Terça-feira, 19 de maio de 2015 - 14h01
Voltamos, em definitivo, à Idade Média: o fascismo agora quer banir a ideologia. Como se o fascismo não fosse a origem da pior ideologia do século XX (nazismo) e que tanto nos atormenta.
Pois bem, defender o Estado Laico, destacar a estrutura de classes sociais, a opressão do coronelismo (de gravata ou chibata), defender espaços paras minorias, bem como acusar o machismo, o sexismo e a intolerância racista, ou racismo escancarado, o desempenho fascista das elites nacionais (e internacionais), a guerra civil que mata negros e pobres, a batalha perdida para a corrupção endêmica e para o crime organizado, na modernidade tupiniquim, agora será crime.
E com pena prevista de até um ano e três meses de prisão.
O autor do projeto, deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN), coordenador da bancada tucana na Comissão de Educação da Câmara, declara solenemente que professor não é doutrinador e que os doutrinadores devem ser banidos do ensino público. De imediato, todas as faculdades de direito, seguindo esta lógica, deveriam ser fechadas; pois, só se ensina à base de manuais e de doutrinadores.
Outra pergunta que faria ao nobiliárquico deputado é se os clássicos da Humanidade são ou não doutrinadores? Quer dizer que não poderemos mais falar (ensinar) sobre Marx (comunista) e Del Vecchio (fascista) – no direito e nas ciências sociais? Quer dizer, acabou de vez a disciplina de Hermenêutica Jurídica.
Tenho a impressão de que nem a ditadura chegou tão longe, ao querer banir as ideologias. Na verdade, a cada dia fico mais estupefato (e não deveria) com a capacidade política e cognitiva nacional; confesso nunca ter imaginado que alguém pudesse pensar em banir as ideologias. É notável o ensinamento que o deputado nos traz; mas, mais notáveis devem ter sido seus mestres na política (será o Príncipe da Sociologia?). Porque, os seus professores de fato devem ter profunda vergonha do resultado final.
Lembro-me de uma professora do ensino fundamental (não minha, por sorte) que ostentava em sala de aula bandeirolas com duas mãos entrecruzadas: uma brasileira e outra estadunidense. De acordo com este brilhante juízo, esta senhora iria para o calabouço juntar-se a Fernandinho Beira-Mar e Marcola?
Por analogia, serão presos os militares que defenderem o militarismo nas escolas de formação? Os padres e pastores que professem o cristianismo (visto que não há prova cabal dos mistérios de Cristo) devem ser presos, até que revoguem seus ditos e votos? Vamos condenar, novamente, Giordano Bruno e Galilei Galileu? Os políticos profissionais que declinem as benesses ideológicas de seus partidos (ou nações econômicas) devem ser banidos da política, assim como os professores chutados como cachorros? E a ideologia burguesa, quem vai trancafiar os burgueses?
Penso que deveríamos ter uma lei condenando ao voto de silêncio absoluto e perpétuo todos que proliferarem imbecilidades. Até, pelo menos, que comprovem ter lido a coleção inteira de Os Pensadores – pode ser a edição publicada pela Editora Abril.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de