Domingo, 3 de julho de 2016 - 10h52
O Labirinto do Fauno
e a nossa fantasmagórica Ditadura Inconstitucional
Espero não ter que explicar isso, judicialmente, mas o filme O Labirinto do Fauno é a cara da nossa fantasmagórica Ditadura Inconstitucional, sobretudo pelo desassossego que coloniza nas mentes que ainda pensam que dois e dois são quatro.
No filme O Labirinto do Fauno me encanta tudo, sobretudo a mitologia que luta pelo fim da opressão, como a eterna utopia dos povos em disputa contra as distopias de poder.
O caso central está na barbárie vista e denunciada pela criança, enteada do torturador e assassino a mando do Estado fascista espanhol. Porque, mesmo assim, em meio a tanta violência nua e crua, na máxima desumanização que acompanha o delírio do poder absolutista, a criança não perde de vista os sonhos: o principal deles é acreditar que pode salvar sua mãe, das mãos do tirano e, portanto, da morte certa.
O mais perturbador é o fato de que o insólito se agarra como realidade cumprida, extensa, muito além do devaneio que qualquer pesadelo literário poderia patrocinar. Além do fato de que esta realidade é a nossa.
Mais especificamente, é o sentimento que democratas, lúcidos, ativistas de direitos humanos, republicanos, socialistas e o homem comum bem informado sente quando as anormalidades ficam prenhes de racionalidades.
E, ainda mais especificamente, diga-se da irracionalidade antipopular e antidemocrática vaticinada em defesa da coisa pública, legalizada em abusos e como afronta ao meridiano da inteligência político-jurídica. Chama-se a isto de Ditadura Inconstitucional.
Tal qual o assombrado e assombroso filme, por sua eterna atualidade, segimos no país por essa estranha realidade que se suspende da normalidade, mas em forma deformada; no que também lembra muito o escrito franco-argelino Albert Camus ou o colombiano Gabriel Garcia Márquez, com suas vacas comendo tapetes palacianos.
Parece que somos tomados pela normalidade dos outros (poder, capital) e, como isso afronta nosso juízo mínimo de racionalidade baseada na Ética, sentimos o peso da mentira (pesadelo), mas pensando, acreditando e sonhando em viver a realidade verdadeira que nossas utopias poderiam construir.
Isto é o que se pode chamar de loucura coletiva, devaneio produzido diretamente por nossa esquizofrenia institucional e sistêmica, pois construímos nossa vida sobre uma realidade que não nos comporta.
Não há coincidências, só semelhanças no modus operandi que abriga o passado e o presente[1]. Mesmo assim, no presente, como antanho, seria legítimo indagar se as coincidências são meras semelhanças[2]?
Quando realidade e fantasmagoria se perfilam ou se unem, quando certo e errado, ético e desumano, não tem verossimilhança entre si é porque as sutilezas da Ditadura Inconstitucional fincaram raízes na Terra Arrasada.
Em todo caso, penso que não estamos loucos, mas sim a realidade minimamente cartesiana, em que não prevaleça a relação amigo-inimigo, é que foi afastada ou rendida por seus aparelhos ideológicos de repressão[3].
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes
A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez
Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci
Todos os golpes no Brasil são racistas. Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas. É a nossa história, da nossa formação
Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a