Quinta-feira, 6 de junho de 2013 - 10h50
O que dizer para seu filho, seu amigo ou visitante que vem de longe, para te ver em São Paulo, o Estado mais rico do Brasil, quando se deparam com a informação de que professores passam fome? Como é que você consegue pensar nesse ridículo, de um professor receber 50 reais por mês? Um analfabeto funcional ainda me disse que o cara é substituto e por isso é um escravo da educação – só assim mesmo para ser escravo do conhecimento.
O que temos de saber é que se um professor, não importa sua titulação ou carga de trabalho, ou vínculo funcional, ganha 50 reais por mês, isso nos dá uma boa ideia do que o governo do Estado reserva para o conjunto dos trabalhadores em educação pública. Se houvesse um real interesse em educar o seu povo, é obvio, qualquer analfabeto funcional sabe disso, não se pagaria 50 reais a nenhum professor, por mais miserável que ele fosse. Ora, ainda insistiu o analfabeto funcional, o professor só deu poucas aulas. Então, seu analfabeto funcional, se o professor deu poucas aulas é porque o trabalho é extremamente precário, sem valor-social agregado, sem significado político para este governo.
Se quisessem um Estado mais decente, com educação, a princípio, não teriam professores com contratos indignos, como indigentes, favelados e ainda à espera de uma esmola. Um cavalo, para ser adestrado, tem uma hora trabalhada muito mais cara do que os 50 reais pagos ao professor para ensinar crianças pobres. Depois ainda se diz que não há relação entre miséria humana, educação de Lombroso e o atual estado de barbárie social? Penso que nem mesmo o domador de cavalos pensa assim, afinal, sem técnica nem o cavalo fica dócil – o domador sabe que não se bate mais nos animais – aliás, é crime. “Heitor o domador de cavalos”, na Grécia antiga, já sabia disso – como nos contou Homero. Mas não é crime deixar os filhos pobres dos trabalhadores terem aulas com um professor que ganha 50 reais por mês. Meu último livro, na Internet, custa mais do que o salário desse infeliz.
Mas, diga-me, você ficaria indignado ou com vergonha desse país ao ler esse tipo de notícia? O Brasil precisa começar do zero, tudo de novo, mas com um pouco mais de vergonha. Chega de gente sem-vergonha governando e mal educando os filhos dos trabalhadores. Queria muito ver os filhos do secretário de educação e do próprio governador (que é quem dá as diretrizes ideológicas do governo) matriculados na escola do professor faminto. Nem a Escolinha do Professor Raimundo teve um personagem tão aniquilado como este: a educação está esquálida porque as elites importam os cérebros de que necessitam. Não passam aperto, mandam buscar nos países em que os jovens são educados e não passam fome – já fizeram isso quando éramos Colônia, no que se chamou de bacharelismo. Você conhece alguma receita para melhorar a desgraça moral em que o país está?
Por isso, defendo uma greve constante. Em sistema de rodízio, todo dia, uma escola, em um determinado município, abriria seus portões para se debater a condição da educação no Estado. Professores, alunos, convidados e autoridades (as que, é lógico, aceitassem o debate) passariam o dia na escola, procurando entender porque a educação dos pobres é tão desprezada. Será que o governo do Estado (depois poderia ser nacional) aguentaria essa vergonha nacional? Os sindicatos fariam a organização pelo Estado todo: os municípios poderiam ser sorteados, de tal forma que no início do ano cada um saberia quando entraria em greve. A entrada seria franca, mas condicionada ao uso de uma tarja preta, em luto contínuo. O luto pelos mal educados!
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais
Doutor pela Universidade de São Paulo
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de