Quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016 - 15h06
Não apenas falamos coisas diferentes, como vemos outra realidade bem distinta. Queriam a segurança privatizada, ela foi. Queriam o ensino superior privatizado em São Paulo (e no “brasil”) e este foi. Queriam rodovias privatizadas, elas foram dadas. A segurança é um lixo; quem pode, paga a sua.
Os salários dos soldados é miserável, exatamente, para que não funcione; é tão baixo que chamam de soldo. O ensino superior privado, tirando a PUC – que é confessional e tem outro modelo de “privado” – é um exemplo perfeito: não sabem nem soletrar “ciência e pesquisa”. Os alunos mais educados dizem assim: “sabe quem paga o seu salário, professor(a)?”.
As rodovias foram construídas com dinheiro público, depois doadas a troco de dinheiro para o caixa das campanhas seguintes. A telefonia foi entregue, mas com o custo de 150 milhões apenas para o interlocutor. As leis trabalhistas, para esses, é um cotovelo na civilização. Há vários projetos que flexibilizam a leitura do “trabalho escravo”. Vejam bem, leitura, não feitura. Essa deve ser livre e solta.
Aliás, a exploração do trabalho escravo não constaria mais do Código Penal. Curiosamente, são os mesmos que propõe privatizar a Petrobrás. A bola da vez é a Shell? Todo mundo sabe, especialmente os proponentes do mais “novo” nível de moralidade pública para o país. As universidades públicas federais são as próximas: afinal, para que conhecimento num país de bananeiras e aedes?
As reservas ambientais são um entrave? Muda-se o Código Florestal (além da PEC 215) para que o desmatamento não seja mais considerado crime ambiental. Por que não privatizamos a Floresta Amazônica? Já está loteada mesmo, dirão os mais entusiastas. Todos esses projetos são do mesmo grupo de poder: Bancada BBB (+ bancos).
O que também não se quer neste país, especialmente os bem-nascidos e prósperos de poder, é tornar o Estado o que deve ser, ou seja, um ente/agente público. Mas, como não se vê que o “brasil” sempre teve um Estado privado – a serviço dos mesmos –, sempre e sempre, mais e mais, temos em conta algo a mais para abocanhar.
O raciocínio privatista segue a linha de que vendendo, privatizando, loteando as empresas públicas, a corrupção irá diminuir. Logo se vê que a culpa da corrupção é do público e não do privado, que compra os lotes de privilégios e de benfeitorias diretamente do poder público. Também podemos chegar a uma conclusão interessante, juridicamente; pois, em um paralelo, dá para dizer que se o filho comete crimes, os pais devem “pagar” por ele.
Sem dúvida essa lógica empresarial da justiça é um grande remédio para a cultura da corrupção que se tem no país. Na verdade, ensaiamos algo assim com a famosa Teoria do Dolo. E, neste caso, os mesmos BBB’s, certamente, devem acordar que sonegação e evasão de divisas, bem como os monopólios privados (Globo etc), não são condenáveis.
No nível anímico da questão, há quem pense em privatizar o Judiciário: o Legislativo nunca deixou de ser e o Executivo alterna posições. A única parcela de sociedade que não privatizamos é a que responde por miséria humana: ninguém quer. Por isso, fico aqui imaginando, por fim, porque não desprivatizamos a República... é que a lógica pública não me permite entender de outro modo. Essa República Privada é o selo da Ciência Política nacional para o mundo. Realmente, temos um país de inventores. Todos são gênios, menos o povo esfolado em seus direitos.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de