Terça-feira, 11 de junho de 2013 - 05h01
Toda Educação deveria ser escrita em maiúsculo. Porque aEducação faz milagres. A Educação também faz o óbvio, que é educar. Educação vem de “educare”, que é criar, fazer crescer; por isso, etimologicamente, condiz com aquele sujeito e processo que “trazem à luz a ideia”, que “afloram a essência”, que “efetivam a potência (do conhecimento) em ato (de aprendizagem)”.
Eu sou um desses milagres, se pensar que cursei até o quarto ano do primário (hoje se chama fundamental), entre idas e vindas de hospitais públicos, estando fisicamente nas salas de aula não mais do que dois ou três meses por ano. Ainda me vejo com algum déficit daquele período, porque a formação de base esteve longe do ideal. Mas, se hoje consigo escrever e você me lê, com razoável compreensão e sem erros tão crassos, é porque a Educação fez seu papel.
É claro que quando falo em Educação, ao menos neste artigo, refiro-me a um processo integral que compreende o ensino formal, mas também o que aprendemos na família e nos grupos sociais a que estamos inseridos por toda nossa vida: no trabalho, na política, nas relações sociais. Assim, nos momentos subsequentes à minha fase irregular de aprendizado formal, outros fatores foram decisivos. As “aulas” de reforço eram muito mais de esforço, do que de outro tipo.
Ao que me lembro, a coisa se dava na raça, como se diz. O que tive, com certeza, foi apoio e estímulo familiar para completar meu desenvolvimento. Nesta fase, lembro-me de ter tido algumas aulas em casa, quando professoras abnegadas e amigas de minha mãe se dispunham, graciosamente, gratuitamente, a me ensinar o que não pude compartilhar com os colegas, por estar sempre em recuperação médica. Conheci uma segunda fase de grande crescimento por uns dois anos, na universidade, porque encontrei alguns bons professores e porque a teimosia em aprender era grande. A idade também ajudava, com a memória fresca.
Depois, aprendi a escrever, escrevendo, quando tive meu primeiro emprego exatamente na redação do Jornal da Manhã e, em seguida, quando mantive uma coluna em outro jornal por mais de cinco anos, com publicações semanais. Nos primeiros textos demorava uma semana. Simplesmente estava bloqueado com a ideia de que iria me expor publicamente. É como se tirasse toda a roupa no meio da avenida. Enfim, aprendi. Mas, com a ajuda preciosa de muitos amigos dentro e fora do jornal – e graças à teimosia que herdei do meu pai.
Outra fase singular de aprendizado e de auto realização fui ter no primeiro doutorado, na Universidade de São Paulo. Novamente, o meio favorecia em tudo, o contato com pessoas da melhor qualidade moral possível e com enorme capacidade intelectual e disposição para ensinar. Hoje, depois de tantas teses e dissertações (já são seis) só tenho disposição para ler e escrever o que me agrada. Não suporto mais qualquer tipo de obrigatoriedade ou ingerência nessa área.
Hoje, mais do que nunca, trata-se de auto-educação, em contato com muitos, mas por mero prazer em fazer o que mais gosto: ler e escrever. Vou dar um exemplo dessa auto-educação: lembrando-se que quase não fiz as séries iniciais, porque sempre estava engessado, é claro que nunca imaginei que um dia viesse a ler O Fausto de Goethe, nas duas versões (no Fausto Zero também) e Doutor Fausto, de Thomas Mann.
Sou um colecionador de obras e de autores que se dedicaram a narrar esta lenda do Renascimento, dos tempos de Shakespeare e deMarlowe. Talvez não tenha todos os livros ou histórias contadas, seria pretensão demais, mas comprei e li tudo que já encontrei, incluindo a primeira versão – apócrifa – e narrada por populares (ou, como dizem, pelo próprio editor da época). A última que contemplei é a versão de Renato Vianna, A Última Encarnação do Fausto, dramaturgo contemporâneo da Semana de Arte Moderna, de 1922. Há uma história contada por Machado de Assis – e é claro que não enumerei aqui todos os que a abordaram. Enfim, quem sabe que história é essa ou que já se dispôs a ler Goethe e Mann, sabe perfeitamente como a Educação é milagrosa, a começar deste pequeno milagre que contei.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor pela UNESP/SP
Doutor pela Universidade de São Paulo
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de