Castro foi leitor voraz, de mente arguta e escrita refinada, ganhador do prêmio Jabuti (1962) com Porto Calendário – São Paulo: Livraria Francisco Alves, 1961. Também foi “alfaiate”. Comunista convicto, teve a casa invadida um sem fim de vezes antes que a tal guerrilha pudesse “justificar” qualquer alegação ridícula de Estado de Guerra.
Guerra, contra a sociedade, quem declarou foram os civis e os militares que deram o golpe a serviço dos do capital internacional hegemônico – se não se conhece bem esse fato, consulte-se apenas o denominado Acordo MEC/USAID. Em todo caso, o sofá da humilde casa do alfaiate-literato era perfurado com as baionetas dos soldados do antigo Tiro de Guerra. Veja-se: soldadinhos de chumbo que nem usavam calças compridas, mas que podiam portar fuzis com baionetas. Isso para fazer frente a um alfaiate e sua caneta – sei disso porque sou sobrinho da tia Carmem, sua filha.
3. Meu pai, técnico em televisão, que cursou até a quarta série (primária) e lá aprendera a desenhar a assinatura, nunca foi filiado a nada e nem qualquer partido político. Na verdade, era inteligente para detestar a ditadura e a direita (de ontem e de hoje) bruta e emburrecida. Pois, mesmo assim, foi obrigado a jogar todos os livros que tínhamos em casa num poço profundo. Um tipo de poço copiado dos nazistas que queimavam livros “judeus”, impuros.
Sua atitude, no entanto, não adiantou muito, porque acabou fichado no DOPS. Vi a ficha por esses dias, na pesquisa feita por Rogério Martinez. É com esse tipo de inteligência acadêmica que se faz “ciência” no país. Só lamento o fato de que o gênio da Ciência Política não vá ler o texto.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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