Sábado, 14 de novembro de 2015 - 13h50
Os atentados em Paris, ontem, já tiveram a autoria assumida pelo Estado Islâmico (EI). Pode não passar de coincidência que tenham ocorrido na sexta-feira 13. Por outro lado, pode revelar o quanto estamos fanatizados neste breve século XXI – inclusive para temer toda sexta/13.
De qualquer modo, muitos se perguntam – e eu também – como pode ocorrer tanta violência e barbaridade aleatória contra civis indefesos. Foram mortos violentamente mais de uma centena de pessoas; se os gravemente feridos vierem a óbito o número pode chegar a duas centenas.
Pois bem, quando se trata do EI, nenhuma barbárie é suficiente. Seu fanatismo não tem limites. Mas, o que é fanatismo?
Ao invés de buscar explicações conceituais, definições de dicionários, usarei do paralelismo, da metáfora e da comparação.
Antes, porém, cabe uma explicação inicial: o fanático, seja de que tipo for, não mede as conseqüências dos seus atos. Não se sente responsável pelos meios que emprega para obter seus fins – desde que chegue ao resultado desejado. O fanatismo, como veremos, é um desejo incontrolado e, obviamente, irrefletido. Muito mais do que 10% da população mundial estão nessa descrição; e não apenas os psicopatas.
Assim, imaginemos convencer um soldado mercenário – das múltiplas nacionalidades –, em luta direta contra o governo Sírio, de que suas ações são ilegítimas e que eles deveriam abandonar o campo de batalha e voltar para suas casas.
Tentemos convencer um soldado estadunidense, regularmente engajado, de que ele não pode bombardear um hospital cheio de feridos, idosos, mulheres e crianças, “só” porque recebeu ordens absurdas.
Se não fosse por tratamento prolongado e com muita determinação, quem convenceria o jogador compulsivo a não destruir seu patrimônio e arruinar sua família?
No mesmo sentido: o que move um sujeito a roubar verba pública destinada a comprar merenda escolar, água para indígenas que morrem com a sede, remédios urgentes em hospitais públicos?
Por que alguém deseja ser a pessoa mais rica do mundo ou do Brasil, sabendo-se que nem em 10 vidas conseguiria gastar ou usufruir de sua(s) fortuna(s)? Não será terrorista a política econômica que condena milhões à indigência, à morte social e física, enquanto o sistema financeiro tem bilhões de lucros reais?
Como incutir na certeza na cabeça do operador da Bolsa de Valores de que, devido às suas ações especulativas, milhares de pessoas sofrerão com a indignidade humana, a miséria e a morte prematura?
É normal ser viciado por sexo? Ter compulsão por trair os(as) parceiros(as) é um dado cultural do machismo? Qual a diferença entre machismo e fanatismo?
Uma nação, um povo, uma classe social ou um sujeito que quer conquistar o mundo são motivados por quais ideais?
Precisamos comprar celulares todos os anos ou meses, para nos sentirmos atualizados? Alguém é capaz de falar em três celulares ao mesmo tempo? Quem dirige três, quatro carros concomitantemente? Se é certo “beber e não dirigir”, por que razão alguns bebem loucamente, dirigem barbaramente e se glorificam por seus atos?
Então, será que apenas as ações do EI são motivadas pelo fanatismo? Qual a diferença entre fanatismo e idealismo?
O fanatismo, portanto, pode ser movido tanto pela religião, quanto pelo sexo, poder ou dinheiro. O terrorismo pode ser religioso, social, militar, estatal, político, econômico, cultural ou ter motivação mesquinha.
O ato terrorista pode ser de um lobo solitário, uma nação, um povo esquecido no deserto, um secretário de defesa, um empresário que elimina milhares de pessoas para obter mais lucros, um desejoso de poder ou um cidadão dito “normal” que aspira à soberba do dinheiro e do sexo.
Depende de quem olha e para onde olha. O problema é que o fanático só olha para onde quer ou para onde está programado a ver.
Enfim, há muito mais fanatismo entre o Céu e a Terra do que a vã (in)consciência nos permite ver.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos
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