Quarta-feira, 5 de junho de 2013 - 05h10
Chama-se de clássico um livro que se configura
como equivalente do universo,
à semelhança dos antigos talismãs
Ítalo Calvino
Compartilho a tese de que se deve considerar
Weber um clássico da filosofia política
– o último dos clássicos
Norberto Bobbio
O artigo é parte de um texto mais longo em homenagem ao professor Pedro Vicente Lonrensatto, falecido em 12 de janeiro de 2013, em Porto Velho. Previsto para ter lançamento ainda este ano, o livro é uma obra coletiva e deve passar pela história dos “clássicos” da filosofia. Minha tarefa é justamente explicar um pouco o que são esses gênios chamados de clássicos. Na verdade, esta tarefa iniciei no relatório de pesquisa de Pós-Doutorado em Educação, de 2009. Tudo começou quando li,de Ítalo Calvino, Por que ler os clássicos?O livro é uma invenção clássica, equiparado à própria escrita.
Há clássicos bons e maus, falemos de um mal, para depois nos ater a todos os casos e exemplos do bem. Auschwitz foi um campo de concentração apto a aplicar o Holocausto. Mas, é um clássico do Mal porque ali se projetou o que há de pior na razão e na natureza humana: a racionalidade do crime contra a Humanidade, a contabilidade da morte. A produção de uma ciência assassina. Um clássico para nunca se esquecer, para ser denunciado sempre, desde o berço das crianças mais inofensivas, justamente para que nunca mais volte a ocorrer.
Muitos tornaram-se clássicos no combate ao nazismo, muitos tombaram no front dos Aliados, mas a lembrança da filósofa Hanna Arendt é mais do que devida. Outro clássico do horror é aquela foto da menina correndo queimada por Napalm, na Guerra do Vietnã. Para nunca mais esquecer.
Não há cronologia para falar de clássicos
Clássicos são aqueles gênios que souberam captar, “apreender”, a essência de determinados fenômenos. São intérpretes da verdade que está por trás da realidade que muitos observam, mas que só os grandes gênios percebem. Como sua observação, compreensão, assimilação dos termos e das condições mais singulares, basilares é, por definição, essencial, passe o tempo que for e o clássico sempre estará atualizado. A Ilíada de Homero e o Inferno de Dante são relatos da saga da Humanidade, seus desafios, medos, valores e instituições são os nossos, mesmo lidos em versos tão distantes.
Os clássicos são autoexplicativos, alguns até evolutivos, como o ideal democrático e o senso de perfectibilidade. Entretanto, infelizmente, nem todo clássico será preservado – e que o diga o Talebã destruindo as estátuas milenares de Buda, no Afeganistão. O Talebã e a CIA são anticlássicos, jogam contra a Humanidade e sua integridade.
Portanto, os clássicos conseguem perpassar pelos séculos quase de forma irretocável; o que se retoca ou se abdica de sua análise são as imperfeições de época, por exemplo, os limites da democracia grega antiga. Por sua criação, os clássicos estão perto de Deus – que, sabedor de tudo que é bom, belo e justo, vai querer todos perto de Si. Talvez seja por isso que ao ler um clássico a gente se sente tão bem, como estivesse feliz, em paz.
Os clássicos são como faróis de luz e nos sinalizam como mestres da criação humana que detém a chave do conhecimento; é tão eficaz, efetiva sua percepção da realidade e das condições gerais e particulares dos fenômenos observados que nunca envelhecem. O clássico não sai de moda, porque nunca entrou na moda; têm um ritmo próprio e por isso não destoam e são incomparáveis. Por exemplo, não dá para comparar Aristóteles a Maquiavel, apesar de terem tratado dos mesmos temas: a ética e a política.
Neste sentido, pode-se dizer de um clássico contemporâneo apenas como licenciosidade ou generosidade de nossa alma no presente, uma vez que todo clássico será sabatinado pela história. Também podemos dizer que um clássico é quem maneja a teleologia com raro brilhantismo, pois que do presente vai mirando e abrindo as janelas do futuro.
O clássico é o autor, compositor, cientista, escritor, artista, pensador, que descortina o conhecimento e que não conhece as barreiras do tempo. O clássico promove uma verdadeira curva no tempo, confundindo passado, presente e futuro – mais ou menos como queria Einstein.
Os clássicos não têm gênero
Para muitos, no futuro não haverá Estado, mas é do passado do século XIX que provém o Estado de Direito. Diretamente para o futuro, pode ser que não tenhamos uma instituição fortificada por barreiras estatais, como no Estado Moderno e na soberania, mas certamente teremos um conjunto de leis; não se sabe que qualidade terão essas leis, mas é certo que haverá o império da lei. Logo, a própria perspectiva da teleologia se modifica, ao longo da história, mas a certeza de um futuro permanece – e mesmo que seja um futuro bem diferente do que gostaríamos.
