Sexta-feira, 4 de agosto de 2017 - 21h54
O resiliente Temer e o direito dos abduzidos
- o direito do “analfabeto de pai e mãe”
O direito foi abduzido pela deseducação, ignorância e brutalidade, ou, como diria meu saudoso pai, é o direito esbravejado pelo analfabeto de pai e mãe. Ele falava isso quando corrigia o descaminho dos próprios filhos na tenra idade infanto-pueril.
Pois bem, de lá para cá, com todo mundo que falei, sem exceção, há uma indignação com o arquivamento do processo penal contra o resiliente Temer – o primeiro na história do país acusado formalmente por corrupção.
A estes presto condolências. Porque, salvo as exceções mencionadas, a imensa maioria gostaria de estar no lugar do magnânimo e probo resiliente. Como sei disso? Além de conhecer o eleitorado, tiro pelos concidadãos que me circundam.
Além dos muitos analfabetos funcionais que não conhecem o código de trânsito e – acometidos de cegueira provocada pela brutal ignorância – estacionam em vaga reservada a deficientes físicos, em frente à minha casa, ainda há os que votam em safados porque são safados: todos se lembram do “rouba, mas faz”. Infelizmente, pra gastura do fígado, tive uma peça dessas nas cercanias da família durante algum tempo.
Ontem, pouco antes de escrever o texto, vi e fotografei um garboso com sua família estacionar a caminhonete em vaga reservada aos motoristas com deficiência física, no shopping da cidade.
Se não fosse bastante a ressaca moral, dentro da caminhonete estacionada na vaga preferencial havia uma plaquinha com os dizeres mágicos: “deficiente físico”. Ora, se o condutor saiu lépido e ligeiro com sua família, por que haveria tal certificação?
Fiquei pensando se não seria fraude. Das duas uma: fraude para obter descontos em impostos e comprar caminhonete pela metade do preço; fraude porque emprestou a plaquinha de amigo(a) para uso indevido.
A terceira hipótese diz que estava tudo certo com o sujeito e sua vaga – neste caso, podem me provar. Se o Poder Público se interessar pode pedir que tenho a placa anotada em foto. Mas, o que o Temer tem a ver com isso?
Tem o básico. Não só os espertos que o inocentaram da ação criminal – que correria no STF –, mas todos que elegeram os mais nobres deputados: 40% dos votos do resiliente Temer respondem criminalmente neste tribunal.
O eleitor do nobre deputado – pode ser o da Rena e que pediu Nudes no plenário da Câmara (ou outros tantos) – é, exatamente, o nobre motorista que estaciona seu carro na vaga preferencial em frente da minha casa ou no shopping.
Depois de muito pensar, creio que em comum há um fato notório: analfabetismo funcional. Não sabem ler a placa de reserva especial, assim como não conhecem o código de trânsito. Não sabem ler ou interpretar o Regimento da Câmara e por isso incorrem em “quebra de decoro” e são negativados em bom gosto.
Mas, aqui incorreria em erro – e grave –, porque muitos dos analfabetos funcionais que conheci sabem distinguir perfeitamente o certo do errado. Têm bom senso e apreço pela justiça. Aliás, alguns passam longe dos muitos doutores que também conheci – ganham em disparada no quesito lógica e responsabilidade.
Então, para os maus feitores, resta lamentar pela ignorância, pelo analfabetismo ensurdecedor: os “analfabetos de pai e mãe”. Pois, esse é o tipo infantilizado, ignorante e bestializado, que ocupa minha vaga preferencial ou que vota no Deputado Rena.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência Política)
Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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