Quarta-feira, 20 de março de 2013 - 05h36
É conceitualmente mais adequado falar de uma crise de civilização, ou seja, todos os valores, princípios e práticas sociais que formaram a cultura judaico-cristã, a nossa cultura ocidental, sofrem à beira da morte. É uma tradição mais antiga do que a história do cristianismo, com as marcas do judaísmo, que chega a seu fim. Com esta crise, por exemplo, vai embora a ideia básica que se acercou da maioria de nós, de que teríamos um futuro, principalmente, se fizéssemos do presente algo razoável, equilibrado. Como fui criado para acreditar na Humanidade e para ter esperanças, via de regra, acabo sendo um realista-otimista, aquele que espera pelo amanhã, mas sem a ingenuidade dos mais crentes e crédulos.
Este jovem de 18 anos da foto foi condenado à prisão perpétua, por ter matado três estudantes em escola de ensino médio nos EUA. No julgamento, além de usar uma camiseta estampada com a palavra “assassino” em inglês, também fez o mais famoso sinal pornográfico à família das vítimas.
Para mim, muito além de qualquer discussão sobre a qualidade das penas, se é ou não acertado condenar um jovem à prisão perpétua – sem nenhuma chance de sair da prisão (sem direito à condicional) –, o caso todo, o fuzilamento de outras crianças (como é que se fuzila crianças, dentro ou fora das grades?), enfim, a reação desse infeliz, o asco com que trata os seres humanos, é o que mais entristece qualquer um.
Como é que alguém comparece ao seu próprio julgamento, podendo ser condenado até o fim da vida, com uma camiseta de assassino? Certamente, desobedeceu a orientação do advogado, mas de que adianta advogado se o condenado está se lixando para a própria vida? É isso, um dos sinais mais claros dessa crise de civilização é o desinteresse pela vida.
É irônico que a religião, a cultura, a mais florescente tradição aliada do capital, o judaísmo/cristianismo, tenham se organizado sobretudo a partir da acumulação e do lucro, isto é, a partir do momento em que a civilização conheceu as principais forças motivadoras do capital. No momento em que as tradições mais arcaicas e “imóveis” começaram a enfrentar seu declínio, nasceria o capital e as religiões mais vibrantes, “móveis”.
Hoje, é o mesmo capital – agora sob o capitalismo em auge de descompromisso – que decreta o fim da cultura que tanto lhe serviu. O problema é que estamos indo junto. Este jovem simboliza perfeitamente a pena de morte decretada à cultura capitalista, uma cultura religiosa e pagã. Chega ao fim uma incrível contradição; está no fim a religião e a cultura que tanto se otimizaram com o crescimento do capitalismo.
O jovem da foto tem asco pela vida, incluindo a sua, e não somente pela vida dos outros. Talvez seja ainda mais irônico que um jovem indique o fim, a morte, de algo tão sagrado. Não é mais sacro o direito à vida e quem nos diz isso são os jovens – mas, o que foi que os mais velhos fizeram? Voltamos a praticar as religiões pagãs (e pagas) de Roma, em que o Homem Sacro era o primeiro a ser condenado à morte. Este é apenas um caso, o exemplo isolado de um jovem que tem asco pela vida.
Hoje, deixei de lado o otimismo, sucumbi ao realismo. Felizmente, não estarei aqui, mas o leitor mais jovem verá “a crise dos velhos que atinge em cheio aos jovens” se avolumar.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor pela UNESP/SP
Doutor pela Universidade de São Paulo
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