Quarta-feira, 8 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Perdoem a falta de memória



            É inevitável o esquecimento.

Começo com desculpas, mas é verdade. Vou cometer a falta grave de esquecer alguém. Não porque queira, é evidente. Aliás, gostaria de ter o dobro da memória que tenho, para nunca esquecer nada, lembrar de tudo e de todos(as).

Na história que vou contar, é bom que diga que meu tempo em Rondônia, para meus sentimentos, foi uma segunda vida. Deixei uma roupa aqui e vesti oura aí. A cultura é uma segunda pele. Troquei de roupa e de pele. Agora, vesti uma terceira.

É como se tivesse começado do zero. Hoje, sou mais um por isso.

Há duas cidades que fizeram minha história: Marília-SP, onde nasci e para onde voltei, e Porto Velho/RO. São Paulo – capital – nunca foi uma cidade para mim, e ainda que a visitasse desde os cinco anos de idade.

A Universidade de São Paulo, sim, foi o lugar em que me formei como cidadão.

Cheguei em RO em 2009.

Estive mais de cinco anos em Rondônia, como professor da Universidade Federal. Nem tenho como resumir o tempo que se passou, nem puxar as lembranças que mais marcaram. Foram muitas histórias e muita gente. Contudo, alguns personagens estão na mente: Rivoiro, Jovanir, Lana, Cidinha, Xavier, Isabela, Jacques Abílio, Neri e Delson. São alguns nomes que me vem agora. Lúcio e Januário criaram as condições para que permanecesse em Porto Velho.

A prof.a Waldemarina e o Morel, praticamente, deram-me uma casa quando cheguei – sem eira, nem beira. A professora Waldemarina foi minha segunda mãe. Ainda é ... sempre será. No mesmo lado do coração. O Rivoiro foi o caminho de chegada, desde uma conversa por e-mail e fone, quando me avisou do concurso. Foi quem me apresentou a cidade e a cultura diferente. O Jovanir foi vizinho e companheiro de chope – e, depois, sem chope mesmo. Com suco de laranja.

Salve Coronel Torres! Falo nele e me lembro de todos os alunos (e amigos) brilhantes que conheci na UNIR. Muitos estariam na USP, UFSCAR ou UFRGS sem grande esforço para conseguir.

O Antenor, companheiro de publicações; o Vinícius Miguel – quase xará – que agora vem somar nessa seara.

O grande Zé, da recepção ou protocolo! O Léo Ladeia, da Record, o João Paulo, o caro Chico Lemos, do Gente de Opinião. Dr. Dimis e o Diego, advogado, obrigado.

Essas listas sempre são injustas, não há como nominar as pessoas que fizeram parte da sua vida, sem deixar alguém de fora. A Leide, que cuidou de casa, e o Dionísio do taxi teriam de ser lembrados.

            “Quem escolhe, deixa”. É essa a dura realidade do ditado popular. Deixei o mundo de vocês porque tinha e tenho responsabilidades com o mundo da minha família, deste lado do Brasil.

            Agradeço todos os dias pelo trabalho digno que o concurso público me proporcionou. Pelas pessoas maravilhosas que conheci e com as quais convivi. Aprendi ou tentaram me ensinar como “diminuir o orgulho”. É um pecado capital, reconheço. Daqueles que Dante, bem no Pórtico no Inferno, diz para você deixar de lado (Deixai toda esperança, ó vós que entrais – p. 37). Enfim, minha imperfeição não se recomporia em tão pouco tempo. Mas, trouxe esperança na volta.

            O tempo de todos é escasso e este é o porquê de não ter aqui uma lista do Maguila. Porém, é preciso lembrar (mesmo com falhas graves) para não cair na penúria da ingratidão.

            Deixei o artigo pronto e fui dormir, esperando que o sono reparasse o apagão da memória curta. É claro que há falhas, mas lembrei de outros. Já estão no corpo do texto.

            Não há crime maior do que a ingratidão. É uma traição programada, antes do próprio início das situações que possam ocorrer.

Aliás, duas expressões sempre me chamaram muito a atenção: alagação e situação. Aqui, em São Paulo, interior, fala-se em alagamento e temos bem menos “situações”. Muitas ocorrências, é verdade.

            A carta de agradecimento, a todos aqui mencionados (e outros tantos que o lapso levou), poderia ter um quilômetro e não retrataria cinco anos de sua vida. Nem da minha. Essa é a minha desculpa, plausível, para também não me alongar muito.

            Ainda quero dizer que aprendi muitas coisas; talvez a principal tenha sido o “exercício da paciência”. Um hábito difícil para paulistas que querem tudo para ontem. Nascemos assim – se bem que nasci meio atrasado –, trabalhamos e vivemos na pronta-entrega, no estresse: “como se não houvesse o amanhã”. Claro que há hoje e amanhã, todavia, de nada adianta dizer.

            Será que o paulista é um mineiro acelerado?

Bom, esse texto deveria ter esperado minha “situação” se resolver por aqui. Não agüentei, é claro, e publiquei agora mesmo.

            Lembro-me de que havia um CD – no tempo que tinha CD – chamado “Tempo”; com o mestre Tom Jobim. Desculpe-me se alguém tem o tempo diferente do meu. Meu recado é esse: Obrigado!

Impossível esquecer.

Vinício Carrilho Martinez

Professor da Universidade Federal de São Carlos

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 8 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Quarta-feira, 8 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)