Domingo, 23 de agosto de 2015 - 16h37
Que o homem médio em sua vida comum (informado pela Rede Globo, Datena ou Revista Veja) considere que a crise política brasileira é derivada da luta intestina (no sentido literal) pelo poder, entre PT e PSDB, é compreensível. Mas, quando esse repertório analítico vem de um cientista político com pós-doutorado nos EUA (?) e inunda a cabeça de outros tantos com complexo de inferioridade, aí a questão muda de figura. Este cientista da política – que acredita na autonomia do objeto e da sua ciência – terá se especializado no método funcionalista das relações políticas?
Como ensinou o pensador italiano Antonio Gramsci – no texto Os intelectuais: o Princípio Educativo – o erro metodológico na análise da crise política está em não ver as forças atuantes e sigficantes, efetivamente, para a manutenção da luta política.
Para simplificar, pode-se que dizer que o PT representa (ou representou) movimentos sociais, forças políticas populares, sindicatos da base da classe trabalhadora, parcelas progressistas da sociedade, das universidades e do clero católico. O PSDB, por seu turno, em que pese o nome socialdemocracia na sigla partidária, sempre foi um partido elitista, reformista (na melhor das hipóteses) e classista.
O que se evidencia na crise política, sobretudo com o anti-petismo, é uma tentativa de desconstrução das políticas públicas de afirmação social. Mais ainda quando elas encarecem a conta social da classe média ou da pequena burguesia.
Neste turno, não causa estranheza que por trás do chamado “terceiro turno”, pela mídia especializada, estejam gritos fascistas e neonazistas: cristofobia (como outro crime hediondo!); recusa religiosa da homofobia (neopentecostal); mobilização popular pela redução da maioridade penal; investigação seletiva da corrupção pública; pregação de impeachment ou renúncia presidencial; (re)volta dos militares e a mais simplória (quanto ao espírito jurídico) reprovação dos direitos dos empregados domésticos. Além de inúmeras tentativas legislativas de se reverter o Código do Desarmamento e outras tantas tratativas para criminalizar o MST.
Esses são apenas alguns dados que aproximam o PSDB da pauta fascista que se instalou no Congresso Nacional, ganhou a “voz rouca das ruas” e assim revela traços da luta de classes (patrimonialista, cartorial, coronelista) que se insurge na forma de luta político-jurídica – propriamente cesarista. Portanto, a luta política (PT x PSDB) é o epifenômeno de lutas sociais muito mais cruentas, tanto no longo olhar da história quando na realidade presente.
O Estado sempre foi palco e refém das elites políticas, culturais e econômicas e, após as sucessivas derrotas do PSDB em reconquistar o poder perdido (para o PT), restou o terceiro turno do golpe constitucional: o poder a qualquer custo. De quebra abrilhantou-se com o que há de pior na cultura fascista e já bem esmiuçada pela sua outra perna política: o DEM.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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