Domingo, 28 de junho de 2015 - 16h32
Dunga foi preconceituoso? Foi! Afinal, jamais seria, sentiria ou pensaria como afrodescendente. Também devemos lembrar de todos os lances racistas dentro de campo ou que vêm das arquibancadas. Não foram poucos e, particularmente, penso que esse quadro melhoraria um pouco se a justiça aplicasse o crime hediondo que cabe nessas situações.
Por outro lado, qual afrodescendente, negro, pardo ou pobre não "apanha" na vida, no trabalho, na prisão-masmorra ou, simplesmente, qual deles não é massacrado pela polícia e pela hipocrisia dos "não-racistas"? Agora, na bola da vez, os pseudos não-racistas preferem ter o Dunga como bode expiatório.
E salve a sacro-santa mentira nacional que chafurda na cordialidade cínica e na "demo...cracia racial" - a mesma que mata três negros para um branco nas periferias do capital. Acho que precisamos urgentemente do Zangado (mas, não se confunda com Zagalo). Nesse quesito, particularmente, sou como meu quase-xará Vinícius de Moraes: "um branco de alma negra". Ou, parodiando o sociólogo que não deixou príncipes, Florestan Fernandes, sinto-me como "branco no mundo dos negros".
O resto é batebocando de quem não bate bola com vergonha na cara e se acostumou às lavadas de 7x1. Não é o futebol que está ruim, é o país todo. Em todos os setores só vemos empresários de perna de pau. Tem mala demais, tem fascista em cada canto de esquina, tem "perninha" que só faz gol contra.
Vamos a outra relação que combina amplamente com o futebol: pagode e mulher. Por que expor a mulata pelada Globeleza não é racismo? A versão precedente das Mulatas do Sargentelli também não era. O apelo sexual não é preconceituoso e nem racista; mas, somente por que é da cultura nacional? Desde quando o apelo sexual – diante das mulatas carnudas – refere-se à cultura nacional? Desde o mito da miscigenação? Ou seria para esconder a dura realidade da mesma miscigenação forçada no estupro das negras escravizadas em senzalas?
Se formos escavar os pecados da história veremos hipocrisia sem fim. E o fato é que o Brasil passou outra vergonha perdendo do Paraguai. Foi desclassificado da Copa América e mostrou que nada aprendeu com o 7x1 diante da Alemanha, na Copa de 2014. Em verdade, o que não queremos ver é que estamos decadentes, ladeira abaixo, sem freios e de ré.
A seleção é só o retrato do país amanhã. Sem qualidades técnicas, morais, políticas, o futebol deixará de ser o “ópio do povo” e para seu lugar já foi invocado o pentecostalismo reacionário. Este sim, vai nos dar de dez a zero (se contabilizarmos o 3x0 para a Holanda) e depois pra sair do fosso de água parada só por Deus. O problema nunca foi perder, mas sim ganhar ou perder com dignidade. E como nos habituamos a ganhar com imoralidades, também não sabemos perder dignamente.
Esta é outra das crônicas que jamais pensei que escreveria. E, para piorar, tem sido a regra. Infelizmente, aprendemos com o futebol que dignidade e ética são exceções.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de