Quarta-feira, 1 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

O Poder como Prudência


No popular, diz-se que “recebemos duas orelhas e uma boca, para ouvir mais do que falar. Em todo caso, o Poder como Prudência é um dos temas mais antigos que gravitam as relações políticas e de organização social. A Prudência é uma virtude cardeal, principal, clássica; é uma sabedoria prática, porque seu emprego deve produzir resultados práticos, satisfatórios – a Prudência não é uma qualidade estritamente intelectual, metafísica, filosófica, especulativa.

A Prudência é um juízo sadio que afeta todas as atividades humanas; devendo ser a virtude uma noção política inerente, própria do governante. Assim, é a virtude daquele moralmente judicioso, sadio; de quem é moralmente defensável. Não é, portanto, mera arte; mas sim um estado do ser (capacidade), um hábito verdadeiro e bom, razoável (provindo da razão), que torna apto e mobiliza para agir pelo Bem. Na Prudência, delibera-se sobre o que é bom, apropriado para todos. Por isso, é um conhecimento de ordem prática. Também se converte na primeira das virtudes, distinguindo-se em sentido prático (princípio pedagógico), em que figuram outros elementos de definição e de distinção:

  •    Memória (experiência)
  •    Intelecção do singular (visão clara da situação)
  •    Metodologia (adequação de meios a fins)
  •    Docilidade (bom conselho)
  •    Solertia(prontidão para agir)
  •    Razão (juízo sadio e razoabilidade)
  •    Providentia (previsão, provisão)
  •    Circunspecção (consideração das circunstâncias)
  •    Caução (precaução ou cautela)

 

A Prudência surge como sabedoria da vida, como prudência na mundanidade:

  •    “conhecer as coisas em seu ponto”
  •    “Nunca se descompor”
  •    “saber usar o deslize”
  •    “não ser intratável”
  •    “saber usar dos inimigos”
  •    “não cansar”
  •    “não mostrar satisfação de si”
  •    “fazer e não parecer”

 

    Como ainda se pode ver na aliança entre cautela, inteligência e razão prática:

  •    É necessário que estejamos atentos a nós mesmos, e essa vigilância transforma-se   insensivelmente em hábito de virtude.
  •    A inveja de nossos inimigos é um contrapeso à nossa negligência.
  •    Nós nos vingamos utilmente de um inimigo, afligindo-o com o nosso próprio aperfeiçoamento moral.
  •    Não  se devem desprezar as censuras.
  •    Essa paciência é um meio muito eficaz de aprender a dominar sua língua.
  •    Prestar homenagem ao mérito de seus inimigos é habituar-se a não ver com inveja a superioridade dos outros.
  •    Os vícios dos inimigos tornam nossas virtudes mais caras.

 

Certamente será uma razão prática de implicações jurídicas ao Poder Político:

  •    Há limites de competência do Estado porque infringem princípios morais universalmente reconhecidos.
  •    Desta razão prática podem-se deduzir os limites da decisão do Estado

 

A Prudência também equivale ao uso de meios adequados, razoáveis para se alcançar o bem-estar. Há uma sagacidade para saber alcançar os propósitos da vida feliz – este é que será o sentido aceito moralmente. A habilidade ou astúcia, em si, pode ser imprudente. O prudencialismo acentua que se deve agir de acordo com a ética da situação. No entanto, a Prudência não pode ser limitada a um situacionalismo, porque é uma atividade intelectual, racionalizável. Juridicamente, é a reabilitação da razão prática, prudentia, diante da ciência pura ou da ação simplesmente voltada à obtenção de resultados imediatos. Aliás, a Prudência deve evitar que o sujeito da ação saia abalado por danos ao propugnar pelos resultados imediatos.

 

Bibliografia

AQUINO, Santo Tomás de. Escritos Políticos. Petrópolis-RJ : Vozes, 1995.

CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? Campinas, São Paulo : Papirus, 1991.

FLEINER-GERSTER, Thomas. Teoria geral do Estado. São Paulo : Martins Fontes, 2006.

GRACIÁN, Baltasar. A Arte da Prudência. São Paulo : Martins Fontes, 1996.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília-DF : Editora da Universidade de Brasília, 1979.

____ A arte da guerra: a vida de Castruccio Castracani: Belfagor, o arquidiabo. Brasília-DF : Editora da Universidade de Brasília, 1994.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tomos I e IV. São Paulo : Loyola, 2001.

PLUTARCO. Como tirar proveito de seus inimigos. São Paulo : Martins Fontes, 1997.

WEBER, MAX. Ciência e Política: duas vocações. 9ª ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

 

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 1 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Quarta-feira, 1 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)