Segunda-feira, 29 de julho de 2019 - 08h44
Já se viu muita notoriedade nesse país, mas, até o
presente momento, desconheço alguém que tenha gravado – fractalizado – sua
opinião a favor do escravismo. Há, é certo, um precedente do dirigente máximo
da CIESP propondo comer com uma mão e operar a máquina com a outra, bem como
regular o horário de almoço em 30 minutos.
Mesmo que seja um marco regressivo no processo
civilizatório que se apossou do país, entre 2013-2019, penso que a CIESP é
inferior à proposta da jornalista Nathalia Arcuri – youtuber financista dona do
canal “Me Poupe” –, quando defendeu o trabalho grauito aos desempregados.
Diz, claramente, a dominadora (abres aspas, fecha
aspas): “Você vai ligar para o seu amigo, sua amiga, uma empresa que você
conhece aí perto de você e vai se oferecer para trabalhar nestas quatro horas
de graça”.
A sugestão do trabalho gratuito (não confundir com
voluntário), quando se presume a recompensa de um mimo qualquer – seja uma
camisa ou camisinha, a troca de um PF por outro favor sexual ou o prêmio catado
no resto no lixo, a roupa velha e furada, uma bituca de cigarro ou o maço
inteiro –, não me permite pensar em nada decente.
Reforço a certeza de que o país perdeu o sentido do
Belo, do Justo, do Bom, e também perderá as riquezas naturais, as reservas –
ambientais, econômicas, morais, intelectuais –, o mínimo poder de representação
e de negociação (legitimação), e altivez, que já teve.
Esqueci alguma coisa? Talvez a Casa Grande, o
escravismo, a "jumentude brasileira", a idiocracia, o fascismo. Será?
Isto me reforça o peso de pensar que é muito mais
grave esse “cio da cadela do fascismo” (Brecht), como uma cegueira pestilenta
que nos açoita diuturnamente. Como uma asquerosa Cegueira da Peste Medieval.
Vale uma analogia para quem
"acha" que podemos atropelar o Estado de Direito só um pouquinho, em
nome de uma cura para a corrupção. Ei-la: imaginemos uma cidade atacada
por uma moléstia grave. Sem cura definitiva, há um só tratamento temporário que
alivia sintomas, enquanto ainda não se produza um remédio efetivo e uma vacina
depois. O problema é a taxa de óbito elevada, porque não é a medicação
específica.
Nesta cidade há dois grupos:
médicos de verdade e salvadores. Os médicos insistem em pesquisas, campanhas de
conscientização, profilaxia dos bairros, seguros dos padrões científicos. Os
salvadores querem isolar os doentes, sem comunicação, à espera de uma morte
quase certa.
Os médicos salvam muitos, são
rigorosos e seguros dos limites colocados pelo juramento de Hipócrates. Os
salvadores querem medidas rápidas, de baixo custo, e são seletivos ao prender
sob a mínima suspeita de contágio. É assim que vejo o país: não tem fim a
história do racial-fascismo. Vivemos um mix de Ensaio sobre a Cegueira
(Saramago) e A Peste (Camus).
Por isso tudo, só tenho uma
certeza na vida: “O único vermelho
de que não gosto é o da conta bancária”. Certeza!! Vermelho é o sangue da vida.
O resto é fantasia verde-amarela.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência
Política e em Direito)
Professor
Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Departamento
de Educação- Ded/CECH
Programa de
Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS
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