Chaplin, no cinema mudo, falou tudo que era necessário sobre a sétima arte; depois dele colocaram vozes e algumas cores para melhorar a animação. Do mesmo modo que McLuhan abriu todas as telas da TV – a mensagem anda fria, mas a TV é um meio quente, dos mais quentes. Da tela grande à tela pequena, um como artista, o outro como analista, a imagem que fazemos de nós mesmos mudou muito depois deles.
Não é nem um ícone, o filme O Homem Bicentenário, mas o livro homônimo de Isaac Asimov é belíssimo, emocionante, como é emocionante a aspiração humana por se tornar mais humana. Asimov é outro clássico do século XX. Não é socialista, mas socializa o direito a sonhar por uma Humanidade melhor.
Desconfio que o homem produz clássicos desde a pré-história, o que ocorre é que não havia muitas formas de se registrar o engenho humano. Mas, a pintura rupestre nos dá uma dica ou direção de como sempre estivemos perto da arte, da representação do humano. Em todo caso, ainda em priscas eras, como não ver a clássica inteligência humana na fabricação do Neolítico? Ali forjamos para sempre a junção entre política, técnica e arte. Somente alguns milênios depois é que viemos fundar o primeiro Estado, na Suméria. Neste caso, o povo todo é um clássico, simplesmente porque os sumérios inventaram a Cidade-Estado.
Há épocas clássicas e o Renascimento é a mais privilegiada
Não há mais ou menos clássico. Você está lendo e eu escrevendo por causa da prensa de Gutemberg, por volta de 1450 e, posteriormente, da imprensa. A primeira revolucionou a educação, a segunda os meios de comunicação.
Michelangeloe Rafael na Capela Sistina, Beethoven com a 9ª e a 5ª sinfonias, são retratos do que há de mais sublime no homem, na sua sensibilidade e no amor pelo que é verdadeiro. Leonardo Da Vinci, artista e engenheiro da guerra, foi um criador de fábulas; tudo resultou na Monalisa.
No Renascimento da aplicação do sfumato, a técnica dosombreamento e do escurecimento, por entre o claro-escuro, dilatando os poros da pintura, contou-semuitos dos mistérios humanos. Quem não admira o Renascimento é porque precisa renascer como o Meccano daquela época. E quem não se emociona com isso é porque responde como máquina. Aliás, os primeiros arquétipos de robôs, os autômatos, são gregos. Outro povo tornado clássico.
Os clássicos não são dóceis, mas são absolutamente leais. Quando Newton nos diz que “viu mais longe, porque subiu nos ombros de gigantes”, está sendo honestíssimo consigo e com os gigantes da matemática que o antecederam.
O Liberalismo é um clássico, mas os liberais ainda esperam a licença de sua própria consciência para agir de modo liberal. O Positivismo também é um clássico, mas está cheio de reféns e vitimou boa parte da Humanidade. O Iluminismo deixou o legado dos direitos humanos, mas clássica é a Declaração de Direitos Humanos, de 1948. As duas Declarações de Direitos, a atual, do pós-ONU, e a moderna de 1789, são marcadas por Rousseau (o do Contrato Social e o do eu-sozinho, no fim da vida) e por Kant, especialmente o que escreveu A Paz Perpétua. Perto dessa referência, a CF/88 é uma caricatura, porque clássicas mesmo são a Constituição de Weimar, de 1919, e a Constituição de Bonn, de 1949, ambas na Alemanha, mas a segunda na fase em que queria se reerguer.
Não há quem não queira ser um clássico, talvez pelo fato de que assim nos afastamos da hipocrisia e da miséria humana e nos colocamos perto do sublime. Alguns clássicos olham pelos telescópios, outros pelo microscópio, entre o macro e o micro, entre o natural e o artificial, comoGiordano Bruno e Albert Sabin (este no combate à poliomielite). Galileu tirou a Terra do seu pedestal e Marx implodiu as falsas aparências da modernidade capitalista, como seu “o sagrado será profanado”.
É possível querer algo mais humano do que a falibilidade de tudo, dos sistemas criados para subjugar o próprio homem? Goethe prendeu o imaginário popular no seu Fausto, previu a sorte, o acaso, a grandeza e a eloquência dos que querem desbravar o mundo, de todos os que se sentem aprisionados na pequenez e na limitação das ações humanas. Não foi só uma crítica ao capitalismo, foi também um elogio aos inconformados com seus limites. Até os sonhadores.
