Sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013 - 09h22
Muitas vezes já falei sobre preconceito, discriminação e racismo. É muito bom quando não precisamos retomar o assunto, especialmente após as aulas. Mas, em alguns momentos é necessário. Na crônica também cabe. Hoje é um desses dias, mas não trato nenhum caso especial. Assim, visto que a sala de aula é um "espaço público", NÃO temos o direito de ventilar todas as nossas opiniões. Devemos ter bem claro que nossos preconceitos, um tipo de consciência deformada por impressões ligeiras, devem ser guardados para nós mesmos. Todos nós temos preconceitos - eu tenho uma porção, não gostaria, mas tenho. O que faço comigo mesmo é me repreender mentalmente toda vez que percebo a ação de um desses preconceitos. O que não podemos fazer, especialmente no curso de direito, é levar o preconceito, o senso comum, o que se diz nas ruas ou em casa, para a sala de aula. Esta é a batalha pela ciência, pela cultura, pela informação e pelo conhecimento, e deveria animar a todos, professores e alunos. Alongar meu pensamento racista, de discriminação – seja qual for o tipo – não contribui para o crescimento intelectual, profissional, pessoal de ninguém. O mundo está cheio de meias ou pequenas verdades, a exemplo dos preconceitos, e não precisamos de mais repercussão desse tipo. Muitos crimes foram e são cometidos em nome desses preconceitos. Nem é preciso puxar essa lista. Basta-nos saber que preconceito – como diz o próprio nome – é o que vem antes do conhecimento, do conceito; como pré-conceito, antecede a devida análise, checagem e consideração real das coisas. Juridicamente, o preconceito impede a “verdade real dos fatos”. À medida que julgamos baseados no pré-conceito, o que não vemos, exatamente, é a extensão e/ou profundidade das situações, pessoas ou relações examinadas. Aliás, o sujeito preconceituoso não investiga e nem analisa nada com seriedade, por isso emite julgamentos de valor e sem o devido conhecimento dos fatos. Ou, quando ainda se dispõe a analisar algo, é sempre uma verificação superficial, limitada, inconclusa. O preconceito é a consciência do preguiçoso. Como sempre optamos pelo mais fácil, na economia extrema de energia e dedicação, a análise superficial e preconceituosa basta ao preguiçoso. É como escolher sempre o livro mais fino para ler, não importando a qualidade – às vezes, nem o próprio assunto – e muito menos o autor: “bom, se tenho de ler, se sou obrigado, vou ver esse aqui bem fininho”. Que realidade espera por esta pessoa? Observando por este ângulo, quem gostaria de se envolver, de estar perto, poder conversar, com uma pessoas que tem sempre uma meia-verdade (ou uma mentira inteira) sobre os assuntos? Aliás, dado que o preconceituoso sempre tem análises superficiais, o preconceituoso é capaz de falar sobre qualquer coisa. Por isso, pensando bem, vamos nos concentrar em não repetir a consciência das ruas, a discriminação, o preconceito, esta aparência de conhecimento e que é apenas e tão-somente senso comum desprovido de qualquer razão. O único antídoto contra o preconceito é o conhecimento; procuremos nos esforçar para ter a grandeza de espírito necessária a obter este conhecimento mínimo acerca da “alma humana”. Mais análise, reflexão sobre si mesmo, e menos julgamento dos outros. A sala de aula é a sala do conhecimento – ou deveria –, como a internet é a janela para a interação (ou deveria ser). Façamos por merecer estarmos aqui; façamos jus aos recursos públicos – do povo que nunca chegará perto da universidade – e procuremos levar para este ambiente público um pensamento, um comentário, uma análise qualificada, bem-intencionada, ajustada ao que aquele povo que paga impostos, mas não pode estudar, gostaria que fossem feitos. Por tudo isso, para os antigos educadores, a sala de aula era sagrada – deveria estar livre da “desumanidade” do preconceito.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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