Sexta-feira, 21 de abril de 2017 - 20h43
Como hipótese, na questão cabem inúmeras ponderações, para o sim e para o não. Porém, a hipótese realmente é: “As mulheres não leem Maquiavel”. O porquê disto ocorrer é que demanda prós e contras à questão inicial e mais geral. Não vou me deter na diferença entre a exclamação e a indagação porque meu propósito é debater a política e não a lógica presente na ciência especulativa.
Desse modo, esta é uma hipótese e, como tal, pode ou não ser refutada por argumentos sólidos ou por verificação empírica dos fatos e pela análise histórica. Particularmente, gostaria muito de estar errado na formulação desse tema, até anseio para que me mostrem o equívoco da pressuposição inicial. Todavia, sempre para o Mal, a hipótese vai se sustentando.
O Mal, neste estudo preliminar, indica que o realismo político – na base maniqueísta de que na política sobrevivem leões e raposas; não ovelhas – ocupa os fatores que distanciam as mulheres da prática política e, por óbvio, da Ciência Política inaugurada pelo escritor italiano Nicolau Maquiavel – no século XVI do Renascimento.
O centro da questão é o Poder. Sem considerar muitas outras hipóteses presentes na obra e na vida do Florentino, a virtù (no contrapé da análise mais acurada) concorre para a “virtude dos que almejam o poder” ou implica nas “virtudes republicanas”: na tradição de Cícero.
No exemplo concreto – e que se liga à nossa hipótese inicial – homens e mulheres praticam a política todos os dias. Bem como homens e mulheres dedicam-se a (re)ler Maquiavel ao longo de suas vidas. Mas, muitos homens e algumas mulheres praticam os ensinamentos de Maquiavel de formas distintas. A maioria sem o saber.
No maniqueísmo entendem que: 1. O Poder só é “vigoroso” enquanto está dotado de virtù, isto é, na sua forma popular e republicana. 2. O Poder somente é “vitorioso” enquanto temos mais força do que os inimigos.
No primeiro sentido se aplica a Prudência para não errar na dose (transformando-se o remédio em veneno) e assim não fugir à República. No segundo, como um tipo de maquiavelismo, “quem pode mais, chora menos”.
O que há em comum às duas vertentes, bem simplificadamente, é que na política não há sobrevivência sem que se aja como leão ou raposa, dependendo das circunstâncias reais, concretas, efetivas do jogo de poder.
O único idealismo cabível acomete à primeira das interpretações. Afinal, o que é República? O fato é que, mesmo aqui – se o objetivo é a sobrevivência –, não se deve refutar os ardis e os meios da astúcia, do engodo e da força bruta.
Maquiavel não era platônico e sabia perfeitamente que não se defende a República – as “boas práticas políticas” – apenas com sonhos. Em resumo, talvez pudesse dizer que os bons sonhos devem guiar as boas armas.
Talvez seja por isso que as mulheres não leem Maquiavel, porque não gostam de armas e do que elas produzem. Por derradeiro, no entanto, é preciso ter a certeza de que a política inegavelmente produz suas armas – também não gosto de muitas delas – ou, ao contrário, trata-se de uma política produzida pelas armas que mais odiamos. E este é o exato momento em que nos encontramos: sonhos despedaçados e armas inadequadas.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de