Os clássicos têm seus mitos
Os clássicos são instigadores, na maioria das vezes são perturbadores – outras vezes são injustiçados. No entanto, em geral, perturbam as mentes tranquilas e acomodadas, como W. Reich no Escuta Zé Ninguém. Também perturbam o status quo, como acontece com os revolucionários (muitos anônimos); perturbam as outras ciências, como faz Prigogine por onde leva o caos organizado. De todo modo, são reveladores de tudo que é absolutamente retrógrado, realmente velho e ultrapassado, e que precisa ser modificado.
Por exemplo, toda criança em idade escolar deveria saber que Machado de Assis escreveu sobre o mito do Fausto, ainda que na versão adaptada em que nem o Diabo consegue decifrar nossa lógica nacional. Então, como não ler Thomas Mann, no Doutor Fausto, retratando os horrores do nazismo? No dizer de Mann, o clássico é divino:divinisinfluxibusex alto. E precisa ser lido e cultuado em seu lugar, lá no alto.
O mito do Fausto é um clássico que sobrevive no imaginário popular desde que foi contado (ou terá sido real?). Na Europa entre 1480 e 1540 viveu Georg Faust, de reputação duvidosa e que logo conheceu a desgraça: sua ganância o levaria à morte violenta.
O filme O Motoqueiro Fantasma está longe de ser um clássico, como no seu gênero da ficção se tornou Matrix (melhor do que o livro de origem: Neuromancer), mas faz referência direta à lenda do Fausto. O clássico “sonho americano”, com seu Self Made Man, a começar do jazz, está perto disso. Assim como o filme BladeRunner (muitíssimo melhor do que o livro) imortalizou os pecados do capital e da decadência humana tendo como pano de fundo, exatamente, a sociedade estadunidense.
Já esteve mais presente, mas ainda é clássica a crítica aos EUA, como antiamericanismo e luta contra o Império. Para o bem e para o mal, Walt Disney mudou definitivamente a indústria do entretenimento. Entretanto, osímbolo de sucesso e de realização conheceu rivais à altura, como aquele expresso no pico, no topo de uma caneta Montblanc. Uma Bic e um anel de brilhantes também?
Por outro lado, quem desconhece o pecado, o erro, a falta de virtude, a quebra do bom senso que atire a primeira pedra. A Bíblia é clássica, do mesmo modo que a procura por máximas, metáforas e parábolas. Quem imaginaria que o máximo de significado estaria no vazio do vazo? Até porque se estivesse cheio não seria um vazo, e sim um bloco. Este é o sentido geral do Tao të King, outro belo clássico da religião.
É um clássico do bem o jeans, queserviu primeiro aos trabalhadores rurais, protegendo-os na vida e na lida rústica, nos EUA, mas que hoje veste empresários com blazer; tal qual a jaqueta de couro que vesti hoje, e que comprei aos 20 anos – um clássico retrô.
O revolucionário Lênin do livro O Estado e a Revolução mudou a história da Humanidade no pós-Revolução Russa; a partir de 1917, obrigou Ocidente e Oriente a repensarem, reverem suas instituições políticas e sociais. Contudo, o mais belo elogio ao socialismo vem de Oscar Wilde e seu A alma do homem sob o socialismo.
A luta pelo direito é um clássico da literatura especializada (vonIhering) tanto quanto é uma luta política sem data para acabar. Esteve presente na Desobediência Civil de Henry David Thoreau, assim como tem sido o eixo da moderna guerrilha desde a libertação da Argélia (como no filme A Batalha de Argel).
Spartacus, em luta de escravos e gladiadores pela vida vivida com liberdade, viria se somar a dezenas, milhares de outras lutas contra a escravidão. Toda luta contra a negação dos direitos, especialmente contra a servidão e a escravidão, está no pórtico das lutas políticas. Toda luta política contra a nulidade social é um clássico de todos nós.
Há sonhos e utopias que são a própria revelação do querer humano, como nos disse Thomas Morus. E há dois marcos na história de quando isso aconteceu: na Revolução Americana de 1776, quando criaram o direito à felicidade (aquele mesmo de Epicuro, o “filósofo do jardim”); na Revolução Francesa de 1789 e na luta pelo direito de igualdade.
Vale-nos saber que o clássico é insuperável porque ora pela liberdade
Há clássicos mais conhecidos, como o filósofo Thomas Hobbes, e outros menos citados, como La Boétie; mas se o primeiro se sagrou pela defesa da soberania – ainda que o criador da tese tenha sido Jean Bodin – o segundo fez uma crítica à servidão, quando isso ainda levava à fogueira santa, e que deixa os liberais atônitos ainda hoje. Percebe-se que os liberais são menos liberais do que deveriam ser.
Shakespeare é inigualável, mas sem a presença contemporânea de Marlowe, também teatrólogo, uma crítica social com inspiração popular não teria sido resguardada e, portanto, a própria cultura estaria reduzida. Hamlet é história de poder e de homem sem virtù, como nos diria Petrarca, mas também é história de amor. O beijo da mulher amada; o mais famoso “boa noite meu filho”; são amores distintos, mas são sentimentos clássicos e que inauguram a relação entre homem e mulher.
O Humanismo anda bastante bombardeado neste breve século XXI, mas o amor, o Outro, a Liberdade, a Isonomia, a Verdade Republicana (como decantara Cícero, o mais sóbrio senador de Roma), a trilogia da Tolerância-Inclusão-Diversidade são clássicos do homem em busca da condição humana.
Há clássicos mais remotos e outros mais próximos, e o curioso é que quando você lê o primeiro, como em Baudelaire, logo se lembra do segundo, na interpretação e inspiração de Walter Benjamin. Ambos, artista e cronista, são clássicos de nossa época e do futuro – até porque, para ambos, o futuro é bem presente.
O Balzac do século XIX não tem limites, a exemplo do frenesi com que escrevia, loucamente, para ganhar a vida e o prestígio. Mas, mesmo não tendo uma conexão direta, ao menos à primeira vista, entre o seu Ilusões Perdidas (na história de um jornalista) e A Rua das Ilusões Perdidas– contando-se um pouco a necessidade do altruísmo que move a vida entre os miseráveis – do clássico de Steinbeck, no século XX, não deixa de ser curioso pensar que algo os uniu para sempre.
Quem nunca pensou nas baratas, em ampla Metamorfose, como fez Kafka? Ou qual juiz ou advogado nunca se viu em seu Processo? Na política da traição da vida, não são poucos os que se sentem aprisionados pela Quinta Coluna, de Hemingway – os delatores do cotidiano! Alguns sofrem processos por dano moral. Outros serão vítimas de A Peste, como alertava Camus, sobre os perigos inauditos dos atuais golpes institucionais. Por falar em golpes, leiam sempre a fase “generalíssima” de Gabriel Garcia Márquez. Em todos esses casos seremos tratados como OEstrangeiro; reclusos de nós mesmos.
Os clássicos antigos também são modernos
O clássico é cosmopolita. Todos querem sua companhia, é popular, mesmo não sabendo-se disso, é quotidiano ou, simples e direto, cotidiano mesmo. O pensamento abstrato se modifica em seu alcance ao longo da história, mas o clássico projeta o pensamento abstrato muito além de sua época. Por isso, o clássico faz fila.
A música clássica é um clássico, assim como o vinho (imortalizado por Baudelaire) e o chops; tanto quanto o pão, toda forma de pão, porque salvou a Humanidade incontáveis vezes de morrer de fome. Na linha da farinha de trigo, a pizza é mais do que clássica, toda forma de pizza, doce e salgada, desde que com massa fina e que não seja congelada. Quem bebe boa cerveja ou lê o livro da Coleção Clássicos está bebendo genialidade. Nesta linha, são equiparados o café e o chá. Quem não provou um joelho de porco ou um sashimi não sabe o que perdeu em seu paladar.
A gastronomia é clássica. Mas também é um clássico o Ford T, de Henri Ford, talvez nem tanto pelo carro, quem sabe são os historiadores de carros, mas sem dúvida pelo fordismo e o ritmo e o prumo que daria à modernidade, à produção, à convulsão do trabalho.
O celular é só um telefone que, depois, virou PC, mas clássico realmente foi Thomas Alva Edison, que trouxe a luz para onde só havia o breu. O relógio de pulso está acima de época graças a Santos Dumont, que não podia soltar o manche do 14Bis. Três clássicos num só.
Assim como a TV – e a antes dela o rádio e mais atrás o telégrafo – a Internet, quer seja como invenção de acadêmicos, quer seja como instrumental apropriado militarmente, é um clássico porque sem a rede não haveria nenhum aplicativo. A TV não está na origem da net, mas o sonho pela comunicação livre, sim.
Por isso, sempre podemos ler e reler o Mito de Prometeu (contado por Ésquilo, recontado por Bacon), porque o homem é o resultado do seu trabalho e da necessidade do conhecimento. Aliás, isso já nos dizia Bacon, o filósofo que advogava contra os amigos e que marcou a ciência com o método do empirismo. Para a ciência, antes de Bacon, depois de Bacon. O filósofo ainda sonhou com um Estado dirigido por cientistas, em sua Nova Atlântida. Já se sabia nessa época que “o saber é poder”.
Alguns termos são clássicos, são mais que termos ou expressões, são conceitos. Um deles é o de Modernidade Tardia e por ele podemos pensar o passado no presente(-futuro). Marx não é pós-moderno, trunfo que vale certamente a Lyotard quando publicou seu livro A Condição pós-moderna, em 1979. Todavia, não há algo mais pós-moderno do que a sentença de que “tudo que é sólido desmancha no ar”, proferida em 1848. O clássico 11/09, nos EUA, com a implosão das Torres Gêmeas, nos revelaria isso da forma mais trágica possível. São clássicas a tragédia e a comédia. Você lê Torre, você vê uma Torre. A força da palavra, a comunicação, a linguagem criaram vários clássicos: de Tolstói a Umberto Eco.
Há poucas invenções mais clássicas do que a escrita, definitiva na instauração da própria história da Humanidade e, mesmo agora na época fulgurante da chamada razão imagética, a escrita é encantadora. Sempre discordei da afirmação de que “uma imagem vale mais do que mil palavras” – certamente um clássico – porque sem a escrita não haveria escritura, nossa demarcação na relação espaço-tempo, a começar da imagem retida pelo Daguerreótipo: a primeira máquina fotográfica.Uma Kodak é um clássico. Porém, você não estaria aí, eu não estaria aqui, sem a escrita.
Em todo caso, clássica é a foto de Che Guevara tomando Coca-Cola, o néctar de todos os que vieram depois dos anos 60 – um charuto cubano é impagável. A década sagrada viu Imagine de John Lennon e o apelo sagrado pela paz, pela felicidade humana. Esta música que fala do fim do Estado, não é um clássico? Mas, também não é clássica a construção da Razão de Estado, desde os séculos XV-XVI?
Não importa se aplicam a indução ou a dedução, sempre farão o que for preciso para ultrapassar os limites de todo método, da simplificação de toda visão de mundo. Um toque de clássico é um toque de vida. Não posso utilizar, mas um Ray Ban entra nessa lista.
O Brasil é um clássico
O Brasil é um clássico que produziu utopias igualmente clássicas, como aquela de se crer que no futuro seria a maior potência; afinal, “as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como as de lá”. O país tem uma das sete maiores maravilhas da natureza, as Cataratas do Iguaçu, e ainda boa parcela da Amazônia.Porém, se ainda tivesse as Sete Quedas, que foram por água abaixo, com Itaipu, seria um clássico natural ainda mais fulgurante. Clássicas também são as Pirâmides do Egito, um feito inigualável da engenharia e da arquitetura.
O Brasil tem outros clássicos, como aqueles que nos contaram o que e porquê somos o que somos. É a chamada Geração de 1930. O Homem Cordial é clássico, assim como nosso retumbante Estado Patrimonial. O país ainda tem clássicos que não reconhece, ainda que o mundo letrado bata-palmas de pé: Paulo Freire é só um exemplo.
Em todo caso, para alívio da consciência moral, temos Aleijadinho, que mesmo na condição de aleijadinho pela hanseníase, fez coisas maravilhosas, próximas da perfeição. O Abaporu é o retrato da consciência do povo e Tarsila do Amaral certamente não gostaria que estivesse na Argentina. Alguns clássicos nascem-prontos, porque são tão cheios de graça que basta-nos ouvi-los para saber que vieram para ficar. Veja-se o caso de Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
O futebol tem muitos clássicos e derbies, mas o xadrez tem mais glamour e lógica. NadiaComănecié inquestionável; Pelé é imbatível. O carnaval dentro e fora de época é parte integrante do selo nacional brasileiro, é o próprio carimbo de nossos registros culturais, sexuais e de poder. Mas a carnavalização do poder está remotamente perdida na história mundial.
É claro que o fato de não sabermos de algo ou de nunca termos ouvido falar de alguém não quer dizer que não sejam importantes. O fato óbvio é que fiz algumas escolhas e as enumerei no artigo e, ao falar de gente grande, como são os clássicos, é inevitável que tenha cometido injustiças. Espero que não sejam veniais.
Não o conheci muito bem, mas o Professor Pedrinho, como era conhecido, apreciava muito os clássicos – daí nossa singela oferenda literária.Na memória da família, dos amigos que nos amaram e amarão, sempre seremos clássicos, como o Pedrinho é para os seus.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais
Doutor pela Universidade de São Paulo
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de